Murillo Camarotto
GRAVATA (PE) - Campos: chamado de "presidente" por alguns prefeitos, governador disse não querer antecipar o debate eleitoral
"Vamos ficar sentados aqui na frente, assim a gente pega o dinheiro primeiro", disse ontem o prefeito de Paratanama (PE), José Teixeira Neto (PSB), antes de uma grande reunião com seu colega de partido, o governador Eduardo Campos (PSB). Desde que agendou a reunião com os 184 prefeitos de Pernambuco, Campos deixou correr solta a notícia de que os municípios não sairiam do encontro de mãos vazias, como teria acontecido após a reunião da presidente Dilma Rousseff com os prefeitos no mês passado, em Brasília.
A presidente - que Campos pretende enfrentar nas urnas - acenou com R$ 66,8 bilhões para os municípios investirem em creches, postos de saúde e saneamento, entre outras áreas. Os prefeitos, no entanto, se queixam da burocracia para acessar os recursos. Mais pragmático - porém com menos recursos -, Campos anunciou a criação de um fundo estadual de investimento que repassará R$ 229 milhões para os prefeitos investirem como bem entenderem.
O fundo funcionará, segundo auxiliares do governador, como uma espécie de "13º do Fundo de Participação dos Municípios (FPM)". O valor recebido por cada prefeitura em 2012 será dividido por 12. A cifra resultante será repassada aos prefeitos em quatro parcelas. A periodicidade vai depender da necessidade de cada prefeitura. O dinheiro poderá ser investido em áreas como recursos hídricos, saúde, educação e infraestrutura urbana, entre outras.
O objetivo, além do contraponto ao governo federal, é dar fôlego financeiro aos municípios, sobretudo aqueles que, por pendências antigas com o governo estadual, não podem firmar convênios. Campos espera que o investimento desses recursos ajudem a engrossar o PIB pernambucano em 2013, já que eventuais comparações com a taxa nacional podem ser convenientes.
Após o evento, o governador de Pernambuco criticou a Medida Provisória 595, a "MP dos Portos", que visa reorganizar os terminais portuários do país. Contrariado com a edição da MP, Campos pretende se posicionar hoje sobre o tema, mas disse discordar de pontos como o que tira dos Estados a autonomia sobre as licitações de áreas portuárias.
Bibelô de sua administração, o Porto de Suape, no litoral sul de Pernambuco, deixaria de realizar as licitações, como a do segundo terminal de contêineres, que foi protocolado em setembro na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). "Estou falando do porto mais eficiente do Brasil, e não das docas federais e seus vícios", disse Campos.
O governador afirmou, no entanto, que o governo federal se comprometeu a debater eventuais mudanças no texto. E sinalizou estar disposto a bater na mesa pela autonomia de Suape, podendo acionar a Justiça.
Chamado de "presidente" por prefeitos mais exaltados, Campos evitou falar de 2014. Disse que não vê como "ajudar o Brasil antecipando o debate eleitoral neste momento". Questionado sobre sua ausência na festa petista na quarta-feira, em São Paulo, alegou compromissos em Pernambuco. Campos também foi convidado para o encontro do PT em Fortaleza, mas não vai comparecer.
O PT deixou Pernambuco fora do roteiro preparado para exibir neste semestre a pré-candidatura de Dilma à reeleição, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem a definição de Campos sobre sua candidatura presidencial, o partido evitou montar palanque para Dilma no berço político do governador.
Segundo o secretário de Organização do PT, Paulo Frateschi, Pernambuco só será incluído na programação se o presidente do PSB definir seu apoio a Dilma, o que é considerado improvável neste ano. "Precisamos ter clareza política das intenções de Campos antes de ir a Pernambuco. Não colocamos no roteiro de propósito", disse Frateschi.
O partido fará pelo menos 10 seminários pelo país para exibir a pré-candidatura de Dilma. O PT prepara eventos de grande porte para a presidente em Minas Gerais, Estado do pré-candidato do PSDB, senador Aécio Neves, e no Rio de Janeiro. O encontro em Belo Horizonte está previsto para abril e o do Rio para maio.
O comando petista tenta articular a participação de Dilma em pelo menos um seminário em março. Algumas reuniões foram marcadas aos sábados, para facilitar a participação da presidente. Lula estará na maioria dos encontros. A ideia é afinar o discurso para 2014 e articular alianças. O primeiro evento será o de Fortaleza, no dia 28.
(Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)
Fonte: Valor Econômico
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