Não é jogo de cena. O governo Dilma ficou, de fato, surpreso e sem entender o fracasso do leilão de concessão da BR-262 (ES-MG), um trecho classificado como um dos filés do programa.
Algo saiu errado na comunicação entre o Palácio do Planalto e o mercado. Logo na largada do programa no qual o governo aposta todas as suas fichas para reativar, de vez, a cambaleante economia brasileira.
Dilma e assessores ficaram para lá de irritados e inconformados com os empresários do setor, que deixaram o leilão da rodovia dar vazio.
Um assessor fez o seguinte desabafo: "Demos tudo o que eles queriam, melhoramos a rentabilidade, criamos financiamentos atrativos, até parece armação contra nós".
O tom do comentário mostra como esse governo não compreende muito bem, ou não aceita como funciona, a lógica do empresariado.
Apesar da inflexão comandada pelo ministro Guido Mantega nos últimos meses, quando o governo deixou de satanizar o desejo de lucro dos empresários, ainda reina no Palácio do Planalto certa visão hostil ao mundo empresarial.
Aqui e ali, assessores presidenciais deixavam escapar, antes do início dos leilões, que o governo cedeu mais do que devia aos pleitos dos investidores e que, agora, eles tinham de cumprir sua parte.
Em outras palavras, garantir o sucesso dos leilões. Só que, no da BR-262, os empresários não fizeram o jogo palaciano. Para eles, o modelo da rodovia tem riscos demais e viabilidade econômica de menos.
Aí está a razão do fracasso do leilão da rodovia entre o Espírito Santo e Minas. Nada de armação nem de interferência política, como imagina o governo, que, pelo visto, não entendeu muito bem a voz do mercado.
Claro que não dá para atendê-la em tudo, seria um crime contra os cofres públicos. Mas algo é essencial ser levado em conta. Empresário só coloca seu dinheiro em projeto que dá retorno. Ponto final.
Fonte: Folha de S. Paulo
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