Sucessão 2014. Enquanto presidente evita falar em público sobre acordo que une ex-ministra do Meio Ambiente e governador de Pernambuco, Paulo Bernardo, titular das Comunicações, questiona competitividade da chapa e diz que no Brasil 'ninguém vota em vice'
Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura
BRASÍLIA - Enquanto Dilma Rousseff evita comentar em público a aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos e pede respeito à ex-ministra do Meio Ambiente em reuniões privadas com aliados, seus auxiliares e correligionários iniciaram nessa quarta-feira, 9, uma ação para minar a dupla que se uniu pelo projeto presidencial do PSB.
A estratégia consiste em mostrar as contradições da união da ex-ministra com o governador de Pernambuco. A aposta dos petistas é que haverá uma disputa entre os dois pela vaga de cabeça de chapa na campanha ao Palácio do Planalto no ano que vem.
Coube ao ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, fazer nessa quarta a mais crítica declaração do governo até agora contra a parceria de Marina com Campos. "Não sei se a chapa é competitiva. Ela (Marina) acrescenta para ele (Campos), mas se você for pensar, se ela for vice, no Brasil ninguém vota por causa do vice", afirmou o ministro logo após deixar reunião com Dilma no Palácio do Planalto ontem.
"As pessoas votam no candidato. Precisamos saber quem vai ser o candidato, porque hoje, nos jornais, ela tá falando claramente que pode ser candidata. Temos de observar isso com tranquilidade: vai ser o Eduardo com a Marina de vice, ou vai ser a Marina com o Eduardo de vice, ou vai ser um dos dois candidatos sem o outro como vice?"
Bernardo disse ainda que ambos, por articularem uma candidatura contrária ao PT, mudaram o discurso - Marina foi ministra do Meio Ambiente de Lula e Campos, da Ciência e Tecnologia, também na gestão do ex-presidente. Para o ministro, a aliança anunciada no sábado passado aumentou as chances de Dilma vencer a eleição do ano que vem ainda no 1.º turno.
"Eles tiraram pelo menos um candidato. Se tiraram a Marina, significa tirar uma candidata que tinha mais de 20 pontos (de intenção de voto) nas pesquisas. Não podemos supor que todos esses 20% vão migrar para o Eduardo Campos, com certeza a presidente Dilma vai receber um porcentual disso", disse.
Horas depois da reunião com o ministro, Dilma esteve no Congresso. Questionada sobre Marina e Campos, respondeu: "Hoje estou na fase dos grandes beijos". Na segunda-feira, disse em reunião de líderes que a parceria de Marina com Campos deveria ser tratada com precaução. "Marina não é qualquer pessoa", afirmou, segundo aliados.
Petistas. No mesmo evento do Congresso em que Dilma disse estar na "fase dos grandes beijos", os petistas repetiam as críticas de Bernardo. "Em eleição, dois mais dois não é quatro: a redução do número de candidatos fortalece quem está no governo", afirmou o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE).
"Os votos tendem a se pulverizar, é uma aliança que vai para a direita", disse o petista, lembrando a adesão ao PSB de Paulo Bornhausen, filho do ex-senador Jorge Bornhausen, e do ex-senador Heráclito Fortes (PI), ambos do antigo PFL, adversário histórico do petismo.
'Conservadores'. O secretário-geral do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), afirmou que a aliança tem incoerências que decepcionaram os militantes da Rede - partido que teve o registro negado por falta de assinaturas - e que não garantirão a transferência de votos de um para o outro. "Há um descontentamento da militância da Rede. Ele (Campos) trouxe setores muito conservadores para o partido", disse o petista, segundo quem o posicionamento do PSB em temas ambientais, como na votação do novo Código Florestal, tende a afastar os eleitores que apoiaram Marina nas eleições de 2010.
As falas coincidem com a tese dos assessores mais próximos de Dilma, como o marqueteiro João Santana, para quem a presidente poderá aparecer nas próximas pesquisas ainda mais bem colocada do que antes do fechamento da aliança do PSB.
Para alguns assessores do Planalto, há chance de as intenções de voto apontarem vitória no 1.º turno. A melhora nas pesquisas, apostam petistas, poderá ajudar o governo na negociação com os partidos aliados no Congresso Nacional, um dos principais gargalos do Planalto. Outro efeito, afirmam, pode ser o maior poder de sedução do PT para atrair outras legendas ainda sem aliança para a eleição do ano que vem.
Colaboraram Débora Bergamasco e Ricardo Della Coletta
Fonte: O Estado de S. Paulo
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