O espectro da perenização do chavismo ronda a Venezuela, mas não tanto a América do Sul.
Golpista em 1992 e vítima de golpe dez anos depois, o tenente-coronel Hugo Chávez tinha duas obsessões: igualdade social e América Latina. Custasse o que custasse.
Em 14 anos de poder, reduziu a miséria do país de 49,4% para 29,5%, segundo a Cepal. E os pobres venezuelanos não ganharam só recursos, mas também autoestima. Isso, ou esse chavismo, não tem retorno.
O apoio popular -potencializado pela morte e aliado à submissão do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e dos militares- é mais do que suficiente para eleger o ex-chanceler Nicolás Maduro em 30 dias. Mas dificilmente para eternizá-lo, como eternizou o próprio Chávez.
Maduro terá dificuldade para manter a coesão do poder chavista. Sem a liderança inquestionável do "comandante", as disputas intestinas devem explodir assim que passar o luto. Como ocorreu com o peronismo na Argentina e com o Partido Colorado no Paraguai, os herdeiros do chavismo tendem a se multiplicar -e a guerrear entre si.
Com sobrevida na Venezuela, o chavismo tem menos chances na América do Sul, onde o lulismo prevalece. Chávez e Lula personificam as maiorias de seus países, mas Chávez centralizou, Lula negociou; Chávez estatizou, Lula abriu.
Falta gás (não literalmente) ao Equador, à Bolívia e à curiosa Argentina para conduzir adiante e disseminar o chavismo, ou "socialismo do século 21" ou mesmo a Alba (aliança bolivariana). Especialmente tendo Brasil, Chile, Colômbia, Peru, Paraguai e o peculiar Uruguai aderido ao pragmatismo desenvolvimentista.
A grande vitória de Chávez foi na área social, a derrota foi na economia. A Venezuela cresce, mas com inflação, desabastecimento e violência. E sem eliminar a excessiva -e nociva- dependência do petróleo.
Em tempo: sem Chávez, a região perde metade da graça.
Fonte: Folha de S. Paulo
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