Encerrada a campanha municipal, a hora é de assumir e construir a
candidatura presidencial do PSDB. Assim pensam a maioria da direção e seu
provável candidato, o ex-governador, ex-presidente da Câmara, atual senador e
líder da oposição Aécio Neves. As eleições de 2012 foram o evento, dos últimos
anos, de melhor efeito político para Aécio. Nunca antes havia desenvolvido, com
o atual traquejo, por pensamentos, palavras e obras, sua veia oposicionista.
Apesar de ter êxito como cabo-chefe da campanha eleitoral de um prefeito aliado
ao governo federal, Marcio Lacerda (PSB), de Belo Horizonte, numa disputa ali
vitoriosa no primeiro turno, pela primeira vez, o PT facilitou sua mágica ao
romper com o PSB e lançar candidatura concorrente.
Do discurso ao enfrentamento, das iniciais de um projeto à obsessão pelas
alianças, inclusive abrindo mão da sua própria legenda para favorecer aliados
melhor situados, Aécio praticou oposição, desta vez. Andou país afora, foi ao
Sul, ao Nordeste, ao Norte, chamou para a briga a presidente Dilma e o
ex-presidente Lula. Revidou ironias, acusou-a de ter subtraído a Minas Gerais
(Estado natal da presidente) R$ 400 milhões por ano com o veto ao aumento dos
royalties do minério, apontou equívocos em sua atuação política e
administrativa. O senador criticou-a por ter colocado o governo a serviço do
partido e por haver contestado interpretação do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do mensalão. Nenhum tema considerou delicado ou proibido, como
considerava antes.
Para Lula, sobrou o epíteto de "líder de facção". "O lulismo,
da forma como existia, não existe mais", decretou. Aécio considerou Dilma
uma "estrangeira" em Minas, e quando se apresentou como mineira,
ironizou no palanque perguntando onde mesmo ela tinha domicílio eleitoral, no
momento em que já viajava ao Rio Grande do Sul para votar.
Aécio Neves estreou na oposição na campanha municipal
Em artigos na "Folha de S. Paulo", Aécio fustigou o governo e
desprezou o que foi avaliado como sucesso da presidente. Em um dos últimos
tratou da questão ética a partir da renúncia do ex-ministro do Supremo Tribunal
Federal, o mineiro Sepúlveda Pertence, à presidência da Comissão de Ética
Pública, por insatisfação com a falta de apoio da presidente: Dilma puniu com a
não renovação do mandato os conselheiros que recomendaram afastamento de
ministros por suspeita de corrupção.
"Alguns pretensos avanços propagados pelo governo Dilma Rousseff não se
concretizaram. A faxina ética é uma delas. Não se conhece providência efetiva para
as graves denúncias que derrubaram um número recorde de ministros. Os problemas
continuam - obras e projetos inacabados, orçamentos multiplicados a esmo,
benevolências de toda ordem para alguns grandes grupos econômicos",
escreveu.
A mistura entre o público e o partidário e a prevalência das causas de um
partido - o PT - sobre os interesses de Estado, são outros destaques do novo
discurso de Aécio Neves.
Para o PSDB não há mais dúvidas de que o senador é o candidato do partido à
Presidência da República, com ação e discurso testados na atual campanha. O ano
de 2013 será dedicado à formulação das teses, projetos e estratégias. O
critério de prioridade absoluta às alianças é o primeiro na lista de cláusulas
desde já pétreas.
Os balanços que o presidente do PSDB mineiro, o deputado federal Marcus
Pestana, tem feito sobre o desempenho do partido na campanha municipal deste
ano já considera como vitória de Aécio tudo o que não for o PT, o PCdoB e uma
parcela minoritária do PMDB de Minas. Todos os demais estavam de alguma forma
associados a ele. O PSDB até reduziu o número de prefeitos eleitos do partido
porque Aécio abriu mão a favor de aliados. É o que chamam por lá de
"cultura aliancista" de Aécio.
O projeto nacional contará com isso em primeiro lugar. Em segundo lugar está
a formulação do discurso e programa. No Senado foram feitos alguns ensaios,
embora ainda tímidos. Aécio se manifestou, por exemplo, contra o Regime
Diferenciado de Contratação (RDC) e fez a defesa de uma privatização
transparente. O senador vem sublinhando, para definir-se contra, algumas
características que considera marcantes do governo do PT, como o aparelhamento
do Estado.
Deixou de restringir iniciativas de auxiliares sempre mais aflitos com a
demora em praticar uma oposição mais firme e assumir a candidatura. Aécio
alegava, e já não alega, que na escola de seu avô Tancredo Neves não se fica
muito tempo exposto para não ser o único alvo. As equipes já se sentem
liberadas para iniciar o trabalho de construção de uma agenda. Aécio já esteve
em uma reunião, convocada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com
Armínio Fraga, Pedro Malan, Edmar Bacha, André Lara Resende, para dar início ao
debate interno. Saiu de lá satisfeito.
O presidente do PSDB de Minas, Marcus Pestana, começará a reunir ideias que
vem colhendo no partido e entre intelectuais e estudiosos para apresentar ao
presidente do PSDB, Sérgio Guerra, ao próprio Aécio e ao presidente do
Instituto Tancredo Neves, Tasso Jereissati, o que vem chamando de
"readequação programática". A partir disso, na melhor tradição dos
partidos social-democratas europeus, o PSDB faria a mobilização municipal,
estadual e nacional para a elaboração de um regimento orientador do congresso
nacional do partido, a ser convocado, e nele ungir o candidato.
O PSDB quer elaborar um programa para "empolgar a sociedade", é a
intenção. O passo seguinte será enfrentar o maior problema do Aécio, que é
tornar-se conhecido no Brasil. Para isso, o congresso partidário definiria uma
estratégia de comunicação e mobilização. Essa, provavelmente, é a questão
fundamental entre todas, porque embute solução para um dos problemas mais
visíveis das campanhas hoje: o da linguagem, pior que o de financiamento,
muitas vezes. As campanhas perderam a espontaneidade, a fronteira ideológica, o
concurso de intelectuais e pensadores e enfrentam, desde as últimas, uma
questão insolúvel considerada grave, a dos evangélicos.
Nenhum partido político resolveu o que fazer com a Igreja que virou grupo
eleitoral, tem bancadas fortes e numerosas no Congresso, tempo de televisão e
templo para orientar votação. Um problema-fenômeno que se impõe.
Fonte: Valor Econômico
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