Caio Junqueira
Giroto: deputado do MS e candidato derrotado à Prefeitura de Campo Grande
lidera dissidentes contra candidatura Alves
BRASÍLIA - Ao mesmo tempo em que acontecia o jantar de ontem no Palácio da
Alvorada para selar a união das cúpulas do PT e do PMDB com vistas à sucessão
presidencial de 2014 e à eleição das Mesas do Congresso, fora dali outros
encontros se realizavam e outros tantos eram combinados para hoje como um
contraponto a esses arranjos.
O mais relevante deles foi organizado por integrantes do próprio PMDB, que
se reuniriam na casa do deputado Edson Giroto (MS) para articular uma
dissidência política contra a candidatura de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) a
presidente da Câmara. Movimento apoiado, por exemplo, pela atual
vice-presidente da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES). Os dois parlamentares
retratam bem a insatisfação de parte da bancada. Giroto culpa o PT e o comando
do PMDB por sua derrota nas eleições deste ano em Campo Grande. Rose queria o
apoio de Alves para ser líder da bancada em 2013, mas não obteve sucesso nessa
reivindicação.
Mas não é só quanto à eleição da Mesa que há oposição interna. Em algumas
seções do PMDB, correm críticas quanto ao açodamento com que a união para 2014
foi feita. A avaliação é de que ela é muito mais benéfica para o PT e para o
pequeno grupo do PMDB lá presente do que para a legenda em geral. Esse ponto de
vista parte do pressuposto de que as incertezas do cenário econômico para o
próximo biênio e a possível ascensão de alternativas políticas para 2014 dentro
e fora da base - Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), respectivamente -
deveria fazer com que a cúpula pemedebista aguardasse o desenrolar dos fatos,
principalmente em 2013, antes de já fincar o pé na reeleição da presidente
Dilma Rousseff.
Por essa razão, a união selada ontem é vista muito mais como da cúpula do
PMDB do que de todo o PMDB. Por consequência, esse restante
"excluído" não garante que caminhará com o PT na sucessão
presidencial, ainda mais se for concretizado os já esperados conflitos na
formação dos palanques estaduais.
Esses são alguns exemplos das muitas as insatisfações com os "pratos
feitos" que o Palácio do Planalto tenta impor à base. E são elas que têm
motivado movimentações como a candidatura alternativa em construção do deputado
Júlio Delgado (PSB-MG). Hoje, por exemplo, ele se reunirá com representantes de
seis bancadas que têm interesse em derrotar o governo e o Alves: PV, PTB, PSC,
PDT, PRB e PSB.
O PV não aceita Alves presidente por sua posição na discussão do Código
Florestal. O PTB e o PSC ainda se incomodam com o fato de não terem um
ministério na Esplanada. O PDT não vê como sua a indicação neste ano pela
presidente Dilma Rousseff do deputado Brizola Neto para ministro do Trabalho.
Até mesmo o PSD foi convidado. Deputados da bancada estão revoltados com a
imposição do prefeito de São Paulo e presidente do PSD, Gilberto Kassab, do
nome de Alves sem qualquer diálogo com o partido. Além disso, argumentam que
Kassab deixa a prefeitura mal-avaliado e sem fazer o sucessor, o que não lhe
garante força política para imposições unilaterais.
O líder da bancada, Guilherme Campos (SP), afirma que a bancada ainda não tomou
uma posição sobre a sucessão da Mesa, embora o jantar de ontem e a eventual
entrada do PSD na Esplanada tenham o potencial de ser um divisor de águas. Para
o PSB, a eventual participação do PSD no encontro de hoje tem o efeito muito
mais de demonstrar que o projeto de Delgado segue adiante mesmo sem o apoio
oficial de Kassab, conforme se imaginara no início, do que de tentar demover o
partido da opção por Alves.
Revela ainda a nova estratégia de Delgado: unir os partidos pequenos e
médios, contar com as dissidências no PT e no PMDB e depois partir para os
votos da oposição. Isso porque o PSB não quer que essa candidatura demonstre
oposição a Dilma, mas sim, uma alternativa dentro da base. Mesma ideia
disseminada por setores do PT contrários à eleição de Alves e que estimulam
qualquer alternativa a ele para lançar um petista como a terceira via.
Ciente desse jogo petista, o PSB reuniu-se com o líder do governo, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), apontado como interessado em ser alçado a candidato, para
lhe dizer que Delgado não aceitaria essa jogada e se isso se consolidasse iria
até o fim, mesmo contra Alves e ele mesmo. Ouviu do petista, porém, que ele não
será candidato.
Por enquanto, Eduardo Campos acompanha de longe os passos de Delgado. Nem o
desestimula a ponto de desencorajá-lo nem o estimula a ponto de ele já se
lançar candidato. Avalia, segundo interlocutores, que se ela se viabilizar
poderá até ajudar na reta final. Só não quer que o movimento seja colocado como
de oposição ao governo nem embarcar em uma derrota após as sucessivas vitórias
que vem conquistando. E garante que nunca fez acordo com Henrique Alves de
apoiá-lo em troca da ajuda do PMDB na eleição da mãe, Ana Arraes, para ministra
do Tribunal de Contas da União (TCU).
Fonte: Valor Econômico
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