Flávio Ilha
PORTO ALEGRE- O ex-governador de São Paulo José Serra aproveitou ontem uma declaração do colega de partido e senador Aécio Neves (MG) para alimentar mais uma vez seu desejo de concorrer à Presidência da República pelo PSDB. Em Porto Alegre, em reunião com empresários e líderes políticos, fez um discurso de candidato, recheado de críticas à atual administração federal, e disse que, após a aliança PSB-Rede, o quadro eleitoral do país ficou indefinido:
— As coisas estão bastante indeterminadas e realmente não há pressa para isso (anunciar candidaturas presidenciais). É muito difícil traçar um rumo neste momento. Nesse sentido, estou na expectativa e analisando também. Mas o PSDB deixou claro, o próprio Aécio Neves declarou isso mais de uma vez, que essa vai ser uma decisão para ser tomada em março, a partir de março — afirmou.
No último dia 30, Serra anunciou que ficaria no PSDB. Ele disse ontem não crer que a oposição esteja perdendo tempo ao não definir uma candidatura já. Contou que em 1993, menos de um ano antes da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência, o candidato preferencial do campo tucano-peemedebista era o então ministro da Previdência Social, Antônio Britto.
Segundo Serra, a antecipação do debate eleitoral "virou uma doença, cujo primeiro vírus foi inoculado pelo Lula"
Convidado pela Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul (Federasul) para falar sobre economia, citou dez problemas que o próximo presidente terá de resolve — entre eles "questões graves" em Saúde, Educação e contas externas — e listou gargalos de infraestrutura. Disse que, se tivesse vencido a eleição em 2010, teria enfrentado essa questão com "competência" e "planejamento":
— Posso garantir que aquela maioria que o Rio Grande me deu (em 2010) ia ficar plenamente realizada. Nada disso teria sido assim, se a vontade do Rio Grande tivesse sido a do país naquele momento.
Críticas também a oposição
Serra classificou o programa Mais Médicos de "cortina de fumaça" para o governo não enfrentar a falta de investimentos públicos no setor Criticou a implantação do trem-bala entre Rio e São Paulo, projeto defendido pela presidente Dilma Rousseff.
O tucano afirmou que esse trem "não terá passageiros" e frisou que os R$ 70 bilhões previstos para o projeto seriam suficientes para construir metrôs nas principais metrópoles brasileiras.
Também atribuiu ao "decênio petista" no poder a partidarização do Estado, que provocou, segundo ele, um comércio de filiações e troca-troca de partidos nunca visto na política brasileira. Para Serra, tempo de TV e fundo partidário viraram mercadoria na política nacional:
— Isso é um acinte à nossa democracia, mas não aconteceu a partir do zero. De alguma maneira, o governo tem sido cúmplice dessas distorções — afirmou.
O ex-governador, que por duas vezes disputou a Presidência também não poupou a oposição. Reconheceu que é muito difícil ser oposicionista no Brasil, quando o governo tem maioria no Congresso, e que não surgiu um nome capaz de galvanizar as mudanças que a população exigiu nas manifestações este ano:
— Se você me perguntasse se a oposição merece nota 100, eu diria que não. E não estou me excluindo, não.
Fonte: O Globo
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