Convocados pelas redes sociais, milhares de manifestantes tomaram as ruas de Belo Horizonte, São Paulo, Rio, Brasília, Salvador e outras seis metrópoles. Os protestos, que haviam começado há duas semanas na capital paulista contra o aumento das passagens de ônibus, ganharam a adesão de outros movimentos sociais e políticos, numa onda que sacudiu quase todo o país.
Protesto e pancadaria
Manifestação começou pacífica na Praça Sete, mas terminou em confronto com a Polícia Militar, que usou balas de borracha e bombas de gás para impedir milhares de pessoas de chegar ao Mineirão
Bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, tiros de balas de borracha, vandalismo e pelo menos seis pessoas feridas no confronto entre manifestantes e policiais militares, e mais de 115 quilômetros de congestionamentos pela cidade. Belo Horizonte ficou sob protesto e pancadaria ontem durante manifestação de cerca de 20 mil pessoas, segundo a PM, que se estendeu da Praça Sete à Pampulha. À noite, eles retornaram para o Centro e fecharam a praça. Entre os manifestantes estavam estudantes, professores, policiais civis e pessoas convocadas por outras entidades. Os motivos foram variados: custo do transporte coletivo, baixos salários, precariedade dos serviços públicos, corrupção e o grande volume de recursos destinados às obras da Copa do Mundo. A PM informou que apenas reagiu a agressões físicas dos manifestantes, que tentaram furar o bloqueio.
A concentração começou às 13h, na Praça Sete. Em pouco mais de meia hora, a multidão se reuniu, vigiada por um grande efetivo formado por policiais dos batalhões de Choque e de Trânsito e de outras unidades da PM. A saída foi às 13h45, quando um grupo inicial de aproximadamente 5 mil pessoas seguiu pela Avenida Afonso Pena e pelo Viaduto A, ao lado da rodoviária. Por onde passaram, eles pararam o trânsito. Ônibus e carros precisaram dar meia-volta e passar sobre o canteiro central para fugir do congestionamento. Várias ruas do Centro tiveram o trânsito desviado. Impedidos de passar, houve quem se irritou.
As 12 faixas de trânsito da Avenida Antônio Carlos foram ocupadas pela multidão formada por cerca de 100 entidades, segundo os organizadores. Desmentindo os cálculos da PM, o movimento informou ter reunido cerca de 50 mil pessoas. Apesar da impaciência com os transtornos do trânsito, grande parte das pessoas que observavam a passagem da multidão aplaudia o grupo.
O motorista Sandro Montresor, de 37 anos, não se incomodou nem mesmo com o trânsito congestionado. "Acho que os manifestantes estão certos. Eles têm que ir para a rua e protestar mesmo", disse, dentro do ônibus parado no sentido Centro da Avenida Antônio Carlos.
A orientação das lideranças do movimento era para um protesto pacífico, como informou o vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Gladson Reis. "Queremos somente exercer nosso direito de nos manifestar e estamos garantidos pela Constituição brasileira, que nos autoriza a livre manifestação. Nosso protesto é legítimo e pacífico", afirmou.
PRIMEIRO BLOQUEIO Gladson negociou com a PM a passagem dos manifestantes quando eles foram parados pela primeira vez. O bloqueio ocorreu na altura do número 3.265, no Bairro Cachoeirinha, metros depois da trincheira da Avenida Bernardo Vasconcelos. A barreira de policiais e viaturas foi montada porque, de acordo com o chefe da comunicação da PM, coronel Alberto Luiz Alves, havia uma área limite nas imediações do Mineirão por onde os manifestantes não poderiam avançar. Apesar do clima tenso, a PM acabou por liberar a pista e o protesto teve continuidade. Entre 800 e mil policiais militares participaram da operação, de acordo com o coronel.
Mas o que até então sem conflitos se transformou em cenário de guerra. Na altura do número 3.265, o movimento seguiu pacífico até a altura da Rua Flor de Índio, a poucos metros da entrada da UFMG. Por volta das 17h, a PM informou que o protesto deveria ser encerrado. Líderes do movimento ainda tentavam negociar a passagem da marcha, quando um grupo avançou. A polícia reagiu. Manifestantes correram e tentaram se distanciar das explosões das bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral e dos tiros de balas de borracha. Eles tentavam fugir do gás, que causa tosse e enorme ardência nos olhos.
Houve gritaria e confusão. Uma nuvem de fumaça pairou sobre a avenida e o movimento recuou. Outras pessoas resistiam e tentavam avançar jogando pedras e tentando se proteger com tábuas de madeira. Uma mulher passou mal e precisou sair carregada. Em alguns pontos da via, manifestantes fizeram fogueiras com palha de palmeiras.
Fileiras de policiais avançavam aos poucos, batendo os cassetetes nos escudos, até que, em um dos momentos em que a marcha se interrompeu, um dos manifestantes caminhou ao encontro dos militares. "Vocês estão jogando bombas nos meus filhos", gritou o músico Lenis Rino, de 34 anos. Alguns policiais foram em direção a ele. Outros manifestantes se encorajaram e também se aproximaram, a maioria com os braços erguidos ou se agachando no chão, enquanto gritavam: "Sem violência! Sem violência!".
"Meus três filhos estão aqui hoje", explicou Lenis. Outro manifestante questionou os militares: "Por que não podemos passar?". Por volta das 17h45, depois de breve negociação, a polícia deixou que a multidão voltasse a avançar. "O povo unido jamais será vencido", gritaram os manifestantes. A multidão se juntou a outra, menor, que aguardava bem perto do Viaduto José Alencar.
Entre o grupo, a maioria de estudantes, o sentimento foi de repúdio à posição da polícia. Um dos líderes do movimento, o vice-presidente da Ubes afirmou que houve muita truculência. "Estamos seguindo em um movimento pacífico. A polícia é que veio para cima." A coordenadora geral da Federação Nacional dos Estudantes de Escolas Técnicas (Fenatec), Bia Martins, explicou que a confusão ocorreu porque o horário coincidiu com a saída de funcionários que ainda estavam no trabalho assistindo ao jogo e queriam passar o bloqueio. "Estávamos parados quando a tropa de choque veio para cima dos manifestantes", disse Bia.
Fonte: Estado de Minas
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