Um dia após o discurso de Aécio Neves (PSDB-MG) com críticas ao PT e da festa em que Lula lançou Dilma à reeleição, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), criticou a "eleitorização" (sic) da política. Ele, no entanto, foi saudado por prefeitos que foram a Recife receber R$ 612 milhões do estado aos gritos de "presidente"
Eduardo entra em campo
Governador pede fim das "velhas rinhas" e é aclamado por prefeitos aos gritos de "presidente"
Letícia Lins
Recado. Campos: "Ninguém tem capacidade de dizer como vai ser a polarização em 2014. Ninguém se engane"
GRAVATÁ, PE - Um dia depois da antecipação do debate eleitoral - quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu a reeleição da presidente Dilma Rousseff, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) atacou a gestão petista -, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), potencial candidato à sucessão presidencial em 2014, pediu ontem que não se "eleitorize" (sic) tanto a política brasileira e sugeriu que não se mantenham as "velhas rinhas", numa referência ao antagonismo PT x PSDB, que em nada contribuiriam para o futuro do povo brasileiro. Ele fez os comentários durante entrevista ao fim de cerimônia com 184 prefeitos pernambucanos, no seminário "Juntos por Pernambuco", no município de Gravatá, a 80 quilômetros da capital. E, apesar de seu discurso, acabou também em ritmo de pré-candidato: foi interrompido seis vezes por aplausos e aclamado aos gritos de "presidente", além de anunciar um pacote de bondades de R$ 612 milhões para as prefeituras.
Na quarta-feira, quando os petistas festejavam em São Paulo uma década no governo federal, Aécio Neves discursou em Brasília acusando o PT de ter paralisado o país, e os governos Lula e Dilma de terem acabado com a "herança bendita" deixada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Eduardo Campos não quis comentar a polêmica entre petistas e tucanos, mas criticou a antecipação da campanha.
- Acho que este é um ano complexo para o Brasil. Tudo que o país não precisa é estar montando palanque, manter essa velha rinha, discutindo o passado, coisas que não dialogam com a pauta do povo - afirmou. - A população está preocupada. O Brasil não cresceu no ano passado como se esperava, a gente tem que ajudar a presidente Dilma, ajudar a levar o país ao seu reencontro com o crescimento, que gera felicidade, oportunidade. Não é preciso "eleitorizar" tanto a política brasileira assim. Sinceramente, não vejo como ajudar o Brasil começando uma campanha eleitoral agora - completou.
No entanto, em seu discurso, Campos mostrou conquistas de sua gestão e prometeu avançar mais do que o país, em áreas estratégicas, como educação e saúde:
- Vamos colocar Pernambuco na melhor situação no que diz respeito à redução da mortalidade infantil no Nordeste e no Brasil. E estamos nos preparando para na próxima década darmos aos pernambucanos a melhor educação pública do país - prometeu. O governador apresentou, ainda, os resultados do Pacto pela Vida, programa do governo para a redução da violência que diminuiu o índice de homicídios em 24% no estado e em 48% em Recife, no período de cinco anos.
- É o único estado que acusa essa redução no Nordeste - vangloriou-se.
Em seguida, Campos anunciou o pacote de R$ 612 milhões para beneficiar os municípios de Pernambuco, dos quais R$ 228 milhões virão da criação de um Fundo de Desenvolvimento Municipal, que deverá beneficiar, inclusive, as prefeituras com pendências financeiras ou jurídicas e que não teriam acesso a novos recursos públicos. O dinheiro será a fundo perdido.
- São recursos que conseguimos cortando a despesa ruim, o custeio, que nos proporcionou uma economia de R$ 400 milhões, que nos ajudará a fazer investimentos para enfrentar a crise - afirmou. - Quantos aos R$ 278 milhões, serão transferidos aos municípios, sem burocracia, sem papelada, mas com controle da qualidade dos gastos - acrescentou.
No encontro, o governador voltou a reclamar do modelo tributário que penaliza estados e municípios, e lembrou que, para driblar as distorções, Pernambuco conta com legislação estadual que permite acesso a maiores cotas do Fundo de Participação dos Municípios por parte de cidades pequenas, principalmente no agreste e no sertão.
Apesar de ter sido chamado de presidente várias vezes durante o evento, ele preferiu desconversar em matéria de sucessão presidencial, embora esteja planejando visitar até dezembro todos os estados brasileiros.
- Sinceramente, este é um ano para cuidar do trabalho, da pauta da sociedade. A pauta real do povo é esta aqui. E acho que ninguém tem essa capacidade de dizer como vai ser em 2014 ou definir como vai ser a polarização, se vai ser assim ou assado. Ninguém se engane - advertiu.
Fonte: O Globo
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