Ouvir Maluf com aquela inconfundível voz nasalada cantando "olê olê olê olá,
Lu-lá, Lu-lá
Tenho muito respeito e gratidão por quem me faz rir. Dou imenso valor aos
comediantes que se expõem a todos os ridículos e constrangimentos só para nos
divertir e alegrar. Acredito que rir, principalmente de si mesmo, ou refletido
e identificado num personagem, ajuda muito a viver as durezas do cotidiano e a
enfrentar as fraquezas e precariedades da condição humana.
Ao mesmo tempo, acredito na força devastadora do humor como arma de crítica,
que pode ser mais potente e eficiente do que a força bruta, porque é capaz de
destruir pelo ridículo e pelo riso os mais sérios e sólidos adversários. Porque
basta ser humano e viver a vida para ser uma potencial fonte inesgotável de
piadas e deboches para qualquer um com senso de humor e de crítica.
Mas o humor também é amor: já fiz os papéis mais ridículos só para divertir
minhas filhas. E também pode ser rancor, dos que sempre perguntam "tá
rindo de quê?"
Muitas vezes uma saraivada de piadas engraçadas pode ser mais contundente do
que discursos inflamados. Mas as piadas têm que ser boas, e bem contadas,
porque piada é timing. E não há nada mais triste do que piada mal contada,
quando é gaguejada e perde o tempo e a graça.
Outras piadas só aparecem com o tempo. Hitler e Mussolini eram adorados
pelas multidões nazi-fascistas como deuses olímpicos e épicos, mas hoje suas
figuras grotescas gesticulando e gritando seus discursos histéricos são
ridículas e hilariantes. Pena que tanta gente morreu para que se pudesse rir em
liberdade.
O humor e as piadas corrosivas - porque engraçadas - tiveram um papel muito
importante na resistência democrática, desmoralizando o autoritarismo e a
truculência da ditadura e fustigando os políticos onde mais lhes dói, no
orgulho e na vaidade, com piadas e apelidos devastadores e gargalhadas vingadoras.
O humor não é o forte dos políticos, mas justiça se faça a esse talento de
Paulo Maluf. Ouvir aquela inconfundível voz nasalada cantando "olê olê olê
olá, Lu-lá, Lu-lá" fez o Brasil gargalhar e teve uma carga de crítica
política mais poderosa do que qualquer discurso da oposição. Ou da situação.
Fonte: O Globo
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