Movimento iniciado em São Paulo, contra o aumento das passagens, tomou corpo e chegou avárias cidades do País, com diferentes bandeiras. Para a presidente Dilma, "manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia".
Nas ruas. Estudantes pernambucanos fizeram assembleia para discutir manifestação prevista para quinta e saíram em passeata. No Distrito Federal, grupo ocupou área externa do Congresso. Na capital paulista, ato reuniu 65 mil pessoas e houve tentativa de invasão do Palácio dos Bandeirantes. No Rio, fogo e violência. Em Minas, confronto com PM.
De norte a sul, um País nas ruas
DIA HISTÓRICO - Milhares de pessoas protestaram ontem em várias capitais brasileiras
BRASÍLIA - Uma nova onda de protestos, maior que as anteriores e com um leque de reivindicações mais amplo, voltou ontem a tomar conta das ruas de importantes cidades em diferentes ponto do País. Em São Paulo, numa das maiores manifestações de ontem, 65 mil pessoas foram às ruas, segundo estimativas do Datafolha. O protesto começou de forma pacífica, mas à noite a Casa Militar do Estado precisou fechar o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, depois que manifestantes estouraram o portão e tentaram invadir o local. A polícia tentou conter os manifestantes, com bombas de gás lacrimogêneo. Até as 23h40, o clima continuava tenso no local.Em Brasília, os manifestantes conseguiram furar o bloqueio policial e invadiram a área externa do Congresso. Cartazes com os dizeres "Fora Renan" e "Fora Feliciano" apareceram no ato, referindo-se ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RN) e ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o pastor evangélico Marco Feliciano (PSC-SP). A polícia não conseguiu impedir que os estudantes, por volta das 19h20, subissem no teto do Congresso, sob as cúpulas.
Após cerca de 30 minutos, a rampa foi liberada para que os manifestantes descessem. Muitos ainda permaneceram na cobertura. Eles estenderam uma faixa pedindo "Não à violência" e gritaram: "Vamos invadir o Congresso! O Congresso é nosso"! Na entrada principal, um cordão da PM tentava conter os jovens que desciam e queriam entrar no Congresso. No Salão Negro, móveis próximos aos vidros foram retirados por precaução. "Se houver uma invasão, as pessoas podem se machucar", disse o deputado Mendonça Filho (DEM-PE).
No Rio, milhares de pessoas tomaram, a partir do fim da tarde de ontem, as principais vias do Centro do Rio para protestar contra o aumento das passagens de ônibus, indo em passeata até a Cinelândia. Foi o quinto ato desse tipo na cidade nos últimos dias. Os manifestantes, que começaram a se concentrar na Candelária, transformaram a Avenida Rio Branco num tapete humano. Havia gente de todas as idades, a maioria vestida de branco para marcar o tom pacífico da manifestação. No final, porém, um incidente foi provocado por um grupo que jogou pedras no prédio da Assembleia Legislativa do Rio, quebrando janelas e lustres, e ateou fogo num carro. Manifestantes atiraram coquetéis-molotov em direção aos policiais e incendiaram um carro. Cinco policiais foram feridos no confronto.
De acordo com a polícia, o ato reuniu cerca de 30 mil pessoas, enquanto os manifestantes falavam em 100 mil. Já especialistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estimaram 80 mil pessoas. A passeata foi acompanhada por cerca de 150 policiais. A Polícia Militar informou que tinha orientação de apenas acompanhar o protesto.
Em São Paulo, a quinta manifestação contra o aumento da tarifa não registrou a violência das anteriores. O protesto se dividiu e fechou vias importantes da cidade. Às 20h, a Ponte Octavio Frias de Oliveira, na Marginal Pinheiros, e a Avenida Paulista, na região central, estavam bloqueadas. Durante a passagem pela ponte, a maioria dos manifestantes começou a pular, o que fez a estrutura tremer. No caminho, os manifestantes chamaram a população para participar do protesto e soltaram diversos gritos de ordem contra o aumento das passagens.
Um pouco antes da manifestação, o governador Geraldo Alckmin havia confirmado que a PM dessa vez não usaria balas de borracha e classificou como parte da democracia as manifestações públicas. Bombas de gás lacrimogêneo, comuns nas manifestações anteriores, só seriam usadas em casos extremos, segundo o titular da Secretaria de Segurança Pública, Fernando Grella.
À noite, a Casa Militar determinou o fechamento do Palácio dos Bandeirantes e proibiu os funcionários de deixar o local. Um protocolo de segurança do palácio. A medida foi tomada depois de que manifestantes se concentraram na marginal Pinheiros em direção à sede do governo.
Às 23h30, um oficial da Polícia Militar estava em contato direto com um dos líderes das manifestações. Como a região do palácio é considerada zona de segurança, as tropas de elite da PM poderiam ser chamadas para proteger o local. Os cerca de 65 mil manifestantes, que se concentraram no largo do Batata, na Zona Oeste, se dividiram e fecharam vias como a Faria Lima, Avenida Eusébio Matoso, a Avenida Paulista, a 23 de Maio, a Rebouças, a Ponte Estaiada e a Marginal Pinheiros, antes de se dirigirem para o palácio.
Em Maceió, um adolescente de 16 anos foi atingido no rosto, por um tiro, enquanto participava do protesto contra o aumento da tarifa do transporte coletivo em Maceió. De acordo com o major Rodrigo Amorim, da Polícia Militar de Alagoas, o disparo foi feito por um motorista que tentou furar o bloqueio dos manifestantes. Ele estava em um veículo Celta. Quis passar pelo meio do protesto e não gostou quando começaram a bater no carro. Então, o homem desceu e disparou, informou o major. O adolescente foi atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e encaminhado, com quadro estável, ao Hospital Geral do Estado.
Em Porto Alegre, uma das principais exigências levadas às ruas foi maior transparência dos negócios públicos, para se evitar a corrupção. Curitiba, Belo Horizonte, Belém, Salvador e Maceió também registraram manifestações. O principal ponto de ligação entre os manifestantes continuou sendo o protesto contra a elevação da tarifa dos transportes urbanos. A reportagem verificou, porém, que aumentou o número de grupos de insatisfeitos que aderiram às manifestações, com novas demandas. A rejeição da violência policial foi uma das principais tônicas. Os gastos do governo federal para promover a Copa do Mundo também estiveram entre os alvos.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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