Dilma e seus marqueteiros têm de trabalhar em dobro para tentar neutralizar os ataques especulativos contra dois carros-chefes da campanha da reeleição: a braveza contra a espionagem dos EUA e o programa Mais Médicos.
Com um PIB mixuruca, superavit fiscal frouxo, inflação no teto, balança desbalanceada, e sem o ingrediente novidadeiro do Bolsa Família, Dilma precisa se segurar nesses dois pontos que têm ampla aprovação nas pesquisas. Mas precisa combinar não só com os adversários, mas principalmente com o Ministério Público e as entranhas do próprio governo.
O Ministério Público (o Federal e o do Trabalho) questiona a contratação de médicos estrangeiros com "bolsas", sem a integralidade dos direitos previstos nas leis trabalhistas brasileiras. Critica principalmente a situação dos cubanos, que recebem menos para fazer o mesmo trabalho.
Não foi por falta de aviso. Neste mesmo espaço, na coluna "Avião negreiro", de 25/8, elogiei a vinda dos médicos estrangeiros, mas questionei a injustiça com os cubanos. O Brasil pode ser acusado de confisco, já que não paga aos profissionais, e sim a Cuba, que repassa o valor que bem entende. E como eles haveriam de reclamar? As famílias ficam na ilha e eles têm de voltar para lá.
No caso dos espiões: Dilma foi para a linha de frente explicar que a espionagem brasileira é uma coisa, e a dos EUA, outra coisa. Sim, os EUA invadem ilegalmente a privacidade de cidadãos, de empresas e até de presidentes em outros países, enquanto o Brasil exerce legitimamente atividades de contrainteligência e de autodefesa dentro de seu próprio território. Atire a primeira pedra o país que, tendo recursos, não faz isso.
Dilma, portanto, tem razão, mas o PT sabe que, em política e marketing, não vale o que é, mas o que parece: que ela ataca os espiões dos outros, mas o Brasil espiona também.
Ela estava no ataque com o Mais Médicos e a espionagem. Agora, está na defensiva. Bom não é.
Fonte: Folha de S. Paulo
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