quinta-feira, 7 de março de 2013

Dilma rebate Aécio em fala a prefeitos e governadores

Tucano reage e diz que Planalto relança obras anunciadas em janeiro

Givaldo Barbosa

BRASÍLIA - No encontro com 16 governadores e dezenas de prefeitos para distribuir R$ 33 bilhões do PAC da Mobilidade Urbana para capitais e cidades médias, a presidente Dilma Rousseff fez um discurso politizado, valorizando o empenho de estados e municípios em tocar as obras e pregando a parceria com seu governo. A disputa eleitoral de 2014 também esteve presente na fala de Dilma, quando ela respondeu indiretamente à crítica de seu provável rival no pleito presidencial do ano que vem, o tucano Aécio Neves (MG), que sugeriu que o governo quer acabar com a miséria por decreto.

- Todo mundo acha que o Bolsa Família a gente faz na canetada. O Bolsa Família precisou de arte e engenho. Precisou de vontade política. Só uma experiência de dez anos permitiu que a gente olhasse e visse que dava para tirar (as pessoas da miséria) porque tínhamos um cadastro adequado, um cartão. Não é milagre, não é malabarismo, nem estatística - discursou a presidente.

Dilma fez rasgados elogios ao ex-presidente Lula, que criou o Bolsa Família, e, segundo ela, provou ser possível atenuar a desigualdade social. Para a presidente, se não fossem os governos de Lula e o dela, milhões de brasileiros ainda estariam na miséria:

- O presidente Lula deu a grande contribuição de mostrar que o Brasil podia distribuir renda e diminuir a desigualdade. Essa é uma prova histórica. Se não tivesse Bolsa Família nem no governo Lula nem no meu governo 36 milhões de pessoas estariam na extrema pobreza.

À tarde, no Senado, Aécio Neves respondeu às alfinetadas de Dilma. Desde que o PT "lançou" a candidatura à reeleição da presidente, a troca de acusações entre tucanos e petistas tem sido constante. O senador voltou a afirmar que o Bolsa Família era uma herança do governo Fernando Henrique e que o evento de ontem no Planalto era, na verdade, um "relançamento".

- Havia dito que o Palácio do Planalto havia se transformado em um Cabo Canaveral, cada semana um lançamento novo. Mas dessa vez o Planalto se superou, porque nem Cabo Canaveral faz relançamentos. A presidente lança hoje um conjunto de obras de saneamento que já havia lançado em janeiro para os prefeitos. São os mesmos recursos. A presidente perde uma enorme oportunidade de resgatar pelo menos um dos muitos compromissos de campanha que ficaram pela estrada - criticou Aécio.

Os convidados da presidente no Planalto também receberam afagos dela, que fez questão de destacar que o governo federal precisa da colaboração dos governadores e prefeitos para fazer obras estruturantes. Ela reconheceu que, embora investimentos em saneamento não sejam atribuição do governo federal, é preciso juntar as forças dos três entes da federação para levar à população serviços essenciais. E elogiou a qualidade dos gestores presentes:

- Não existe Brasil, e quero dizer para vocês, também não existe governo federal, não. Nós não fazemos um metro de tubulação, não fazemos nem meio trecho de pavimentação de rua, não fazemos nada de mobilidade. Mas podemos ajudar trabalhando juntos. Eu acredito que poucas vezes nós tivemos governadores com tamanha qualidade, prefeitos com tamanha qualidade, e isso é muito importante.

Para os convidados, o discurso da presidente teve forte tom eleitoral. O governador Cid Gomes (CE), aliado de Dilma, foi um dos que saíram com essa impressão.

- Foi um discurso de presidente e candidata à reeleição. De uma estadista, que está se preparando para governar o Brasil hoje e amanhã - disse Cid, que criticou, no entanto, o ex-presidente Lula por ter antecipado a campanha.

Já o petista Marcelo Déda, governador de Sergipe, negou contexto eleitoral:

- É uma situação extremamente ridícula comparar um projeto de nação com eleições, que acontecem a cada dois anos. Não podemos parar o país a cada dois anos por causa de eleições.

O tucano Geraldo Alckmin (SP) evitou críticas à presidente, classificando seu discurso de federativo. Na solenidade, o governo anunciou a destinação de R$ 33 bilhões para projetos. Os investimentos são parte da segunda etapa do PAC, e já haviam sido anunciados pela própria Dilma em janeiro.

No início da noite, em reunião com representantes das centrais sindicais, Dilma encaminhou a regulamentação da negociação trabalhista e do direito de greve no setor público, mas não deu esperanças em relação à redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e ao fim do fator previdenciário.

- Vamos ter de buscar uma fórmula aceitável - disse Dilma, classificando como "muito difícil" a aprovação da redução da jornada de trabalho no Congresso. - Eu só prometo o que posso cumprir.

Fonte: O Globo

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