Morreu! Que se homenageie e se pranteie.
Mas que se enterre o falecido e que a vida siga seu curso.
Hugo Chaves, goste-se ou não dele, foi uma figura polêmica e marcante nas últimas décadas na política sul-americana. De líder de golpe de estado fracassado passou a presidente eleito democraticamente e, após isso, tornou-se um persistente e obstinado político que tudo fez para se perpetuar no poder, equilibrando-se no perigoso limite entre um regime de força pura e simples e a manutenção da institucionalidade formal e democrática.
Sua importância real, inclusive a consistência de seu ideário e "teoria" políticos, os tais bolivarianismo e socialismo do Século XXI, são assuntos que serão objeto de avaliação histórica e sabe-se lá o que ficará de pé.
Porém, o que deveremos medir de imediato com o episódio será a maturidade política e democrática da Venezuela e, por tabela, da América do Sul. E o cenário inicial não se mostrou muito alvissareiro.
A denúncia estapafúrdia de que a doença maligna do presidente morto teria sido culpa do "imperialismo norte-americano"; o anúncio solene e pomposo de apoio ao regime pela cúpula das forças armadas; a agressão física a jornalista que buscava a cobertura dos fatos próximo ao hospital; as insistentes e onipresentes aparições do vice - não eleito - Maduro como porta-voz e herdeiro político do líder falecido; o clima de misticismo religioso e de comoção popular, são indícios que pode estar em andamento a tentativa de se pavimentar o caminho para soluções não democráticas.
Independente das filigranas jurídico-constitucionais sobre o mandato que se encerra com a morte, tendo havido ou não uma posse, o certo é que o caminho previsto pela lei venezuelana é que um novo mandatário da nação deva ser escolhido em eleição.
O que deve ser resguardado o máximo possível, vencidas as tentações golpistas, é que tais eleições se dêem em clima civilizado, com regras claras e evitando o clima de beligerância social e "ideológica" que parece ser a tônica das declarações e atos de Maduro e dos mais engajados chavistas e bolivarianistas, principalmente aqueles vinculados à máquina estatal.
A postura dos países da região, e do Brasil com significativo peso, acompanhando os acontecimentos e buscando refrear as veleidades golpistas e militaristas , venham de onde vierem, é de fundamental importância para a normalidade democrática na América Latina.
Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém...
Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário