Convocados nas redes sociais, protestos mobilizam pelo menos 240 mil pessoas em 11 capitais.
Redução do preço das tarifas de ônibus é mais importante bandeira do movimento, que reúne principalmente jovens e é marcado pela ausência de partidos na organização; atos foram pacíficos na maior parte das cidades. Para Dilma, manifestações são legítimas.
Numa mobilização como há muito não se via no Brasil, pelo menos 240 mil pessoas, em sua maioria jovens, tomaram ontem as ruas de 11 capitais para protestar principalmente contra o aumento das passagens de ônibus. No Rio, o público foi estimado entre 80 mil e 100 mil. Em tempos de internet, os atos foram marcados pelo uso intensivo das redes sociais para convocar participantes e pela ausência de partidos políticos, sindicatos e da União Nacional dos Estudantes entre os organizadores. Desta vez, o comportamento da polícia foi diferente. Em São Paulo, o governo cumpriu a promessa de não fazer uso da tropa de choque ou atirar balas de borracha. Os protestos foram pacíficos na maioria das cidades, mas houve alguns atos de violência em Porto Alegre, Rio e Maceió, condenados pela maioria dos participantes. País afora, outros temas, como gastos com a Copa e o projeto que limita poderes de investigação do MP apareceram nas faixas. Vaiada na abertura da Copa das Confederações, a presidente Dilma disse que as manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia.
Reação em cadeia
Pelo menos 240 mil pessoas foram às ruas em 11 capitais, e mais uma vez houve confrontos
Chico Otavio
Os manifestantes tomam o teto do Congresso Nacional, depois de tomar banho no espelho d"água e de tentar invadir o Parlamento. "Segundo a PM, 5 mil pessoas participaram do protesto. Os manifestantes falaram em 15 mil pessoas. Eles gritavam palavras de ordem como "Vamos invadir o Congresso! O Congresso é nosso!"
Em São Paulo, a manifestação reúne milhares de pessoas na Ponte Estaiada, no Brooklin. À noite, um grupo tentou invadir o Palácio dos Bandeirantes
Em Belo Horizonte, um manifestante se ajoelha diante de policiais nas proximidades do Estádio do Mineirão, onde houve confronto
No Rio, a escadaria do Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa, em chamas: um grupo de manifestantes lançou coquetéis molotov
Na maior mobilização contra o aumento das passagens de ônibus, cerca de 240 mil manifestantes ocuparam ontem as ruas de 11 capitais brasileiras. Em São Paulo, o protesto mobilizou cerca de 65 mil pessoas, que desta vez não enfrentaram as balas de borracha e as bombas de gás lacrimogêneo da polícia. O governo do estado cumpriu a promessa de manter a Tropa de Choque aquartelada. À noite, um grupo tentou invadir o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do estado.
Houve confrontos no Rio, onde um grupo isolado lançou coquetéis molotov no prédio da Assembleia Legislativa e feriu cinco policiais militares. A passeata reuniu cerca de 100 mil pessoas, segundo os organizadores. Em Belo Horizonte, houve confronto com a PM nas imediações do Estádio do Mineirão. Em Brasília, os manifestantes invadiram, em dois momentos, o teto do Congresso Nacional aos gritos de "a-ha, u-hu, o Congresso é nosso".
Sem a predominância de bandeiras de partidos políticos, sindicatos ou entidades estudantis, os protestos lembraram as grandes mobilizações sociais do passado, como os comícios pelas Diretas Já (1984) e o movimento dos caras-pintadas (1992). A diferença foi a força demonstrada pelas mídias sociais, decisivas não apenas para a mobilização como para o registro de cada detalhe das manifestações em tempo real, e a diversidade de palavras de ordem.
Além do clamor contra o reajuste das tarifas de ônibus, foram ouvidos gritos contra os gastos públicos com a Copa do Mundo e contra a PEC 37, projeto que busca tirar dos Ministérios Públicos o poder de investigação.
Também houve mobilizações em Porto Alegre, Curitiba, Vitória, Salvador, Maceió, Fortaleza e Belém. O número total de presentes foi estimado com base em cálculos dos organizadores, das polícias e de institutos de pesquisa. Preocupadas com a repercussão dos conflitos em São Paulo na quinta-feira passada, que terminaram com cem feridos e 237 detidos, as polícias procuraram evitar o uso de armas de baixa letalidade, mesmo quando provocadas pelos manifestantes.
A PM paulista acompanhou à distância, com um efetivo visivelmente menor do que o da manifestação anterior, o quinto protesto contra o preço das tarifas. Policiais chegaram a pedir licença para passar, sorrindo, e chegaram a se sentar no chão a pedido dos manifestantes. A marcha começou no Largo da Batata, em Pinheiros, próximo à Avenida Faria Lima, e depois seguiu pela Faria Lima e pela Marginal Pinheiros, para mais tarde passar pela Ponte Estaiada, Brooklin, em direção ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo de São Paulo, onde ainda estavam concentrados por volta das 22h.
- O comportamento da polícia foi muito diferente. Quando não há repressão a gente consegue fazer um ato muito mais organizado, sem violência - declarou Matheus Preis, de 19 anos, um dos líderes do Movimento Passe Livre.
Mas houve cenas de violência em quatro cidades, com uso de bombas de efeito moral, balas de borracha e cassetetes. Em Porto Alegre, a Tropa de Choque da Brigada Militar entrou em confronto com manifestantes, depois que eles colocaram fogo em latas de lixo, atiraram pedras e depredaram um ônibus e prédios públicos. Os militares usaram bombas de gás para dispersá-los. Em Alagoas, um motorista atirou no rosto de um estudante quando tentava furar o bloqueio montado pelos manifestantes na Avenida Fernandes Lima, Bairro do Farol.
A PM mineira, para impedir que a marcha se aproximasse do Mineirão, estádio onde jogaram Nigéria e Haiti pela Copa das Confederações, atirou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes. Na fuga, um jovem de 18 anos caiu do viaduto da Avenida Presidente Antônio Carlos. Levado para o Hospital Risoleta Neves, o jovem apresentava no fim da tarde um quadro estável.
Também terminou tenso o protesto no Rio. Por volta das 20h, um pequeno grupo tentou ocupar a escadaria da Assembleia Legislativa e foi rechaçado pela polícia com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Os conflitos aconteceram na Rua Primeiro de Março, em frente à Alerj e na travessa ao lado do Paço Imperial, prédio histórico pichado por vândalos. Alguns manifestantes atiraram coquetéis molotov em direção aos policiais e atearam fogo em um carro. Cinco policiais foram feridos no confronto. Outra marca do vandalismo foi deixada numa agência bancária próxima, cuja entrada de vidro foi destruída a golpes de barras de ferro.
Em Brasília, a polícia não conseguiu impedir que os estudantes, por volta das 19h20m,subissem no teto do Congresso, pelo lado esquerdo, sob as cúpulas. Após cerca de 30 minutos, a rampa foi liberada para que os manifestantes descessem. Muitos ainda permaneceram na cobertura. Eles estenderam uma faixa pedindo "não à violência" e gritaram:
- Vamos invadir o Congresso! O Congresso é nosso!
Dilma diz que atos são legítimos
Na entrada principal, um cordão da PM tentava conter os jovens que desciam e queriam entrar no Congresso. No Salão Negro, móveis próximos aos vidros foram retirados por precaução.
- Se houver uma invasão, as pessoas podem se machucar - disse o deputado Mendonça Filho (DEM-PE).
A presidente Dilma Rousseff, ao se pronunciar pela primeira vez sobre os protestos, disse que considerada "legítimas e próprias da democracia" as manifestações pacíficas.
- É próprio dos jovens se manifestarem - disse a presidente, por intermédio da ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas.
A presidente se reuniu com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que fez um relato das manifestações.
Fonte: O Globo
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