segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sucessão passa pelas centrais

Repasses da União crescem 146% em quatro anos, e, em Minas, centro de apoio recebe investimento

Polarização nacional deve resultar em "guerra sindical" até outubro de 2014

Guilherme Reis

A relação entre os principais partidos brasileiros e as centrais sindicais é de simbiose. PSDB e PT garantem às entidades sustentação financeira. E a "atenção" com o movimento trabalhista nacional garante trunfos, em forma de militância, para a provável polarização no pleito presidencial de 2014, encabeçada pelo senador Aécio Neves e pela presidente Dilma Rousseff.

Em 2008, por decisão do então presidente Lula, as centrais sindicais passaram a receber 10% das receitas originárias do recolhimento do imposto sindical. Desde então, Dilma não só manteve os repasses, como mais do que dobrou os valores destinados às instituições. Há cinco anos, o aporte foi de R$ 65 milhões. Em 2011, chegou a R$ 124 milhões e, em 2012, alcançou, aproximadamente, R$ 160 milhões.

Em 2010, Aécio, que era governador de Minas Gerais, firmou uma parceria com a Força Sindical para a criação do Centro de Solidariedade e Apoio ao Trabalhador (CSAT). O convênio foi mantido na gestão de Antonio Anastasia até o fim do ano passado. A iniciativa recebeu aportes de R$ 8,3 milhões.

Em São Paulo, outro importante reduto tucano, a Força Sindical também obteve repasses do governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Os sindicalistas angariaram, por exemplo, em 2012, R$ 100 mil para promover o Momento Itália-Brasil na capital paulista.

O deputado federal e presidente do PSDB de Minas, Marcus Pestana, admite que o sindicalismo no país é uma bandeira que não pode ser deixada de lado para as pretensões de qualquer projeto de governo. "Claro que a presença dos sindicatos nos partidos é relevante. Eles alcançaram um nível elevado de representação. Queremos continuar fortalecendo o setor com nossas políticas", reconheceu.

Pestana explica que a aproximação do PSDB com o movimento começou com a chegada de Aécio ao governo de Minas. "O Aécio sempre se preocupou com a representação dos trabalhadores. Desde seu primeiro mandato, ele chamou os principais sindicatos para conversar e participar das decisões do governo".

O deputado federal petista Miguel Corrêa ressalta que sua legenda vai continuar lutando ao lado dos trabalhadores. "O sindicalismo está na raiz do PT. Nós não vamos abandonar essa bandeira. É muito importante que o governo federal siga atendendo às demandas das categorias", observou.

Análise. O cientista político Rudá Ricci acredita que todas as disputas sindicais já estão evidenciando o embate entre o PSDB e o PT. Na visão dele, até a eleição para o Planalto, no próximo ano, acontecerá uma "guerra sindical". "Tudo está atrelado a 2014. Os partidos perceberam a força dos sindicatos e estão cada vez mais presentes nas entidades. Nós próximos anos, nós vamos presenciar uma verdadeira guerra sindical", prevê.

O pesquisador observa ainda que, se o PSDB for derrotado na disputa nacional, o partido "será forçado a fazer uma modernização em sua estrutura, o que deverá abrir mais espaço para sindicalistas na legenda".

Pedetista assume pasta e promete diálogo e ouvidoria

Além da fundação do PSDB Sindical, em 2011, o governo de Minas tenta seduzir o movimento trabalhista no Estado, com a nomeação do deputado federal Zé Silva (PDT) para comandar a Secretaria de Trabalho e Emprego.

A manutenção de um quadro pedetista à frente da pasta é estratégica para que o PSDB estreite os laços com as centrais. A legenda de Zé Silva também tem relação histórica com a luta dos trabalhadores no Brasil.

Em seu discurso de posse, no começo do mês, o secretário evidenciou que os movimentos sindicais terão espaço de diálogo com o governo. "Uma prioridade é a necessidade de modernização das relações trabalhistas, buscando uma maior participação dos movimentos
sociais e da ação sindical nesse processo", prometeu.

Zé Silva garante que sempre teve um relacionamento "muito bom com os trabalhadores e que isso continuará durante sua gestão". O secretário afirma ainda que vai criar uma espécie de ouvidoria sindical dentro da pasta. "Nós queremos fortalecer o sindicalismo e, para isso, vamos criar um canal direto com eles na secretaria".

O deputado também ressalta que a vai tratar as centrais sindicais da mesma maneira, independente dos partidos que as estejam apoiando. "Não vamos fazer da secretaria um centro de representação partidária. De forma nenhuma pode haver um choque de interesses entre pessoas que tem a mesma de luta por direitos".

Braço do PSD envolveu a UGT

Não é só o PSDB que tenta atrair lideranças trabalhistas. O PSD também criou seu braço sindical. O presidente nacional do partido, criado em 2011, Gilberto Kassab, não perdeu tempo e criou o núcleo sindical da legenda juntamente com o nascimento da sigla. O PSD se aproximou da União Geral dos Trabalhadores (UGT), que é a terceira maior central do país.

O presidente da entidade sindical, Ricardo Patah, inclusive, é filiado ao PSD. Criada em 2007, UGT já conta, atualmente, com mais de 1.500 sindicatos filiados.

Em Minas Gerais, a União Geral dos Trabalhadores também possui laços estreitos com a legenda. O presidente da central no Estado é o deputado federal Ademir Camilo (PSD). O parlamentar tomou posse na entidade em 2011. A cerimônia contou com a presença do ex-prefeito de São Paulo.

A iniciativa de Kassab é parecida com a do PSDB: filiar-se a uma representação social numerosa. A diferença é que a nova legenda apoia o PT na esfera federal, o que garante a seus caciques a possibilidade conquistar apoio de outras centrais sindicais.

Fonte: O Tempo (MG)

Um comentário:

MUDE disse...

A reportagem deixa clara uma questão:
O que faz o PPS no Movimento Sindical? Afinal temos militantes atuando sem apoio dos Dirigentes Estaduais ou Municipais. Alguns afirmam que trata-se de um Movimento já "aparelhado" ou "em fase de acabar"...Desculpa para deixar os "pepesistas" sem apoio? Falta um Encontro Sindical do PPS tanto Nacional quanto Estadual.
Vagner Gomes - PPS/RJ