Após a “ rede ” de Marina, o lançamento de Dilma à reeleição e o discurso de Aécio, ontem foi a vez de o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), emitir sinais sutis de que está no páreo
Todos os movimentos para 2014
Com as últimas ações de Dilma, Aécio e Marina em direção à eleição presidencial do ano que vem, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, dá sinais de que entrará na disputa
João Valadares, Ana Luiza Machado
BRASÍLIA e GRAVATÁ (PE) — A semana com cheiro de 2014 chega ao fim com o movimento sutil do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para colocar os pés dentro do projeto de candidatura à Presidência da República. Após o lançamento da Rede Sustentabilidade, o novo partido de Marina Silva, do discurso do senador Aécio Neves contra o governo federal e da comemoração dos 10 anos do PT à frente do Planalto, que contou com a presença de Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff, Eduardo reuniu 184 prefeitos, ontem, em Pernambuco, e ofereceu um pacote de bondades.
Eduardo Campos aproveitou a insatisfação dos líderes municipais com a redução dos repasses federais para nacionalizar o discurso em torno da necessidade de um novo pacto federativo e, ao mesmo tempo, unificar o estado para marchar com ele no próximo ano. Apresentou-se didaticamente como o homem que estava fazendo o que o governo federal não faz por eles. Anunciou R$ 612 milhões em investimentos, entregou ambulâncias simbolicamente, ofertou poços artesianos, assinou ordens de serviço para implantação de barragens e criou o Fundo Estadual de Desenvolvimento Municipal (FEM).
Com a criação do fundo, Campos fustiga sutilmente a presidente Dilma Rousseff. O FEM nada mais é do que uma versão estadual do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O mecanismo financeiro foi criado para apoiar planos de trabalho municipais de investimentos, sobretudo nas áreas de infraestrutura urbana, educação, saúde e sustentabilidade.
Na saída do evento, o governador de Pernambuco repetiu a cantilena de que não falaria sobre 2014. “Tudo o que o Brasil não precisa é estar montando palanque. Nem essa velha rinha, discutindo passado, discutindo coisas que não estão na pauta do povo. A população está preocupada. O Brasil não cresceu no ano passado como se esperava. Temos que ajudar a presidente a fazer o Brasil se reencontrar com o seu crescimento, que gere felicidade, oportunidade. Não é possível eleitoralizar tanto a política brasileira assim.”
Ao ser questionado se sentia uma redução gradual da polarização entre PT e PSDB, Eduardo disse que só em 2014 será possível avaliar. “Não sinto isso. Acho que esse é um ano para a gente cuidar do trabalho, da sociedade. A pauta real do povo é essa aqui. Ninguém tem essa capacidade de definir como vai ser em 14, se essa polarização vai se assim ou assado”, ressaltou.
Aliados
Durante o encontro, todos pareciam orientados por Campos. Ninguém tratou explicitamente de 2014. De São Paulo, coube ao senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), antigo desafeto e hoje aliado, explicitar o que o governador tenta esconder. Em entrevista ao site Brasil 247, o parlamentar declarou ontem que a candidatura é irreversível. “Eduardo acaba de entrar em definitivo no jogo de 2014. É irreversível. A única hipótese que existia para ele não concorrer seria a de ser candidato a vice do próprio Lula. Mas como o ex-presidente se colocou fora da disputa, quem vai entrar é ele. Só faltava essa definição para Eduardo fazer sua própria escolha. Lula, na prática, o está empurrando a concorrer contra Dilma”, disse Vasconcelos.
No evento de ontem, a presença do senador Humberto Costa (PT) chamou a atenção. Ele foi derrotado nas últimas eleições para Geraldo Julio (PSB), candidato tirado por Eduardo Campos da cartola para expulsar o PT da Prefeitura do Recife após 12 anos de gestão. “Temos a certeza de que 2014 será um ano bem melhor. A economia vai se comportar de uma forma melhor. Os efeitos das medidas duras que fomos obrigados a tomar no ano passado começam a se manifestar”, declarou o petista.
Mesmo que de forma sutil, Humberto beliscou o PSB ao se referir às obras de transposição do Rio São Francisco, sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, comandado por Fernando Bezerra Coelho (PSB), e que sofre com o atraso no seu cronograma. “Sabemos que em 2013 vamos ter em atividade plena as obras da transposição, que é fundamental para a região, e a continuidade de investimento em outros órgãos de infraestrutura”, afirmou.
Dilma Rousseff
Após período de indefinição, a presidente Dilma Rousseff foi lançada candidata à reeleição pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O anúncio ocorreu em São Paulo, na festa de comemoração dos 10 anos do PT à frente do Planalto. Nos últimos eventos públicos, Dilma vem adotando discurso eleitoral. Em clima de palanque, afirmou em evento no início da semana: “Por não termos abandonado o nosso povo, a miséria está nos abandonando”.
Aécio Neves
O senador mineiro aproveitou o aniversário de 33 anos do PT e a comemoração de 10 anos do Partido dos Trabalhadores à frente do governo para ganhar espaço na mídia e reforçar seu nome para 2014. Com um discurso escrito, subiu à tribuna do Senado para apontar, na opinião do tucano, os 13 maiores fracassos do PT. Ainda não assume publicamente a candidatura, mas já adota uma postura eleitoral, pisando no principal calo da presidente Dilma, a economia.
Marina Silva
Amparada nos 20 milhões de votos que recebeu na última eleição presidencial, em 2010, Marina Silva já colocou o bloco na rua. No último sábado, lançou a Rede Sustentabilidade, reforçando a possibilidade de lançar candidatura em 2014. Ainda adota o discurso de que a criação da legenda não tem vinculação com as próximas eleições presidenciais, mas os apoiadores da Rede não escondem que estão de olho no Planalto.
Eduardo Campos
O governador de Pernambuco evita se colocar como candidato a presidente da República, mantendo o discurso exaustivamente repetido de que ainda não chegou a hora de falar em 2014. As movimentações de Eduardo Campos e dos correligionários, no entanto, tornam a candidatura do presidente do PSB cada vez mais incontestável. Mesmo colocando-se como aliado de Dilma, o socialista costuma aproveitar as oportunidades de alfinetar a área econômica.
“Parece quase iminente”, diz The Economist
A edição impressa desta semana da revista The Economist traz uma reportagem sobre a largada antecipada da campanha presidencial de 2014 no Brasil. Segundo a publicação inglesa, ao mesmo tempo que outubro do ano que vem está tão longe, “na verdade, parece quase iminente”. Produzida pelo correspondente da revista em São Paulo, a reportagem diz que Marina Silva, Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos ensaiam disputar a eleição presidencial daqui a um ano e meio e todos eles estão em articulações políticas para garantir a candidatura.
Fonte: Correio Braziliense
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