O PT sabe avançar na agenda alheia, mas, desde 2006, a oposição,
petrificada, prega para os convertidos
Faltam poucos dias para o desfecho da eleição municipal e são fortes os
sinais de que o PT terá o que comemorar. Qual a explicação para o desempenho
dos companheiros se a economia vai devagar, quase parando, e a cúpula do
partido de 2005 está a caminho do cárcere?
Aqui vai uma tentativa: desde 2002, quando Lula assinou a Carta aos
Brasileiros e venceu a eleição incorporando pilares da política econômica de
Fernando Henrique Cardoso, o PT move-se livremente sobre o campo adversário
(quem quiser, pode dizer que ele vai à direita, mas essa imagem é
insuficiente).
Já a oposição, petrificada, não consegue sair do lugar. Em alguns momentos,
radicaliza-se, incorporando clarinadas do conservadorismo europeu e americano.
O tema do aborto, do "kit gay" e a mobilização do cardeal de São
Paulo ao estilo da Liga Eleitoral Católica dos anos 30, exemplificam essa
tendência. (Registre-se aqui a falta que faz Ruth Cardoso. Com ela, não haveria
hipótese de isso acontecer.)
Admita-se que o eleitorado se divide em três fatias. Uma detesta o PT e tem
horror a Lula. Outra, no meio, pode ir para qualquer lado. O terceiro bloco
gosta de Nosso Guia e não se incomoda quando ele pede que vote em seus postes.
Se um bloco se move e o outro fica parado, sempre que houver eleição, o PT
prevalecerá.
Some-se à paralisia da oposição uma ilusão retórica. Desde 2010 suas
campanhas eleitorais estruturam-se como pregações aos convertidos. O sujeito
tem horror a Lula, ouve os candidatos que o combatem e fica duas vezes com mais
raiva. Tudo bem, mas continua tendo apenas um voto. Já o PT segue uma
estratégia oposta. Sabe que os votos de esquerda vêm por gravidade e vai buscar
apoios alhures.
A crença de que o julgamento do mensalão seria uma bala de prata para a
oposição revelou-se falsa. Já as crendices petistas segundo as quais o Supremo
se tornou um tribunal de exceção ou que o impacto de suas sentenças seria irrelevante
são um sonho maligno.
As condenações podem ter sido eleitoralmente insuficientes para derrotar os
companheiros, mas não foram irrelevantes. O PT deve prestar atenção à voz do
Supremo, pois a corte não é uma mesa-redonda de comentaristas esportivos. Ela é
o cume de um Poder da República.
Eleição não absolve réu, assim como o Supremo não elege prefeito. Se Lula e
o PT acreditarem que o eleitorado respondeu ao Supremo, estarão repetindo o
erro dos generais que viam nos resultados dos pleitos da década de 70 uma
legitimação indireta do que se fazia, com seu pleno conhecimento, nos DOI-Codi.
O comissariado deveria ter a honestidade de admitir que acreditou na
impunidade dos mensaleiros. Resta-lhe agora o vexame de reformar o estatuto do
partido, que determina a expulsão dos companheiros condenados em última
instância.
A oposição tem dois anos para articular uma agenda que lhe permita avançar
sobre a plataforma petista. Ela não precisa se preocupar com a turma que
detesta Lula, essa virá por gravidade, assim como os adoradores de Nosso Guia
continuarão seguindo-o.
Fazendo cara feia para os programas sociais do governo, para as políticas de
ação afirmativa nas universidades e para a expansão do crédito popular, ela
organizará magníficos seminários. Eleição? É coisa de pobre.
Fonte: O Globo
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