Financiadores preferiram esconder identidade para evitar sua associação a
possíveis casos de corrupção
Paulo Celso Pereira
Repasse. Geraldo Júlio, prefeito eleito de Recife, arrecadou R$ 7,2 milhões
para a campanha, metade de forma oculta
BRASÍLIA - Para proteger a identidade de doadores, as eleições deste ano foram
marcadas pelo intensivo uso das chamadas doações ocultas. Em várias das
principais campanhas do país, a grande maioria dos recursos foi destinada aos
candidatos por meio de uma triangulação que impede que os doadores sejam
identificados. De maneira geral, as empresas preferiram enviar o dinheiro para
as direções nacionais ou estaduais das legendas e essas encaminharam o dinheiro
para os candidatos.
Na eleição de Belo Horizonte, por exemplo, o prefeito reeleito Márcio
Lacerda arrecadou dessa forma R$ 12,1 milhões, dos R$ 21,6 milhões com que
fechou sua conta. Seu adversário, Patrus Ananias, foi ainda mais radical. Dos
R$ 17,4 milhões que conseguiu em doações, R$ 16,4 milhões foram conseguidos em
doações ocultas. O formato se tornou o preferido pelas empresas para evitar sua
associação com os candidatos. O temor é que, se eventuais casos de corrupção
surgirem no governo do candidato, o nome da empresa acabe sendo associado ao
crime.
Enquanto Patrus conseguiu sair da eleição de Belo Horizonte com crédito de
cerca de R$ 300 mil, Lacerda ficou com uma grande dívida. O candidato, que é um
empresário de sucesso, colocou durante a campanha R$ 4 milhões do próprio bolso
para pagar as contas. Ainda assim, como gastou R$ 28,2 milhões, encerrou a
disputa com uma dívida de R$ 6,6 milhões. Todos os dados constam das
declarações dos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que ontem
começou a divulgar os dados dos candidatos eleitos ou derrotados no primeiro
turno.
Entre as dez maiores cidades do país, a eleição terminou no primeiro turno
no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Mas os gastos nas
duas últimas foram bem menores do que os do Rio e BH. O prefeito eleito de
Recife, Geraldo Júlio, do PSB, declarou ter gasto R$ 6,9 milhões e arrecadou R$
7,2 milhões, metade deles de forma oculta. Seus dois principais adversários,
Daniel Coelho (PSDB) e Humberto Costa (PT), declararam cada um ter arrecadado e
gasto na campanha menos da metade do prefeito eleito. O tucano, que ficou em
segundo lugar, disse ter arrecadado e gasto cerca de R$ 2,8 milhões, enquanto o
petista informou ter fechado ambas as contas em cerca de R$ 2,95 milhões.
O prefeito reeleito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT) viveu uma situação
sui generis. De acordo com a declaração divulgada pelo TSE, o prefeito
arrecadou R$ 6,25 milhões, mas gastou apenas R$ 2,01 milhões em sua campanha -
o que teria gerado uma sobra de R$ 4,2 milhões. É o oposto do ocorrido com sua
principal adversária na disputal, a deputada Manuela D"Ávila (PCdoB), que
declarou ter arrecadado R$ 3,92 milhões e gasto R$ 4,53 milhões. Para fechar as
contas, ainda faltam cerca de R$ 615 mil. O petista Adão Villaverde, terceiro
colocado na disputa está em uma situação mais delicada. Segundo sua declaração,
teria arrecadado R$ 2,5 milhões, mas gasto R$ 3,92 milhões. Para fechar as
contas precisará de R$ 1,42 milhão.
Fonte: O Globo
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