BC eleva Selic para 9,5% mesmo com inflação menor.
Para analistas, decisão do Banco Central mira controle do custo de vida em 2014, quando haverá eleições. Em 12 meses, acumulado ficou abaixo de 6%.
Apesar do recuo da inflação em 12 meses para 5,86%, abaixo de 6% pela primeira vez este ano, a diretoria do Banco Central decidiu, por unanimidade, subir a taxa básica de juros de 9% para 9,5% ao ano, na quinta alta seguida. Com isso, o Brasil volta a ter o maior juro real (acima da inflação) do mundo, com 3,5%, o que não acontecia desde abril de 2012. Segundo analistas, o objetivo seria controlar a inflação em 2014, ano de eleição.
Inflação cai, e BC eleva juro
IPCA recua para 5,86%, mas Selic sobe para 9,5%. Brasil volta a ter a maior taxa real do mundo
Gabriela Valente e Roberta Scrivano
No mesmo dia em que a inflação medida pelo IPCA em 12 meses recuou para 5,86%, patamar abaixo de 6% pela primeira vez este ano, o Banco Central (BC) decidiu aumentar os juros pela quinta vez seguida. Atento aos riscos de os índices de preços continuarem num patamar alto em 2014 — ano eleitoral — o BC elevou a taxa básica (Selic) de 9% para 9,5% ao ano. Com a medida, o país volta a ter o juro real mais alto do mundo, de 3,5%, segundo levantamento do economista Jason Vieira, à frente de Chile e China. Desde abril do ano passado, o país não ocupava o primeiro lugar na listagem. A decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) foi tomada depois de o governo começar a ajustar o discurso político para justificar o abandono da bandeira dos juros baixos. A cúpula do BC também indicou que a taxa pode subir mais e deixou o caminho aberto para a Selic voltar à casa dos dois dígitos ainda neste ano.
Essa foi a leitura feita pelos economistas do mercado financeiro do comunicado publicado após a reunião. O texto enxuto foi exatamente o mesmo divulgado nos três encontros anteriores do comitê. Nele, os diretores do BC afirmam que a decisão mira no controle de preços no ano que vem.
"O comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano" diz a nota. Para os economistas, esse é um sinal de que o Palácio do Planalto diminuiu a interferência no trabalho do Banco Central por entender que a inflação alta pode representar um perigo político ainda maior do que a fragilidade do crescimento.
— O discurso político está sendo ajustado de olho nas eleições de 2014. Vão deixar claro que elevar os juros para dois dígitos não é retrocesso, mas uma ação conjuntural para manter conquistas — frisou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Para o economista-chefe da Asset Votorantim, Fernando Fix, é cedo para mudar o cenário original: juros básicos em 9,75% ao ano no fim de 2013. Essa é a aposta da maioria dos analistas.
— Não seria recomendável declarar vitória (no combate à inflação) neste período — disse.
Segundo analistas, havia argumentos para indicar que os juros não continuariam a subir no mesmo ritmo. A economia não voltou a crescer na velocidade desejada. O dólar caiu e pressionará menos
a inflação no Juturo, e a incerteza em razão do possível calote da dívida dos EUA embaralha de vez as previsões. De outro lado, o BC tem dito que o mais importante é ancorar expectativas de consumidores e empresários. E as apostas para a inflação no ano que vem são altas. O próprio BC espera que o IPCA feche o ano em 5,8%. E projeta taxa de 5,7% para 2014. A meta anual é de 4,5% com uma margem de tolerância de dois pontos percentuais.
— É um desafio muito grande entrar no ano que vem corn previsão de inflação alta e uma i pressão forte que vem dos preços administrados — ponderou o ex-secretário do Tesouro Nacional Carlos Kawall.
FiRJAN e FIESP criticam decisão
O economista referiu-se ao prometido aumento de gasolina e às perspectivas de alta de tarifas de trans-j portes. Nas projeções de Kawall, o BC deve começar 2014 com mais altas de juros. Ele aposta em dois aumentos de 0,25 ponto percentual nas duas primeiras reuniões do Copom. Com isso, a Selic chegaria a 10,5% ao ano.
A ata da reunião de agosto já indicava maior preocupação com a inflação. Vários trechos destacavam seus efeitos na economia: aumento de riscos, depressão de investimentos, encurtamento dos horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos e deterioração da confiança de empresários. Além disso, ressaltava que inflação alta subtrai poder de compra de salários e de transferências, diminui o consumo, reduz o potencial de crescimento da economia e geração de empregos e de renda.
Entidades empresariais e sindicais criticaram a decisão do BC. Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) a alta foi equivocada e o ciclo de aperto monetário deve ser encerrado. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), avalia que o novo aumento prejudica um momento propício à retomada da atividade econômica,
— É hora de baixar os juros e aumentar o investimento público em concessões, para voltarmos a crescer — disse Skaf.
Fonte: O Globo
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