Sem comparecer a jantar com aliados, ex-presidente define bases para
ratificar aliança com o PMDB
Maria Lima, Fernanda Krakovics e Luiza Damé
BRASÍLIA O ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff tiveram uma
longa reunião, ontem à tarde, para combinar os pontos que seriam discutidos por
ela depois, em um jantar no Palácio da Alvorada, com as cúpulas de PMDB e PT.
Para não parecer que esteva tirando a autoridade de Dilma no comando das
articulações políticas para sua reeleição em 2014, Lula desistiu de comparecer
ao jantar. Mas acertou com ela, antes, as bases para a ratificação do acordo de
parceria com o PMDB, com vistas às próximas eleições presidenciais, como fizera
logo depois do pleito de 2006. O encontro a sós com Lula também foi no Alvorada
e tomou toda tarde da agenda da presidente, por mais de três horas.
Nenhum dos dois compromissos políticos de ontem da presidente constou em sua
agenda oficial. O jantar juntou Dilma, o vice Michel Temer, os líderes de PMDB
e PT na Câmara e Senado, líderes do governo nas duas Casas, os presidentes José
Sarney (Senado) e Marco Maia (Câmara), e os presidentes dos dois partidos, Rui
Falcão e Valdir Raupp. A meta foi marcar a nova fase na articulação política do
governo Dilma, que tem como primeira providência reafirmar a aliança para 2014
e os acordos entre PT e PMDB para as presidências da Câmara e do Senado.
Diante do crescimento e da movimentação do PSB do governador Eduardo Campos
(PE), a expectativa de integrantes do PMDB era que o jantar de ontem desse a
largada para as eleições de 2014, com a confirmação, pela presidente, da
continuidade da aliança vitoriosa em 2010 - com Temer na chapa da reeleição.
Esperavam também uma sinalização de que o partido e o PT marcharão juntos,
também com o apoio da presidente, para eleger o deputado Henrique Alves
(PMDB-RN) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para as presidências da Câmara
e do Senado, respectivamente.
Para o PT, que muitas vezes pediu, e não conseguiu, reuniões das bancadas
com Dilma, a expectativa era abrir um canal de diálogo e se aproximar da
presidente. O líder do partido no Senado, Walter Pinheiro (BA), disse que
deseja discutir a ação no Congresso, afinar estratégias.
Sobre a candidatura de Renan, Pinheiro garantiu, antes do jantar, que não há
problemas:
- Vamos respeitar a regra que a maior bancada indica o presidente, até
porque amanhã, se o PT for a maior bancada, eu vou cobrar o apoio.
Poucos esperavam que a conversa no jantar descesse a detalhes de mais cargos
para o PMDB e reforma ministerial. Dilma deve mexer em seu Ministério para
abrigar o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) que, no segundo turno,
apoiou Fernando Haddad (PT), mas isso será acertado com o próprio Temer, e só
deverá ocorrer no início de 2013. Como é a praxe em reuniões marcadas pela
presidente, os parlamentares estavam mais dispostos a ouvir do que falar.
Nesses casos quem dá o tom da conversa é Dilma.
Aliança PT-PMDB terá desdobramento
Enquanto Lula e Dilma estavam reunidos no Alvorada, o ministro da Secretaria
Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que o fortalecimento da aliança
entre PT e PMDB terá desdobramento, mas negou que a reforma ministerial seria
tema no jantar de ontem:
- Eu acho que isso ficou muito evidente. O processo eleitoral, os episódios
de São Paulo, Belo Horizonte e vários outros reforçaram essa aliança. Não há
dúvida nenhuma. Isso está bastante claro. Agora vamos ver o desdobramento
concreto - disse Carvalho, ao sair de um evento da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB). -Não tem nada disso (reforma). A presidente não está
falando em reforma ministerial, gente. Ela não vai tocar em reforma ministerial
por enquanto. Ela deixou claro para a gente isso. De verdade, a presidenta
pediu para a gente, ela falou: "Olha, eu não tô pensando nesse assunto e
não vamos alimentar uma coisa que não existe".
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT) - que teve audiência com a
presidente de manhã no Palácio do Planalto, mas não participaria do jantar -
minimizou os efeitos da disputa entre os aliados nas eleições deste ano na
aliança nacional:
- Vou defender sempre que a gente consiga manter esse grupo de aliados unido
até 2014. É o esforço que faço na Bahia. Creio que é o esforço que o PT, ela
(Dilma), o PSB, que têm compromisso com o projeto, também fazem. O PSB é um
partido importante e histórico na nossa aliança.
Para Wagner, alimentar e federalizar as disputas entre os aliados só
interessa à oposição:
- As oposições se alegram com isso. À oposição interessa transportar os
estresses para o nível nacional. Eu acho que está na hora de discutir a relação
com todo mundo. Pode ter tido algum estresse com o PMDB, com o PCdoB. Teve
estresse com o PMDB na Bahia, que apoiou um candidato que faz oposição ao
projeto que participa nacionalmente. Cria um estresse? Cria. Transborda para a
relação nacional? Não.
Fonte: O Globo
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