Em quase todo primeiro mandato do ex-presidente Lula, muito antes do inesquecível bordão "nunca antes na história deste país", um mantra marcou sua administração: o da "herança maldita" deixada pelo presidente anterior.
Foi em torno dessa pretensa "herança maldita" que seu governo manteve a equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso, preservou os pilares macroeconômicos do país, e ainda levou Henrique Meirelles, do PSDB de Goiás, à presidência do Banco Central.
Quando no segundo semestre de 2008, a partir dos Estados Unidos, sobreveio a crise financeira que paulatinamente tomou de assalto as economias de todo mundo, no Brasil, a primeira reação do então presidente Lula foi a de afirmar que ela não passava de uma "marolinha", e adotou, como resposta, uma política de incremento de consumo, via aumento de crédito.
Essa política deu certo, sustentada pelos sucessivos superávits da venda de commodities, sobretudo para a China.
Com o agravamento da crise, sobretudo na Zona do Euro, vivemos hoje as consequências daquela sandice consumista, sem o contraponto das necessárias reformas que possibilitariam, sobretudo, à indústria armar-se para o acirramento da concorrência internacional.
Ao assumir o governo, a presidente Dilma encontrou todos os indicadores macroeconômicos apontando para o agravamento da crise, cada vez mais internalizada, com sinais inequívocos de "desindustrialização", com perda da capacidade de investimento, inovação e competitividade, de um lado, e do outro, o crescente endividamento das famílias, para além de sua capacidade de financiamento, com perda da capacidade de consumo.
Some-se a isso, um "arranjo político" levado a cabo por Lula, entregando os ministérios à administração direta dos partidos da base aliada que conseguiu construir, pós-Mensalão, com inequívoca perda de eficiência gerencial e umalarmante incremento da corrupção dentro da própria estrutura do Estado, atingindo todas as áreas do governo.
Um exemplo disso são as obras do PAC, da Copa, Olimpíadas, e a administração das estatais, como a Petrobras, que se tornou presa de interesses inconfessáveis, perdendo capacidade de concorrência por ter que carregar uma proposta de política industrial insana, de nacionalização a qualquer preço de seus insumos, com o crescimento de seus custos na aquisição de produtos muito longe de oferecerem a requerida qualidade.
As mudanças recentes nos ministérios e emalgumas estatais, notadamente na Petrobras, são sinais claros de uma operação de desmonte daquele "arranjo político" que Lula deixou, e de uma busca por eficiência administrativa e gerencial, no momento em que os indicadores econômicos apontam para uma diminuição significativa do PIB e crescente dificuldades de alavancar os investimentos.
Essa atual cruzada contra os exorbitantes ganhos dos bancos, como matéria de propaganda pode ser muito interessante, mas as causas de nossa relativa dificuldade na área econômica estão muito longe de ser uma simples questão de juro, como nos que fazer crer a presidente.
A verdadeira causa é o pesado fardo de uma herança que carregamos até agora, graças as artes de um esperto e demagogo propagandista.
Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS
FONTE: BRASIL ECONÔMICO
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