A meta de crescer 4,5% neste ano é inviável porque chegamos à barreira do PIB potencial da economia
Um dos conceitos mais polêmicos sobre as economias de mercado -aceito por muitos como uma verdade absoluta, questionado por outros como o ex-ministro Delfim Netto- é o do chamado PIB potencial.
A existência de um teto de crescimento que a economia de um país tem, a cada momento na sua história, me parece ser algo intuitivo para quem acompanha o dia a dia dos mercados.
Afinal, como explicar o aparecimento de problemas conjunturais diversos após um período mais longo de expansão de economias tão diferentes e espalhadas pelo mundo todo? Recentemente, tivemos exemplos desses sinais de esgotamento da capacidade de crescimento nos Estados Unidos, na China, na Índia e na Austrália.
As tensões no tecido econômico que aparecem nesses momentos podem ocorrer no campo da inflação, no mercado de trabalho, na deterioração das contas externas e, em casos-limite, com o aparecimento de bolhas especulativas em mercados de bens ou de ativos financeiros.
Em alguns casos, a ação do governo, principalmente por meio da política monetária dos bancos centrais, consegue desacelerar o crescimento antes que as tensões conjunturais citadas se transformem em desequilíbrios estruturais mais graves. Em outros, por razões variadas, não ocorre a ação preventiva dos governos, e a expansão continua até que certos limites sejam atingidos e a situação de crise sistêmica se instale na economia.
Dois casos recentes merecem ser lembrados. Nos EUA, em 2008, chegamos à ruptura por causa da crise no mercado de hipotecas; em 2011, na China, um processo semelhante foi abortado pela ação decisiva e dura das autoridades do governo.
Nos EUA, luta-se até hoje para recuperar o crescimento econômico abortado pela ruptura da bolha imobiliária, enquanto no gigante asiático as autoridades conseguiram desinflar os preços das casas sem que houvesse uma situação de pânico e quebra de bancos.
A diferença entre esses dois exemplos polares fica por conta da capacidade dos governos de identificar os limites estruturais atingidos em certos mercados e agir rapidamente para evitar o pior.
A identificação dos limites de crescimento de uma economia de mercado, sejam eles setoriais, sejam para toda a economia, é uma ciência mais intuitiva do que quantitativa. Os sinais de que se está atingindo o potencial de crescimento são tênues e podem aparecer em diversos segmentos da economia. Para ter sucesso nessa missão -além dos talentos individuais dos responsáveis pela gestão de uma economia nacional-, é necessário que se acredite na existência desses limites. Eu, definitivamente, acredito.
Certamente essa crença não é partilhada pela presidente Dilma e por sua equipe econômica. Por isso a insistência, mais uma vez, em que o Brasil vai crescer a taxas semelhantes às que ocorreram nos oito anos do governo Lula. Isso não é possível porque as forças que agiram naquele período não mais estão ativas na economia hoje.
Em outras palavras, a meta de 4,5% para este ano é inviável porque chegamos à barreira do PIB potencial da economia brasileira. O mesmo ocorreu no ano passado e, certamente, vai ocorrer em 2013 e em 2014 se não houver o entendimento de que, nas condições estruturais atuais do Brasil, crescer de 3% a 3,5% ao ano é o nosso limite.
Ao insistir em números mais elevados, o governo pode transformar uma vitória -crescer por vários anos a uma taxa de 3,5%- em uma derrota caso suas promessas não sejam cumpridas.
Se o Brasil crescer nos próximos anos a essa taxa-limite, a presidente Dilma chegará ao término de seu governo com um país mais rico e mais justo, com índices de popularidade nas alturas e com grande chance de renovar seu mandato.
Por outro lado, se tentar turbinar a economia com medidas artificiais para chegar a números mais robustos de crescimento do PIB, poderá criar tensões conjunturais e estruturais graves, que acabarão por levar para baixo o crescimento, além de criar o risco de desequilíbrios mais sérios em alguns segmentos dos mercados.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 69, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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