segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Desafio de ideias

Candidatos ao Planalto em 2014 encontram dificuldade em apresentar propostas novas para o futuro da economia. Por enquanto, tucanos e petistas só trocam acusações

Paulo de Tarso Lyra

Os embates entre PT e PSDB na última semana mostraram que os prováveis rivais na eleição presidencial de 2014 duelam, até o momento, entre a “paternidade do povo” e a autoria das medidas econômicas. O PSB, aliado do governo mas que ensaia um voo solo com Eduardo Campos no ano que vem, tem dificuldades em apresentar alternativas e Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, não expôs qualquer plataforma econômica, apenas a certeza de que o desenvolvimento se dará dentro dos parâmetros da sustentabilidade.

Enquanto isso, diante da dificuldade dos futuros presidenciáveis em unir os dois conceitos (econômicos e sociais), o Produto Interno Bruto (PIB) derrete — na sexta-feira deve ser anunciado um resultado pouco melhor do que 1% — , a inflação beira os 6% e o câmbio prejudica as empresas exportadoras. Em 2010, o debate econômico e o aprofundamento das propostas para o país foi prejudicado por denúncias de espionagem de candidatos e por um segundo turno dominado pela polêmica em torno do aborto. Até o momento, o cenário segue sombrio.

Analistas esperam ainda as propostas alternativas. Os economistas já apontaram que a estratégia do PT de desonerar produtos para estimular o consumo estão saturadas devido ao alto nível de endividamento das famílias. O caminho seria uma atenção maior às obras de infraestrutura, ainda emperradas pela timidez e desconfiança da iniciativa privada quanto ao intervencionismo do governo. Já o PSDB esbarra em crescimentos baixos nos anos do governo Fernando Henrique Cardoso. Além disso, os tucanos não conseguiram se livrar da pecha de privatistas que o PT lhes impôs nas últimas três eleições presidenciais — 2002, 2006 e 2010.

Enquanto ações concretas não são apresentadas, a batalha de palavras é a tônica da antecipação da campanha eleitoral. Na última quarta-feira, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, questionou o tucano Aécio Neves (PSDB-MG), alegando que, em meia hora de discurso, o provável candidato de oposição a 2014 não havia proferido as palavras povo, gente e pessoa. O aparte não foi descontextualizado. Lindbergh está sob a tutela do marqueteiro João Santana e sabia que o evento de celebração dos 10 anos do PT à frente do governo federal naquela noite seria “do povo, pelo povo e para o povo”.

Secretário de Organização do PT, Paulo Frateschi acusou os tucanos de apontar erros e problemas onde eles não existem. Uma das críticas de Aécio, por exemplo, foi em relação à ausência do câmbio flutuante, utilizado pela equipe econômica como uma maneira de controlar a inflação. “Todos os países regulam o câmbio em momentos de crise, por que não podemos fazer o mesmo?”, questionou Frateschi.

Outra reclamação da oposição apontada por Frateschi é o baixo crescimento do PIB em 2012, que deve superar pouco os 1%. “Os Estados Unidos estão se recuperando, mas a Europa ainda está afundada na crise. Nossos parâmetros de crescimento dos próximos anos devem ser esses mesmo, 2%, 2,5%. Muito longe da recessão que afeta outros países”, defendeu o secretário de organização do PT.

Ele afirma que a oposição se esconde atrás do debate econômico — “inventando muitas vezes coisas como o risco de um racionamento de energia” — porque não consegue ter uma ligação direta com o povo e não apresentou, nos tempos em que esteve no poder, propostas ou projetos que permitissem a inclusão social dos pobres. “Nessa área não dá para concorrer com o PT, nós damos um show neles”, enalteceu Frateschi.

Adaptações

O secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro, nega que o discurso de Aécio Neves na última quarta-feira — no qual apontou 13 fracassos do governo do PT, a maior parte deles na área econômica — esteja desconectado da realidade. “Claro que precisaremos fazer algumas adaptações durante a campanha eleitoral. Mas estamos diante de um desastre econômico e temos que mostrar isso à população”, justificou.

Para Castro, o PSDB não pode se concentrar apenas no debate econômico. “Quando chegar o horário eleitoral, não poderemos ficar só falando de juros, de inflação e de economia para os eleitores. Mas precisamos mostrar como isso afeta o dia a dia deles”, lembrou o tucano mineiro. Logo após o discurso de Aécio, os senadores Cássio Cunha Lima (PB) e Aloysio Nunes Ferreira (SP) saíram em defesa do correligionário. “Os petistas, mais uma vez, mostraram a sua incapacidade de ouvir”, afirmou Cássio. “Esse não foi um discurso eleitoral, esse se dará no momento certo. O discurso de Aécio foi um discurso político apropriado para o momento”, completou Aloysio Nunes Ferreira.

Um dos principais defensores da candidatura própria do PSB à presidência em 2014, o deputado federal Júlio Delgado (MG) criticou o anúncio feito pelo governo federal, na semana passada, de ampliar o valor do Bolsa Família na tentativa de erradicar os últimos resquícios da miséria extrema do Brasil. “Depois de 10 anos no governo, o êxito seria provado se o PT estivesse diminuindo os recursos do Bolsa Família, não aumentando a dependência das pessoas”, completou Delgado.

Os argumentos

Confira o discurso econômico dos partidos

O PSDB afirma que
» PT sucateou as empresas estatais
» Jogou no lixo o tripé macroeconômico — câmbio flutuante, metas de inflação e superavit primário — criado durante os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso
» Loteou os cargos públicos, tirando a meritocracia e a eficiência da máquina pública brasileira

O PT afirma que
» O PSDB está desconectado do povo
» Os governos de Dilma e Lula permitiram a ascensão de 40 milhões de pessoas das classes D e E para a classe C, sucedendo um governo elitista
» O PSDB pratica um discurso terrorista ao afirmar que existe risco de racionamento de energia

O PSB afirma que
» Existe insegurança por parte dos investidores
» O governo do PT provocou um afrouxamento no modelo econômico que deu certo até agora
» O PSDB não consegue planejar políticas sociais que resolvam a questão da desigualdade

Discurso desafinado

A 19 meses das eleições, os possíveis candidatos à Presidência da República não conseguiram unir as duas pontas do discurso: a economia e o social. É verdade que o mundo inteiro sofre os efeitos da crise financeira internacional. Mas também é fato que boa parte das fragilidades enfrentadas atualmente pelo Brasil decorre dos exageros cometidos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reajustando salários, desonerando setores e permitindo um afrouxamento do modelo econômico no afã de eleger como sucessora a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

O PSDB, por outro lado, é o responsável pela implantação do regime de metas de inflação, câmbio flutuante e superavit primário, que tiraram o país do obscurantismo econômico e permitiram um mínimo de planejamento a longo prazo. Mas o próprio PSDB reconhece que a marca social da inclusão é inerente ao PT, com o deslocamento de 40 milhões para a classe C e outras políticas como o Prouni.

E o PSB? Está ao lado do governo desde 2003 e, a rigor, quase sempre marchou ao lado do PT. Agora que prepara o desembarque, estuda qual o melhor momento para a saída. Se for com a economia em frangalhos, pode ser acusado de traição. Se ajudar na recuperação do país ao longo de 2013, terá pavimentado o caminho da reeleição de Dilma.

Por fim, Marina Silva e o novo partido terão uma longa batalha até outubro para se concretizarem perante o TSE. Até o momento, Marina tem a marca do desenvolvimento sustentável — sem apontar caminhos para tal — e da ética. Em 2010, quando as grandes questões do país não foram discutidas, essas duas bandeiras bastaram. Será que serão suficientes em 2014?

Fonte: Correio Braziliense

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