Num momento de desconforto para o governo, o PSDB abre hoje, na Câmara dos Deputados, uma exposição comemorativa de seus 25 anos de fundação, 19 anos do Plano Real e 82 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na sequência, o senador Aécio Neves dá a partida nas viagens que pretende fazer aos Estados na condição de pré-candidato do PSDB a presidente da República, em 2014.
Como previsto, Aécio começará o périplo pelo Nordeste, região fundamental nos planos de reeleição da presidente Dilma Rousseff. O cenário das festas juninas de Caruaru (PE) e Campina Grande (PB) servem de pano de fundo da tentativa do senador mineiro para consolidar, de uma vez por todas, sua indicação pelo PSDB. A festa de hoje é importante para o plano de voo de Aécio, mas também parece fora de foco olhada pelo visor das ruas tomadas pelas manifestações de ontem.
Uma coisa era dado como certa no PSDB, antes da ocupação das ruas: o centro da campanha de Aécio, vencidas etapas preliminares, não deveria ser o PT. Após três derrotas sucessivas, o PSDB parecia compenetrado de que, para vencer as eleições, teria que tirar votos do eleitorado que está do outro lado. Enquanto isso, seria vantagem para o tucano, que precisa se tornar mais e mais conhecido, terçar armas com a presidente da República, como ocorre quando os dois se utilizam do Velho do Restelo, personagem de Camões símbolo do pessimismo, para criticar as atitudes de PT e PSDB quando na oposição.
Aécio aposta em campanha capaz de ampliar eleitorado
Mas Aécio, tão perplexo quanto aparentemente o governo que combate, não resistiu à tentação de surfar na onda. "Os protestos devem ser compreendidos antes de rotulados", escreveu o candidato em sua página no Facebook. "Vivemos num mundo novo e as redes sociais permitem um inédito compartilhamento de ideias e sentimentos".
O tucano escorregou ao tentar sentar no banco do carona dos manifestantes: "É nítida a existência de um forte sentimento de insatisfação, especialmente entre os jovens, e que, ainda que de forma difusa, ganha as ruas e precisa ser respeitado".
Segundo Aécio Neves, "são brasileiros de diversas partes do país se mobilizando, entre outras questões, contra o aumento de passagens, contra a baixa qualidade dos serviços públicos, de transporte, de saúde e de educação, contra os desvios éticos na política e contra a pressão exercida pelo aumento do custo de vida", escreveu. "São brasileiros que enviam um recado à sociedade, em especial, aos governantes, e que precisam ser escutados".
Ao se solidarizar com os manifestantes, Aécio desviou do plano de voo original. Hoje, além de Fernando Henrique Cardoso, cuja história de governo Aécio se diz empenhado em resgatar, o anfitrião aguarda a presença de José Serra e seus aliados no partido. É fundamental para o pré-candidato demonstrar que pode ser o ponto de convergência partidária. As pesquisas de opinião divulgadas mais recentemente ajudaram o senador nesta empreitada - na pesquisa CNT/MDA, Aécio já apareceu à frente de Marina Silva (Rede Sustentabilidade). E entre os eleitores que conhecem os eventuais candidatos, o segundo turno já aparece em perspectiva.
Aécio quer alcançar rapidamente o patamar do PSDB em eleições passadas. Com 14% medidos pelo Datafolha, o senador está mais ou menos com o que tinha Geraldo Alckmin em junho de 2005, quando o cenário da candidatura do PSDB ainda não estava tão nítido como agora (outros nomes como os de Serra e de FHC eram sondados pelos institutos de opinião também). A expectativa de poder é combustível para a candidatura do PSDB.
Aparentemente, o desempenho de Aécio é normal e o programa partidário na televisão não serviu para turbinar sua candidatura, embora seja muito comemorado na direção partidária. Hoje começam as inserções do PSDB de São Paulo no rádio e na televisão, com a participação de Aécio Neves defendendo a criticada política de segurança pública do governador do Estado, Geraldo Alckmin.
Aécio precisa "fechar" logo o PSDB, para dar curso às conversas com os outros partidos. Nesse sentido, as últimas pesquisas foram um elixir para o presidente do PSDB, ao mostrar queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff e o crescimento das intenções de votos no tucano.
Na incursão ao Nordeste, Aécio deve almoçar com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. No momento, os dois estão aliados na tese segundo a qual as três candidaturas em oposição à presidente Dilma Rousseff (Aécio, Eduardo e Marina) aumentam as chances de segundo turno.
Aliado à esta altura, o governador Eduardo Campos também é uma ameaça para Aécio. Na última semana, diante da investida do PSB sobre Márcio Lacerda, para a montagem de um palanque para Eduardo em Minas, o tucano convidou o prefeito de Belo Horizonte para se filiar ao PSDB.
Desatar o nó da sucessão de Antonio Anastasia no governo de Minas Gerais é um desafio que melhor seria para Aécio adiar, enquanto se consolida dentro do eleitorado do PSDB, mas que insiste em mostrar sua urgência: o sucesso de sua candidatura a presidente pode alavancar qualquer nome à sucessão estadual. Lógica que vale também para Dilma e o provável candidato do PT em Minas Gerais, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).
Antes de ir ao interior de São Paulo, outra prioridade do pré-candidato junto com a viagem ao Nordeste, Aécio fará outra escala junina: a convite do prefeito de Manaus, Artur Virgílio, vai à festa do boi de Parintins (AM).
O; PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esperam para ver o que o vice-governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, tem para mostrar e só então liberar a candidatura do senador Lindbergh Farias a governador do Rio. Lindberg deve hibernar até o ponto, segundo se avalia no PT, em que ficar claro que a candidatura do PMDB não decolou.
Fonte: Valor Econômico
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