Pré-candidato à Presidência, senador diz que o PSDB tem visão oposta à do PT no combate à pobreza, pois o governo só quer 'administrá-la'
Eugênia Lopes
BRASÍLIA - Virtual candidato do PSDB à Presidência da República em 2014, o senador Aécio Neves (MG) garante que o partido está pronto para o embate com a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, e com possíveis adversários, como a ex-ministra Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Para o tucano, as eventuais candidaturas de Marina e de Campos são "costelas" do projeto inicial do governo petista, o que beneficia a oposição. "Nós somos claramente oposição ao governo do PT", afirma Aécio. "Nós não estamos no divã." Em entrevista ao Estado, o tucano lamentou a antecipação do processo eleitoral e criticou o governo do PT que, em sua visão, "se contenta em administrar a pobreza". "Nós queremos a superação da pobreza. E isso não se faz apenas com políticas de transferência de renda, que são importantes e devem continuar. Mas isso se faz com investimentos maciços em educação."
Quando será lançada sua candidatura à Presidência?
Estamos prontos para o embate. Mas nós faremos a nosso tempo. Não vamos navegar nas águas que nos impuserem. Estou muito tranquilo, mas não há porque antecipar a definição de uma candidatura. O mais importante agora para oposição é garantir efetivamente sua unidade, construir a nova agenda para o Brasil. O PSDB deve oficializar uma candidatura para obter apoios, no início de 2014. Este ano de 2013 é o ano de o PSDB estabelecer o contraponto. É o ano que PSDB tem que trabalhar para que as pessoas percebam que temos uma visão de País distinta dessa que está aí.
Qual é a visão do PSDB?
Temos uma visão conceitual oposta à do PT em relação à pobreza. O PT se contenta em administrar a pobreza. Nós queremos a superação da pobreza. E isso não se faz apenas com políticas de transferência de renda, que são importantes e devem continuar. Mas isso se faz com investimentos maciços em educação. É aí que vamos ter um país realmente livre da pobreza. Agora, anunciar numa grande jogada de marketing que o Brasil acabou com a miséria é um desrespeito a, pelo menos, 48% de brasileiros de até 14 anos de idade que vivem sem saneamento básico, e a mais da metade das famílias de brasileiros que vive sem tratamento de lixo.
O governador Eduardo Campos (PSB) e a ex-ministra Marina Silva também são possíveis candidatos em 2014. O senhor teme o confronto com eles?
Acho extremamente positivo que essas candidaturas possam vir. Elas têm gerado preocupação no campo do governo. Porque, na verdade, são costelas de um projeto inicial do governo do PT. A Marina traz um conteúdo importante ao debate. Ela é uma competidora importante e respeitável e tem um discurso, uma proposta moderna para o Brasil. E o Eduardo também traz oxigênio novo a essa disputa. Do ponto de vista do PSDB e do meu pessoal, são todos muito bem vindos. Se alguma preocupação existe, pode ter certeza de que não é no nosso campo. A preocupação hoje dessas candidaturas é muito maior do lado do governo. São forças que se distanciaram do governo.
Não há uma preocupação sua em perder votos para Eduardo Campos que, como o senhor, é um candidato jovem e apontado como um bom governador?
Independente da faixa do eleitorado que ele (Eduardo Campos) venha a atingir, ele é saudável na disputa. Temos hoje uma tranquilidade maior do ponto de vista de onde nós estamos nessa disputa. Porque nós não estamos no divã. Nós somos claramente oposição ao governo do PT do ponto de vista administrativo, de gestão econômica, de importância dos conceitos éticos. A nossa ação será de enfrentamento, independente de eu vir a ser ou não candidato. Caberá aos outros definir de que forma vão se posicionar nesse espectro. Para ao Brasil é melhor uma disputa não polarizada desde o início.
Existe alguma chance de o PSDB vir a se aliar ao PSB na eleição presidencial de 2014?
O PSB e o PSDB têm proximidades grandes em vários Estados. A começar por Minas. Mas tenho de reconhecer, e respeito, que hoje a aliança do PSB no plano nacional é com o PT. Agora, o PSB vai ter que decidir se é governo ou não. Ele vai ter o tempo dele. O Eduardo sabe conduzir essa questão adequadamente. Eu trabalhei e ajudei no crescimento do PSB. O partido tem não só governo de Pernambuco, que é a base eleitoral do Eduardo, e o governo do Ceará. Talvez seja a capital de Minas a maior vitrine do PSB. E me orgulho muito de ter contribuído para isso. Na prática quero o PSB fortalecido.
Na campanha de 2014, o PSDB pretende resgatar o legado dos oito anos de governo Fernando Henrique?
Nós erramos gravemente ao não valorizarmos o nosso legado nos últimos anos. É uma responsabilidade coletiva do partido. Temos feito enorme esforço de valorização desse legado. Temos de refrescar a memória dos brasileiros que, se nós temos o Brasil de hoje, nós tivemos o governo do presidente Fernando Henrique com o controle da inflação, a modernização da economia, as privatizações, a Lei de Responsabilidade Fiscal. Todas essas, por mais que a presidente Dilma não reconheça, são heranças benditas. Tão benditas que, do ponto de vista da macroeconomia, foram mantidas pelo atual governo. Temos muito orgulho do nosso legado. Mas não vamos ficar apenas nele. Estamos com olhos no futuro. O PT comemorou seus 10 anos de governo com olho no retrovisor, talvez preocupado em o PSDB poder chegar muito perto e acabar atropelando.
O senhor teme sofrer retaliações por parte de José Serra, uma vez que aliados do ex-governador de São Paulo o culpam por ele ter perdido as eleições em Minas, em 2010?
De forma alguma. Isso é uma lenda. Essa é uma visão antiga e atrasada de quem não acompanhou as eleições em Minas. O resultado foi muito positivo. O Serra ganhou a eleição em Belo Horizonte. Ganhou com uma candidatura do PT e com a Dilma que é de Belo Horizonte. Você acha que é pouca coisa? Acho extraordinário. Essa avaliação é equivocada. O Serra teve em Minas Gerais um desempenho compatível com a campanha que nós fizemos com todo o nosso esforço. As pessoas mistificam muito essa história de divisão Aécio/Serra. Ele teve sempre o nosso apoio.
Seu nome hoje é o que mais une o PSDB?
O PSDB sabe que o instrumento que ele tem para eventualmente disputar com chances é a sua unidade. E ela vai acontecer. Seja em torno do meu nome, seja em torno do nome do Serra, do Geraldo Alckmin. Não estamos colocando nomes neste momento. Nós temos um objetivo maior: apresentar ao Brasil uma alternativa de projeto. O PT abdicou de ter um projeto de País para se contentar em ter exclusivamente um projeto de poder. E nós queremos apresentar algo novo para o Brasil, ousado, correto. O candidato vai ser aquele que tiver as melhores condições de unir o PSDB.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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