A democracia no Brasil é ainda jovem e há poucos ciclos eleitorais para que se possa traçar um padrão no comportamento dos candidatos a presidente. Desde o fim da ditadura militar (1964-1985), só foram realizadas seis disputas com voto direto pelo Palácio do Planalto (89, 94, 98, 02, 06 e 10).
Ainda assim, a eleição presidencial de 2014 começa com algumas características que a diferenciam das anteriores. A mais visível é que os pré-candidatos principais estão -ainda que de maneira extraoficial- bem explícitos sobre suas intenções quando ainda faltam cerca de 20 meses para a disputa.
Não era o que ocorria em eleições passadas. É claro que em 1997 e em 2005, todos sabiam das intenções de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva de disputar a reeleição nos anos seguintes. Só que eles não tocavam no assunto em público com tanta antecedência.
Agora, Lula falou abertamente que Dilma Rousseff é candidata à reeleição em 2014 -e a presidente estava ao seu lado. No último sábado, Marina Silva foi lançada por seus aliados. E Aécio Neves (PSDB) já foi dado como candidato inevitável pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mas não houve apenas uma redução do grau de dissimulação dos políticos. Há uma antecipação também na montagem e na amplitude das alianças para 2014. O PT aperfeiçoou o modelo usado pelo PSDB. Pretende fazer a coalizão mais ampla na atual fase democrática do país.
Até 2010, todos os candidatos a presidente vencedores tinham de três a cinco partidos em suas coligações. Dilma teve dez legendas na sua aliança. Agora, quer manter ou ampliar esse grupo.
Há uma razão objetiva para essa nova conjuntura: com a chegada de Lula ao poder, em 2002, os partidos maiores encolheram. Muitos políticos foram procurar abrigo em siglas médias ou pequenas para ter mais liberdade na hora de trocar favores fisiológicos com o Planalto.
Um exemplo é 1998, quando os quatro principais partidos na aliança de FHC foram PSDB, PFL, PPB e PTB. Juntas, essas siglas elegeram 295 deputados federais naquele ano. Hoje, essas mesmas quatro siglas têm apenas 132 cadeiras.
O total de deputados é determinante para o cálculo do tempo de TV durante a eleição. No Brasil, sem grande exposição no horário eleitoral é muito difícil vencer.
No atual quadro fragmentado, Dilma tem uma vantagem em relação aos demais candidatos. Ela já comanda uma coalizão de dez partidos, criada em 2010. Deu cargos a todos na administração.
Há, é claro, risco de defecções na aliança dilmista. A ameaça mais séria é do PSB, pois o líder da sigla, Eduardo Campos, deseja ser candidato ao Planalto. Só que o PSB tem apenas 26 deputados. E Dilma tem à porta um outro partido, o PSD, de Gilberto Kassab, pronto para aderir ao governo -junto com uma bancada de 48 deputados.
Se mantiver sua aliança com dez legendas, com a substituição do PSB pelo PSD, Dilma contará com partidos políticos que, juntos, têm hoje 318 deputados.
No caso da oposição, o PSDB com Aécio Neves pode ter o apoio de DEM e PPS. As três siglas contam com apenas 88 cadeiras na Câmara. Marina Silva e o seu novo partido em formação, Rede Sustentabilidade, têm a promessa ainda incerta de receber a adesão de meros seis deputados.
A não ser que os partidos de oposição ao Planalto consigam reverter o quadro atual, a corrida presidencial de 2014 terá no horário eleitoral eletrônico a preponderância inaudita de apenas uma candidata: Dilma Rousseff.
Fonte: Folha de S. Paulo
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