Público abaixo do
esperado participou no Rio de ato pelo veto da presidente Dilma Rousseff ao
projeto que redistribui os royalties do petróleo. Houve confusão.
Rio gasta mais de
R$ 780 mil, mas não lota manifestação que pede "veta, Dilma"
Passeata contra lei da distribuição dos royalties do petróleo teve público
abaixo do esperado e repressão a protestos contra Sérgio Cabral
Alfredo Junqueira, Felipe Werneck, Sabrina Valle e Sergio Torres
RIO - Numa manifestação tumultuada, em que pessoas que protestavam contra o
governador Sérgio Cabral (PMDB) foram agredidas por seguranças, milhares de
pessoas cobraram da presidente Dilma Rousseff, na principal avenida do Centro
do Rio, o veto ao projeto de lei que redistribui os royalties e participações
especiais da exploração do petróleo. O custo da manifestação, divulgado à noite
pelo governo do Estado, foi de R$ 783 mil.
O valor inclui montagem de palco, estruturas de som e iluminação, aluguel de
trios elétricos e contratação de pessoal, como seguranças. Mas não leva em
conta transporte gratuito nem refeições. O governo exigiu que as
concessionárias de metrô e barcas não cobrassem passagem antes e depois do ato,
liberou o funcionalismo público do serviço e colocou ônibus e lanches à
disposição dos manifestantes.
Apesar do incentivo, o protesto não reuniu sequer um terço das 250 mil
pessoas planejadas pelo governador. Um oficial da Polícia Militar (PM),
responsável pelo patrulhamento do Centro, disse que não chegava a 30 mil a
quantidade de manifestantes. Em nota oficial divulgada às 19h15, porém, a PM
relata que havia 200 mil pessoas no protesto. A estimativa parece improvável. Em
volta do palco na Cinelândia notavam-se espaços vazios, o que não ocorreria
caso houvesse a lotação anunciada.
O projeto de lei do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que transfere parte dos
royalties a Estados e municípios não produtores, será sancionado ou vetado pela
presidente até sexta-feira. Caso seja sancionado, os dois principais Estados
produtores (Rio e Espírito Santo) perderão quantias expressivas. Até 2020, o
Rio perderá R$ 77 bilhões, segundo cálculos do governo.
Cassetete. A passeata "Veta, Dilma" teve o curso alterado de modo
repentino porque manifestantes que acusavam Cabral de irregularidades foram
atacados a golpes de cassetete por policiais militares e seguranças. Com uma
enorme faixa com os dizeres "Fora Cabral - Veta Dilma" uma ala participou
do evento com guardanapos amarrados na cabeça.
A "alegoria" era uma alusão ao episódio no qual secretários do
governo Sérgio Cabral e o empresário Fernando Cavendish, ex-dono da construtora
Delta, apareceram assim em uma festa em Paris, em fotos divulgadas em meio a
denúncias de ligação de Cavendish com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o
Carlinhos Cachoeira, acusado de liderar esquema de jogos ilegais com
participação de servidores públicos. No tumulto armado já na Cinelândia para
reprimir os manifestantes que protestavam contra o governo, convidados, como a
produtora de cinema Lucy Barreto e o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB),
chegaram a ser atingidos.
Ausência. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), preferiu não
vir ao Rio. Enviou o secretário estadual de Energia, José Aníbal, que, mesmo
anunciando a solidariedade paulista a Rio e Espírito Santo, afirmou considerar
que Estados e municípios não produtores têm direito a reivindicar uma parte
maior dos royalties.
"Reconhecemos que é uma vontade majoritária da sociedade brasileira,
que quer ter uma participação maior nos recursos do pré-sal, dos royalties e
das participações especiais", disse Aníbal, para quem é legítimo o
protesto dos produtores, pois "não se pode mudar as regras do jogo com o
jogo em curso".
O secretário chegou no ônibus que trouxe Cabral, o governador do Espírito
Santo, Renato Casagrande (PSB), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB),
políticos e artistas, como a atrizes Fernanda Montenegro e Maria Paula. Mas
evitou aparecer ao lado deles na passeata. Ao Estado, ele criticou a atuação do
governo federal na questão dos royalties.
"Se fez um tal superdimensionamento sobre os recursos do pré-sal, a
curtíssimo prazo, como se fosse para amanhã, que outros municípios e Estados
também quiseram participar. E participar logo", disse ele, para quem cerca
de 70 municípios paulistas serão afetados, caso o projeto de lei seja
sancionado.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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