"É muito cedo para candidaturas"
Cleidi Pereira e Rosane de Oliveira
Um José Serra mais zen e risonho, mas com o mesmo discurso afiado de candidato, recheado de críticas ao PT, passou ontem por Porto Alegre.
Na Federasul, onde falou a empresários sobre o desenvolvimento econômico, o tucano elencou uma lista de 10 problemas que deverão ser enfrentados a partir de 2015, como inflação e gargalos logísticos. E demonstrou disposição para encará-los, mesmo que, hoje, o pré-candidato do PSDB seja o senador Aécio Neves (MG). Nas entrelinhas, ficou claro que ex-governador de São Paulo não irá desistir tão fácil de ser, pela terceira vez, o postulante tucano ao Planalto. O martelo – insistiu – só será batido em março.
No Tá na Mesa, o tucano reclamou do Mercosul e disse que o RS é vítima da falta de planejamento e do processo de desindustrialização.
Serra visitou a sede do Grupo RBS, onde foi recebido pela direção da empresa. Na sequência, deu entrevista aos veículos do grupo. Também participaram da conversa os jornalistas Cid Martins, da Rádio Gaúcha, Luciane Kohlmann, da RBS TV, e Nathalia Fruet, da TVCOM.
Zero Hora – O senhor é candidato à Presidência?
José Serra – Sou candidatíssimo a continuar batalhando pelo país, analisando o que está acontecendo e fazendo propostas. Questões eleitorais, de candidatura, são coisas para o ano que vem. Ainda tem muita coisa para acontecer. É tudo muito cedo e, aliás, o inesperado já mostrou a sua presença nesta aliança, que foi uma novidade completa, da Marina Silva com o Eduardo Campos.
ZH – A escolha do candidato do PSDB tem de ser por prévia?
Serra – Aécio Neves é presidente do partido, e ele já declarou que este é um assunto para ser abordado a partir de março do ano que vem.
ZH – Até que ponto a decisão de Marina transforma Campos em candidato competitivo?
Serra – Só o tempo vai dizer. Quem souber dizer o que vai acontecer no ano que vem está por fora. Quem disser que sabe é porque não está entendendo nada.
ZH – O governador Tarso Genro fez avaliação de que a eleição não vai se dar em torno do debate sobre as heranças dos governos FH e Lula. Ou seja, haverá um cenário para discutir o país daqui para frente.
Serra – De olhar para frente, sim. Mas não diria que é uma disputa em torno de heranças. Será um disputa em torno dos problemas que o país vai encontrar no começo de 2015. Hoje, não sabemos bem como vai evoluir o processo eleitoral, mas uma coisa tenho certeza: quais são os principais problemas que o novo presidente vai ter de tratar para governar bem o país.
ZH – O senhor falou em uma lista de 10 problemas. É síntese dos problemas do país ou o senhor fez para simplificar?
Serra – É a síntese. O próximo presidente vai encontrar uma economia em uma situação de desequilíbrio externo. O Brasil teve uma fase de bonança que não vai se repetir. Vai ter de fazer frente a um desequilíbrio externo que constrange o crescimento da economia, não vai ter muito raio de manobra do ponto de vista do gasto público, do ponto de vista fiscal, que a situação está muito apertada. Tem o problema da inflação, que, no mundo atual, é alta, mais ainda com os preços reprimidos. Tem o problema de falta de infraestrutura – me refiro a estradas, energia – que está estrangulando o desenvolvimento brasileiro. Tem o problema da saúde a curto prazo, que coloca demandas impactantes do ponto de vista econômico.
ZH – Que avaliação o senhor faz da realização da Copa e suas obras?
Serra – A Copa é uma coisa boa. Agora, teve muita megalomania, estádios demais e em lugares onde não há times e atropelos que, em obras, significam custos maiores.
ZH – Como o senhor avalia as respostas de Dilma aos protestos?
Serra – Nada a ver. São cortinas de fumaça. Mais médicos todo mundo quer. É como falar a favor da energia elétrica e da água encanada. Quem é contra? Todo mundo é a favor. O problema da saúde não é a escassez de médicos e, sim, de serviços de saúde, porque o médico não trabalha sozinho. No Brasil, a disponibilidade média de médicos é satisfatória. A questão é levar o médico onde ele é necessário. Para isso, você tem de ter salário e estrutura, enfermagem, medicamento, aparelhos. Você não vai resolver o problema de saúde com o médico andando em chinelos, perdido no Interior, sem apoio nenhum.
ZH – As denúncias de corrupção envolvendo o metrô de São Paulo podem repercutir na eleição?
Serra – Tem barulho e fumaça, nenhum fogo e pouca substância.
ZH – Tudo não passa de fogo de palha, inclusive as denúncias de formação de cartel?
Serra – Até agora, não teve nada de concreto. Cartel é uma associação de empresas da mesma área, e isso existe em tudo no Brasil, na área bancária, de alimentação. É um fenômeno de atividade econômica, que cabe ao governo combater. Mas existe no mundo inteiro.
ZH – A aliança Marina-Campos não enfraquece a chapa do PSDB?
Serra – Em princípio, olhando a oposição no conjunto, a aliança não faz mal à oposição. Faz bem. Agora, do ponto de vista de quem vai faturar ou deixar de faturar em torno disso, é muito difícil, é muito prematuro.
ZH – O que pesou na sua decisão de rejeitar o convite para ingressar em outros partidos?
Serra – Minha decisão foi continuar no partido que fundei e do qual fui coautor do programa original, ao lado do Fernando Henrique. E já disputei muito dentro do PSDB.
ZH – Faltou fortalecer a imagem de líderes do PSDB como fez o PT?
Serra – São partidos tão diferentes. O PT, na origem, é um partido bolchevique, sem utopia. O PT não tem um programa para o Brasil. E, além disso, tem uma liderança carismática que o PSDB nunca teve. Lula disputou a eleição quatro vezes consecutivas e ganhou na quarta.
ZH – Isso anima o senhor?
Serra – O Salvador Allende foi eleito na quarta vez, o Rafael Caldera, na Venezuela, disputou seis vezes e ganhou duas. O número de eleições que são disputadas não é tão relevante assim. A questão é política, se você tem um partido, se tem o que dizer, se tem programa, se tem clareza de propósitos.
ZH – O senhor acha que o PSDB tem mais chances se apostar no mesmo candidato?
Serra – Imagina (risos) se vou responder isso.
ZH – O senhor vai disputar as prévias no partido?
Serra – Isso não está posto. É a partir de março que vamos ver.
Fonte: Zero Hora (RS)
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