Lula montou o ringue de 2014, escolheu os adversários e deu ordem de combate. No “corner” vermelho, com a maioria absoluta do tempo de propaganda na TV, Dilma Rousseff (PT); com luvas azuis e amarelas e nove minutos a menos do que a rival, Aécio Neves (PSDB). À diferença do boxe, nesta eleição presidencial todos os segundos ficam dentro do ringue: Lula e o cronômetro, no canto de Dilma; FHC, no de Aécio. Quem ganha mais?
Do jeito que está armada, a briga é desigual. Com as alianças partidárias em vigor, triplicará a vantagem de propaganda da petista, em comparação ao candidato do PSDB. Nas contas sempre precisas do jornalista Daniel Bramatti, Dilma teria 12 minutos e 51 segundos por bloco de 25 minutos de propaganda eleitoral, contra apenas 3 minutos e 45 segundos de Aécio. Isto é: 3 minutos e 25 segundos da petista para cada minuto do tucano. Para ter uma ideia do que isso significa, em 2010 José Serra (PSDB), com 69% do tempo de TV de Dilma, recebeu o equivalente a 70% dos votos da petista no primeiro turno. No cenário atual, Aécio teria 49% menos tempo do que Serra teve na TV, e Dilma, 21% a mais do tempo que desfrutou quando foi eleita presidente. Faça as contas.
A menos que, como na luta livre, outros entrem no ringue junto com o tucano e contra a petista, é alta a chance de nocaute no primeiro turno. As entradas de Marina Silva (sem partido), pelo canto verde-amarelado, e de Eduardo Campos (PSB), pelo vermelho desbotado, não dão nenhum segundo a mais de TV a Aécio, mas obrigariam a defensora do título a batalhar em mais de üma frente. Cresce a chance de levar a decisão para o segundo turno. Mais do que qual ex-presidente está no “corner” de quem, importam para os presidenciáveis quais partidos vão ajudá-los a somar os minutos de que tanto precisam para aparecer na TV e no rádio, tornarem-se conhecidos e terem alguma chance de convencer o eleitor de que são a melhor escolha na hora de votar em 2014.
Por ora, eis o que Dilma tem no seu cronômetro, além dos 2 minutos e 49 segundos do PT: 2’26” do PMDB; 1’19” do PP; 1’10” do PR; 44“ do PDT; 38” do PTB; 27” do PC do B e do PSC; 15” do PRB, o témpo de nanicos;e, novidade da próxima eleição, o 1’39” do PSD. Tudo isso somado aos cerca de 50 segundos a que todo presidenciável deve ter direito e ela chega a 12’51” de 25’. É um arco de tempos e forças bem mais poderoso do que o de 2010.
Enquanto isso, Aécio conta com os 1’43” do PSDB; OS 46” do DEM; os 15” do PPS; e se tiver, digamos, sorte, com os segundos de alguns nanicos. Não chega a quatro minutos. É insuficiente, mas é melhor do que a situação das “costelas do projeto petista”, como o tucano chamou as candidaturas de Marina e Eduardo Campos.
Se tiver só o PSB a apoiá-lo, o governador de Pernambuco apareceria por apenas 1 minuto e 54 segundos a cada bloco de propaganda na TV. E Marina Silva, mesmo que atraia toda a bancada do PV para a sua rede, não passaria de 1’11” — ou 11 segundos a menos do que apareceu na campanha de 2010. Campos e Marina estariam à mercê das circunstâncias. Por causa dessa divisão de tempo inviável para a oposição, os primeiros rounds da luta presidencial serão necessariamente pela busca de alianças partidárias que desarrumem o “corner” de incumbente. Não foi à toa que Lula correu para assegurar ao PMDB seu lugar na chapa como vice de Dilma e garantir seus quase dois minutos e meio para a pupila.
Pela quantidade de segundos que têm a barganhar, PSD, PP e PR devem ser os próximos a serem cortejados, tanto por petistas quanto por tucanos. Por essa lógica, aumenta a probabilidade de cargos no governo e verbas choverem nas hortas das três siglas. Mas não só para eles: PDT, PTB e PC do B devem criar dificuldades para vender facilidades ao governo - qualquer governo. Nesse jogo, Marina tem menos a oferecer.
As siglas que não quiserem ou não puderem se coligar a um nome da oposição sempre podem ameaçar lançar candidatura própria. Quanto mais candidatos a presidente, menor o tempo de TV de Dilma e melhor para quem quer derrotá-la. Na hipótese analisada neste texto, PSOL, PSTU, PCO, PCB, PSDC e PRTB também lançariam candidatos — além da atual presidente, de Aécio, Campos e Marina. Para cada novo partido que tiver candidatura própria, saem cerca de 50 segundos do bolo que é dividido entre os partidos com representação na Câmara e cujos apoios viram tempo de TV. Não é muito, mas cada segundo conta.
O tempo de TV não é tudo numa eleição. Se a confiança do eleitor-consumidor desabar, não há propaganda que seja capaz de convencê-lo a votar no candidato da situação. Ele vai querer mudar e escolherá alguém da oposição. Mas, mantidas as atuais condições de temperatura e pressão, Dilma sai favorita e com um tempo de TV capaz de ajudá-la a se reeleger no primeiro turno. Cabe à oposição mudar isso e dar alguma emoção à disputa.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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