Em caso de prisão, petistas vão se declarar prisioneiros do que consideram
um "julgamento de exceção"
Tatiana Farah, Sérgio Roxo, Maria Lima e Juliana dal Piva
SÃO PAULO e ÁGUAS DE LINDOIA - Amigos de militância de esquerda de José
Dirceu e de José Genoino já se articulam para uma reação política à condenação
dos dois petistas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O grupo "Os Amigos
de 68", que reúne ex-presos políticos, realizou um almoço de solidariedade
a Dirceu e Genoino no domingo, na casa de Ana Corbisier, companheira do
ex-ministro no Movimento de Libertação Popular (Molipo). Os "amigos de
68" não descartam iniciar um movimento político mais amplo, que inclua o
tema da reforma política e uma análise do Judiciário, ou organizar uma
mobilização de apoio direto aos ex-guerrilheiros.
-Deve haver uma reação. Esse processo foi muito desigual. É complicado
quando a Justiça se politiza - avaliou José Luiz Del Roio, ex-militante contra
a ditadura e ex-senador na Itália.
Del Roio participou do almoço, que foi marcado por conversas sobre o passado
dos dois petistas, principalmente sobre suas prisões. Genoino é o mais abalado,
mas parecia tranquilo no encontro com os ex-companheiros. O ex-deputado foi
quem comparou os tempos de sua prisão ao momento atual. Para os presentes,
persistiu a conversa de que os petistas foram injustiçados e que todo o rigor
da condenação está, de alguma forma, relacionado ao passado deles.
- Os dois se comportaram de maneira magnífica na prisão durante a ditadura.
Se forem presos, irão para a cadeia com dignidade, não fugirão. Mas qualquer
réu tem o direito de defender sua biografia - disse Del Roio.
Para o cineasta Cláudio Kahns, Genoino e Dirceu "estão empenhados em
continuar se defendendo".
- Alguma reação deve ter. Ninguém está satisfeito - disse o cineasta,
referindo-se a uma mobilização dos "Amigos de 68" em prol de Genoino
e Dirceu.
O PT vai acatar a decisão do STF no julgamento do mensalão, mas, em caso de
prisão, os integrantes do partido vão se declarar prisioneiros políticos de um
julgamento de exceção, afirmou ontem ao GLOBO o ex-ministro da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência Paulo Vannuchi, que participou do encontro
anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais,
em Águas de Lindoia, interior de São Paulo.
- O Supremo tem que ser respeitado. Se determinar prisão, as pessoas vão
para a prisão. Agora, as pessoas não vão admitir que são corruptas, elas vão
declarar que são prisioneiras políticas de um julgamento de exceção. Vai ser a
razão de viver do Genoino e do Dirceu demonstrar que foram condenados sem
provas - afirmou Vannuchi.
O petista disse ainda que, a partir de agora, o partido observará atentamente
todas as decisões do STF em casos semelhantes:
- Nós vamos acompanhar com lupa cada voto de ministro, e, se daqui a um ano,
eles absolverem um grande empresário acusado de corrupção por falta de provas,
nós vamos lembrar, democraticamente, que, no julgamento do mensalão, quando não
havia provas, os indícios foram tidos como suficientes para condenar.
Procurado ontem, Genoino disse que não falaria sobre o julgamento. Em
entrevista à Rádio Estadão/ ESPN, afirmou que vai lutar para provar a sua
inocência:
- Sou inocente. Nunca fiz parte de quadrilha nem o PT é partido de
quadrilheiros. Não sou corrupto. Sou inocente e considero uma injustiça (a
condenação pelo STF).
O ex-presidente do PT prometeu ainda "dedicar a vida a provar a sua
inocência":
- Esse julgamento não apresentou provas concretas. Foi feito na base do
indício, da dedução, do domínio do fato, que são teses que têm um viés
autoritário.
Genoino também comparou o julgamento do mensalão com a sua condenação pela
Justiça Militar na época da ditadura, quando foi preso depois de atuar na
guerrilha do Araguaia:
- Minha disposição é o risco do combate. Prefiro o risco do combate do que a
humilhação e do que a servidão.
Nos dois dias mais pesados do julgamento do mensalão para o núcleo político,
Dirceu e o ex-tesoureiro Delúbio Soares produziram textos variados para os
blogs e twitter. Para fugir do assunto, focaram em temas como a eleição
municipal, futebol, o arquivamento das denúncias contra o ministro Fernando
Pimentel pela Comissão de Ética da Presidência e até a visita do atleta
jamaicano Usain Bolt ao Rio de Janeiro.
Fonte: O Globo
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