A passagem de outubro para novembro, já a menos de um ano do 1º e do 2º turno da disputa presidencial de 2014, foi marcada por uma bateria de dados e projeções, de caráter bem negativo, sobre a macro e a microeconomia. O pior indicador, divulgado na quinta-feira, dominou as manchetes do dia seguinte, como a do Estadão: “Contas públicas têm déficit recorde em setembro e meta fiscal fica mais distante”. Na mesma sexta, pesquisa do IBGE mostrou crescimento de apenas 0,7% da produção industrial em setembro, o que a manteve com desempenho negativo, de 0,6%, no terceiro trimestre, frustrando a esperança de papel significativo do setor para o PIB de 2013. Nos dias anteriores tornaram-se públicos números reveladores de aumento do déficit na balança comercial, ampliando o rombo já previsto como inevitável das contas externas neste ano. Quanto à situação financeira da Petrobras, o lucro (contábil) do terceiro trimestre, de R$ 3,39 bilhões, foi 45% menor que o do segundo, e 30% inferior ao do mesmo período de 2012. E o receio de repetição e agravamento da avaliação negativa da estatal já feita por agências internacionais de risco tornou, enfim, imperativo o fim (ou ao menos a redução) do artificialismo (e dos altos prejuízos) dos baixos preços internos dos combustíveis, mesmo com a ameaça de impacto da medida sobre a inflação. Pois, sem isso, a Petrobras não terá condições de assumir o custosíssimo protagonismo que lhe foi atribuído na exploração do pré-sal.
Nesse contexto, começamos novembro com o reforçamento das críticas, internas e externas, à gestão e aos resultados da economia. As primeiras, mais generalizadas, por parte dos agentes produtivos, do sistema financeiro e dos analistas, inclusive de vários que são próximos do governo. E as segundas, formuladas pelas grandes agências de classificação de risco, pelo Banco Mundial e por jornais e revistas de grande peso da imprensa especializada. Críticas que o secretário do Tesouro, Arno Augustin, tentou desqualificar, anteontem, afirmando que a política fiscal está sob “ataque especulativo”. Reação cuja credibilidade é mínima, como o evidencia manchete de hoje do Valor – “Forte expansão de despesas ajuda a explicar piora fiscal”.
É também nesse contexto que o ex-presidente Lula passa a estender ao campo da economia a in-fluência predominante que já exerce nas relações político-partidárias do governo, bem como na campanha reeleitoral de Dilma. É que ganha proporções amplas o desgaste da presidente nos diversos círculos empresariais, em resposta aos projetos e atos voluntaristas, ao intervencionismo estatizante e ao elevado grau de centralização de decisões do seu governo. Vistos como bem diferentes das características de atuação do ex-presidente Lula. Baseada na mistura dos programas populistas com medidas negociadas com o empresariado e respeito a limites básicos das regras de mercado. O que se traduzia na presença de Henrique Meirelles no comando do BC, mesmo após a saída de Antonio Palocci da Fazenda e da in-flexão estatizante que se seguiu. E tal desgaste está tendo um efeito político sensível: o distanciamento em relação à campanha reeleitoral de Dilma da maior parte das lideranças da iniciativa privada, inclusive de muitas que a apoiaram quatro anos atrás. Distancia-mento que favorece uma aproximação delas com a candidatura oposicionista de Aécio Neves ou com a do dissidente Eduardo Campos.
O trabalho de Lula para reverter esse distancia-mento e tal aproximação envolve desde a oferta de apoio do PT a candidaturas de grandes empresários a cargos de governador ou vice e ao Senado (das quais são exemplos as de Armando Monteiro, em Pernambuco, de Josué Gomes da Silva, em Minas, de Blairo Maggi, no Mato Grosso, de José Batista Júnior, do grupo Friboi, em Goiás, de Maurilio Biagi, em São Paulo), até o empenho pessoal que tem feito para contenção e revisão de decisões do Palácio do Planalto. Só que a relevância política desse trabalho constitui um novo fator que reforça a possibilidade da troca da candidatura de Dilma pela dele, como cobrança do PT, do PMDB e demais partidos aliados, bem como de vários segmentos do empresariado, num cenário que lá pelo meio do primeiro semestre de 2014 aponte claramente para um 2º turno.
Jarbas de Holanda é jornalista
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