“Num tempo de autoproclamado neodesenvolvimentismo, apesar da modéstia das taxas de crescimento, pode-se prever que viveremos não 50 anos em 5, como na situação original, mas pelo menos 2 anos em 1 só, com a superposição de 2013 e 2014 num período mais ou menos contínuo de diferenciação de candidaturas, apresentação de programas divergentes e, por fim, eleições presidenciais propriamente ditas.
Sendo a política, na concepção de falecido político mineiro, sagaz e conservador, uma atividade que guarda relação com o fugaz desenho das nuvens, adivinhar o que nos reserva esse tempo compacto de dois anos é tarefa que assustaria até um autor acostumado a dramatizar ambições, imaginar golpes da fortuna, coreografar danças e contradanças na alma de personagens que não são nunca autores isolados de si próprios. Afinal, como lembrava Ulysses, o patrono da moderna democracia brasileira, as circunstâncias desempenham sempre função crucial, delimitando, corrigindo, ampliando ou mesmo anulando o papel que cada personagem se atribui no correr do drama.”
Luiz Sérgio Henriques, tradutor, ensaísta, um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil. É vice-presidente da Fundação Astrojildo Pereira e editor do site Gramsci e o Brasil. ‘De dramas e personagens’ , O Estado de S. Paulo, 24/2/2013.
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