Manifestantes ocupam o teto do Congresso Nacional, em Brasília. Atos se multiplicam e ocorrem em pelo menos 20 cidades
Uma nova onda de protestos, maior que as anteriores e com um leque de reivindicações mais amplo, tomou conta das ruas de importantes cidades em diferentes ponto do país. A “revolta da tarifa” ocorreu em pelo menos 20 municípios, reunindo milhares de pessoas. Cenas de violência foram registradas em Brasília e quatro capitais – Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba.
Na Esplanada dos Mi¬nistérios, na capital federal, houve invasão do teto do Congresso Nacional e até o fechamento desta edição eles permaneciam lá. No Rio, houve confronto entre manifestantes e a PM após ameaça de invasão da Assembleia Legislativa e depredação de prédios históricos. Na capital paranaense, um grupo de manifestantes pichou as paredes do Palácio Iguaçu, sede do governo do estado.
Alta da passagem foi estopim para as insatisfações
Queixas contra a corrupção e a Copa do Mundo passaram a integrar o coro dos manifestantes. Mobilização via internet deu força aos movimentos
20 mil pessoas marcham em cidades do Paraná
10 mil pessoas caminharam pelo Centro de Curitiba. Parte deles tentou invadir o Palácio Iguaçu. Houve prisões e pelo menos um ferido
Rio leva 100 mil pessoas às ruas
Ato transcorreu de forma pacífica por mais de duas horas, mas situação ficou tensa quando um pequeno grupo tentou invadir o prédio da Assembleia Legislativa. Houve depredações e manifestantes e policiais feridos
Multidões
Há pouco mais de 20 anos o Brasil não assistia a tantas manifestações populares como as que vêm ocorrendo:
1992 – Várias cidades do país foram palco de passeatas pedindo o impeachment do presidente Fernando Collor. Na maior delas, centenas de milhares de pessoas foram às ruas vestindo preto em reação ao pedido de Collor para que a “maioria silenciosa” saísse de verde e amarelo.
1984 – Dezenas de comícios foram organizados nas principais cidades brasileiras. O maior deles, em São Paulo, contou com 1,5 milhão de pessoas.
1968 – A “Passeata dos 100 mil”, reuniu intelectuais, artistas, padres, professores, entre outros, na zona conhecida como Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, num protesto contra a ditadura militar e em consequên¬cia do assassinato do estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, durante confronto com a Polícia Militar.
1964 – O golpe militar foi precedido por grandes movimentos populares. Dias antes, A Marcha da Família com Deus pela Liberdade reuniu centenas de milhares de manifestantes em reação às reformas de base anunciadas pelo presidente João Goulart, no Rio de Janeiro.
Em geral, os protestos Brasil afora carregaram várias bandeiras, além de questionar as tarifas do transporte coletivo – de ética na política a investimentos em saúde e contra gastos da Copa. Tiveram a participação de ao menos 250 mil pessoas. Só no Rio de Janeiro foram 100 mil. Em São Paulo, a quinta manifestação reuniu 65 mil e foi a primeira sem violência. Em Curitiba, cerca de 10 mil pessoas participaram da marcha, que transcorreu pacificamente na maior parte do percurso.
Em Brasília, a invasão à laje do Congresso foi liderada por um grupo de skatistas e punks, mas foi seguida por centenas de manifestantes, na maioria jovens, com gritos como “o Congresso é nosso”. Cartazes com os dizeres “Fora Renan” e “Fora Feliciano” apareceram no ato, referindo-se ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RN) e ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o pastor evangélico Marco Feliciano (PSC-SP).
No Rio, as ações foram concentradas diante da sede da Assembleia Legislativa. Em São Paulo, representantes de partidos foram impedidos de levantar bandeiras. “Não é comício. Fora partidos”, gritaram manifestantes durante a concentração inicial, no Largo da Batata, no bairro de Pinheiros. Em Porto Alegre, uma das principais exigências levadas às ruas foi maior transparência dos negócios públicos, para se evitar a corrupção.
Solidariedade
Em diversos locais os participantes receberam demonstrações de simpatia dos moradores das ruas por onde passavam. Nas imediações do Largo da Batata, em São Paulo, um grupo de mães organizou um ponto de apoio para mulheres que levaram crianças ao ato. Um pouco mais adiante, na Avenida Brigadeiro Faria Lima pessoas saíram às janelas dos edifícios comerciais para aplaudir e jogar papel picado sobre a passeata.
Defensores do meio ambiente, feministas, organizações de direitos humanos, professores, e pais de manifestantes presos em manifestações anteriores foram alguns dos grupos que aderiram ao protesto na capital paulista. Em Belo Horizonte, motoristas improvisaram um buzinaço de solidariedade.
Marcha em Brasília acende sinal amarelo no Palácio do Planalto
Preocupada com a onda de pro¬testos que tomou conta das principais capitais, nos últimos dias, a equipe da presidente Dilma Rousseff monitora cada vez mais de perto os movi¬mentos de rua, que assumiram proporções inesperadas. Embora Dilma afirme que manifestações pacíficas são “legítimas e próprias da democracia”, a marcha que tomou conta da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes acendeu o sinal amarelo no Palácio do Planalto.
Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma avaliam que há um sentimento difuso de contestação a “tudo que está aí”, e não só aos R$ 0,20 de aumento na tarifa de transporte – mote para os primeiros dias de fúria em São Paulo e no Rio. O receio, agora, é que a insatisfação fuja do controle e contamine a avaliação dos governos petistas, de Dilma ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, prestes a completar seis meses no cargo.
Informações que chegaram ao Palácio do Planalto indicam que as manifestações não têm uma liderança unificada, embora fossem puxadas, inicialmente, pelo Movimento Passe Livre. A Polícia Federal detectou nos protestos integrantes do PSTU, do PSOL, punks, anarquistas e apartidários. O problema, porém, é que o Planalto não sabe de onde vêm exatamente os protestos e há, cada vez mais, um acirramento dos ânimos. “É próprio da juventude”, disse Dilma, nesta segunda, amenizando o desconforto com a situação.Num momento de escalada da inflação, aumento dos juros, preços mais altos no supermercado e ameaça de desemprego no horizonte, a presidente tenta “vender” otimismo em suas aparições públicas.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)
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