"Não herdamos nada", disse a presidente Dilma no evento comemorativo dos dez anos do PT no governo federal.
O que à primeira vista pode parecer apenas arrogância esconde, na verdade, um estímulo à intolerância que começa a ficar cada vez mais evidente no discurso e na prática de setores do PT.
A tolerância é componente importante da vida política, assim como o respeito ao contraditório é pressuposto dos regimes democráticos: ambos garantem a convivência entre diferenças.
As recentes celebrações do petismo explicitaram com nitidez essa grave distorção.
Para muitos, trata-se de um traço do partido agravado pela posição defensiva que foi obrigado a assumir após a comprovação das irregularidades cometidas.
Até a legítima defesa de iniciativas do governo passou a vir embalada por desnecessária agressividade, refletindo projeto de poder apequenado pelos seus próprios interesses.
Ao mesmo tempo, talvez não por acaso, limites éticos e republicanos que ultrapassam o sentido formal da legalidade vão sendo atropelados. Foi o caso da presença da presidente em rede oficial de rádio e TV para atacar adversários.
Ao lado da defesa do controle da imprensa, ataques e calúnias que tentam destruir reputações, distribuídos nas redes sociais de forma orientada, transformaram-se em autêntica jornada contra instituições, como o Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público e a imprensa; contra autoridades constituídas e forças políticas que militam em outros campos.
São outras faces dessa tendência, que tem como objetivo dificultar o debate democrático. Nunca é demais lembrar que a intolerância é a antessala do autoritarismo.
Acredito que esta postura, crescente em alguns setores do PT, pode ser explicada também pelo desconforto causado pela percepção da sociedade sobre as contradições entre o discurso do passado e as práticas do partido no presente.
Nesse sentido, fiz há poucos dias perguntas que, acredito, são de muitos brasileiros.
Qual PT celebra dez anos no poder? O que fez do discurso da ética durante anos a sua principal bandeira eleitoral ou o que defende em praça pública os réus do mensalão?
O que condenou com ferocidade as privatizações conduzidas pelo PSDB ou o que as realiza hoje sem nenhum constrangimento? O que discursa defendendo um Estado forte ou o que fragiliza empresas públicas nacionais, como a Petrobras e a Eletrobrás?
O que ocupou as ruas lutando pelas liberdades ou o que, no governo, apoia ditaduras e defende o controle da imprensa? O PT que considerava inalienáveis os direitos individuais ou o que se sente ameaçado por uma ativista cuja única arma é a sua consciência?
Qual?
Aécio Neves, senador (PSDB-MG)
Fonte: Folha de S. Paulo
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