quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Insatisfeitos do PMDB articulam movimento contra acordo com o PT

Caio Junqueira

Giroto: deputado do MS e candidato derrotado à Prefeitura de Campo Grande lidera dissidentes contra candidatura Alves

BRASÍLIA - Ao mesmo tempo em que acontecia o jantar de ontem no Palácio da Alvorada para selar a união das cúpulas do PT e do PMDB com vistas à sucessão presidencial de 2014 e à eleição das Mesas do Congresso, fora dali outros encontros se realizavam e outros tantos eram combinados para hoje como um contraponto a esses arranjos.

O mais relevante deles foi organizado por integrantes do próprio PMDB, que se reuniriam na casa do deputado Edson Giroto (MS) para articular uma dissidência política contra a candidatura de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) a presidente da Câmara. Movimento apoiado, por exemplo, pela atual vice-presidente da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES). Os dois parlamentares retratam bem a insatisfação de parte da bancada. Giroto culpa o PT e o comando do PMDB por sua derrota nas eleições deste ano em Campo Grande. Rose queria o apoio de Alves para ser líder da bancada em 2013, mas não obteve sucesso nessa reivindicação.

Mas não é só quanto à eleição da Mesa que há oposição interna. Em algumas seções do PMDB, correm críticas quanto ao açodamento com que a união para 2014 foi feita. A avaliação é de que ela é muito mais benéfica para o PT e para o pequeno grupo do PMDB lá presente do que para a legenda em geral. Esse ponto de vista parte do pressuposto de que as incertezas do cenário econômico para o próximo biênio e a possível ascensão de alternativas políticas para 2014 dentro e fora da base - Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), respectivamente - deveria fazer com que a cúpula pemedebista aguardasse o desenrolar dos fatos, principalmente em 2013, antes de já fincar o pé na reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Por essa razão, a união selada ontem é vista muito mais como da cúpula do PMDB do que de todo o PMDB. Por consequência, esse restante "excluído" não garante que caminhará com o PT na sucessão presidencial, ainda mais se for concretizado os já esperados conflitos na formação dos palanques estaduais.

Esses são alguns exemplos das muitas as insatisfações com os "pratos feitos" que o Palácio do Planalto tenta impor à base. E são elas que têm motivado movimentações como a candidatura alternativa em construção do deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Hoje, por exemplo, ele se reunirá com representantes de seis bancadas que têm interesse em derrotar o governo e o Alves: PV, PTB, PSC, PDT, PRB e PSB.

O PV não aceita Alves presidente por sua posição na discussão do Código Florestal. O PTB e o PSC ainda se incomodam com o fato de não terem um ministério na Esplanada. O PDT não vê como sua a indicação neste ano pela presidente Dilma Rousseff do deputado Brizola Neto para ministro do Trabalho. Até mesmo o PSD foi convidado. Deputados da bancada estão revoltados com a imposição do prefeito de São Paulo e presidente do PSD, Gilberto Kassab, do nome de Alves sem qualquer diálogo com o partido. Além disso, argumentam que Kassab deixa a prefeitura mal-avaliado e sem fazer o sucessor, o que não lhe garante força política para imposições unilaterais.

O líder da bancada, Guilherme Campos (SP), afirma que a bancada ainda não tomou uma posição sobre a sucessão da Mesa, embora o jantar de ontem e a eventual entrada do PSD na Esplanada tenham o potencial de ser um divisor de águas. Para o PSB, a eventual participação do PSD no encontro de hoje tem o efeito muito mais de demonstrar que o projeto de Delgado segue adiante mesmo sem o apoio oficial de Kassab, conforme se imaginara no início, do que de tentar demover o partido da opção por Alves.

Revela ainda a nova estratégia de Delgado: unir os partidos pequenos e médios, contar com as dissidências no PT e no PMDB e depois partir para os votos da oposição. Isso porque o PSB não quer que essa candidatura demonstre oposição a Dilma, mas sim, uma alternativa dentro da base. Mesma ideia disseminada por setores do PT contrários à eleição de Alves e que estimulam qualquer alternativa a ele para lançar um petista como a terceira via.

Ciente desse jogo petista, o PSB reuniu-se com o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), apontado como interessado em ser alçado a candidato, para lhe dizer que Delgado não aceitaria essa jogada e se isso se consolidasse iria até o fim, mesmo contra Alves e ele mesmo. Ouviu do petista, porém, que ele não será candidato.

Por enquanto, Eduardo Campos acompanha de longe os passos de Delgado. Nem o desestimula a ponto de desencorajá-lo nem o estimula a ponto de ele já se lançar candidato. Avalia, segundo interlocutores, que se ela se viabilizar poderá até ajudar na reta final. Só não quer que o movimento seja colocado como de oposição ao governo nem embarcar em uma derrota após as sucessivas vitórias que vem conquistando. E garante que nunca fez acordo com Henrique Alves de apoiá-lo em troca da ajuda do PMDB na eleição da mãe, Ana Arraes, para ministra do Tribunal de Contas da União (TCU).

Fonte: Valor Econômico

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