Durante protesto, Buenos Aires volta a sofrer apagão
Janaína Figueiredo
Ira. Em Rosário, multidão foi às ruas da cidade; blecautes acirraram ânimos
BUENOS AIRES - Milhares de argentinos atenderam à convocação feita nas redes
sociais para contestar o governo da presidente Cristina Kirchner e, em menos de
dois meses, um segundo panelaço mobilizou insatisfeitos nas ruas de Buenos Aires
e cidades como Mendoza, Santa Fé e Corrientes. A pauta de demandas era ampla -
da economia ao respeito à liberdade de expressão - e ganhou força numa semana
em que senadores e deputados da oposição assinaram um documento rejeitando o
projeto de reforma constitucional através do qual a bancada kirchnerista tenta
permitir uma segunda reeleição de Cristina, em 2015.
Depois do apagão que na última quarta-feira havia deixado quase 3 milhões de
pessoas às escuras durante mais de quatro horas na capital, um novo blecaute
atingiu Buenos Aires durante o protesto, enfurecendo os moradores.
O panelaço de ontem também coincidiu com a divulgação de um manifesto
assinado por pelo menos 500 políticos e intelectuais contra "pressões
sistemáticas do Executivo sobre juízes", em meio à guerra nos tribunais
entre o governo e o grupo Clarín por conta da implementação da Lei de Serviços
Audiovisuais.
Os apagões contribuíram para acirrar os ânimos. E longe de reconhecer que o
país continua sem conseguir resolver uma crise energética confirmada por
especialistas, o governo especulou com uma possível sabotagem, supostamente
vinculada ao panelaço. O ministro do Planejamento, Julio De Vido, anunciou a
abertura de um processo penal para investigar os culpados. O caso ficará nas mãos
do juiz Noberto Oyarbide, considerado um dos principais aliados dos Kirchner no
Judiciário.
- Aqui a pergunta é clara: quem abaixou a alavanca - declarou De Vido.
Os panelaços de 2012 representam um novo fenômeno social: manifestações da
sociedade civil independentes de liderança política. Ontem, os principais
dirigentes da oposição optaram por não participar das marchas para não afetar a
legitimidade dos protestos, conforme explicou a deputada Elisa Carrió. Entre os
manifestantes não havia flâmulas ou faixas de partido políticas - apenas
bandeiras da Argentina. Em sua coluna no "La Nación", o jornalista
Carlos Pagni ressaltou um contraste. Segundo ele, em 2001 (quando renunciou o
ex-presidente Fernando de la Rúa) os panelaços exigiam "que fossem todos
embora" e, desta vez o lema é "que alguém venha" resolver
problemas como inflação, violência e crise energética. Os escândalos de
corrupção, ataques a meios de comunicação (somente este ano já foram
denunciadas 130 agressões a jornalistas) e o estilo de governo de Cristina,
considerado autoritário, também foram criticados nas marchas. Muitos argentinos
exigiram, ainda, o respeito à democracia, poucos dias depois de representantes
do kirchnerismo terem admitido que um dos principais objetivos de uma eventual
reforma constitucional é a segunda reeleição de Cristina.
Presidente reage no Facebook
Em geral, as manifestações foram pacíficas. Os canais de TV mostraram poucos
cartazes agressivos: alguns desejavam a morte de Cristina. Ela se limitou a
comentar no Facebook:
"Estamos vivendo um momento de liberdade de expressão nunca antes visto
na Argentina; uma democracia total", escreveu a presidente.
Para o governo, por trás do panelaço estão a direita e "setores
golpistas". Enquanto a Casa Rosada insiste na teoria da conspiração, a
imagem de Cristina continua despencando: 60% desaprovam sua gestão, segundo as
pesquisas.
Fonte: O Globo
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