quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Recessão técnica deve dar as caras

Victor Martins

BRASÍLIA – O governo está de mãos atadas. Diante da possibilidade de recessão técnica, com queda do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro e no quarto trimestres, a equipe econômica está sem alternativas para dar mais combustível ao crescimento. Tudo conspira contra. A política fiscal perdeu fôlego e novos estímulos colocariam em xeque o rating soberano do país. A inflação, mesmo depois do aperto monetário iniciado em abril, continua resistente e obriga o Banco Central a travar a economia com juros cada vez mais altos. Além disso, os bancos freiam o crédito para as famílias, já muito endividadas.

Nos bastidores, o Palácio do Planalto pede sangue frio, sobretudo diante das críticas à deterioração fiscal. Os técnicos, no entanto, reconhecem que a situação é "mais do que preocupante". "Infelizmente, as margens de manobra se esgotaram", admitiu um integrante da equipe econômica. A avaliação é de que a queda do PIB no terceiro trimestre, um consenso no mercado, pode se repetir na última etapa do ano. Até o momento, não há indicadores suficientes para confirmar o quadro, que, caso se concretize, configuraria uma recessão técnica – um desastre que, à véspera da eleição de 2014, pode atrapalhar os planos da presidente Dilma Rousseff de ser reconduzida ao comando do país.

Nos cálculos do Itaú Unibanco, o terceiro trimestre apresentará queda de 0,3% na comparação com o período anterior. "Os estoques ainda elevados da indústria são um sinal de ritmo lento da economia", ponderou Ilan Goldfajn, economista-chefe da instituição. Segundo ele, o banco projeta aumento dos juros – com a taxa Selic alcançando 10,25% ao ano em janeiro – e crescimento menor dos gastos do governo no próximo ano. "Esses fatores são fontes adicionais de moderação do crescimento."

Tony Volpon, diretor-executivo e chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas do Nomura Securities, em Nova York, avalia que a fraqueza da atividade deve contaminar 2014, quando o PIB terá expansão de apenas 1,7%. "Recessão técnica no fim de 2013 também não está descartada", observou. Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, o terceiro trimestre foi muito ruim.


Juros da dívida. Depois de tantas críticas e cobranças diante de uma forte deterioração das contas públicas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, jogou a toalha e finalmente admitiu que o governo não conseguirá cumprir a meta de superávit primário este ano, conforme prometia insistentemente economizar 2,3% do PIB para pagar os juros da dívida pública. Apesar de reiterar que as contas “estão sob controle”, Mantega reconheceu ontem que o resultado fiscal do governo central (que inclui Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) de 2013 ficará abaixo dessa meta porque o resultado dependerá dos estados e municípios.

(Colaborou Rosana Hessel)

Fonte:: Estado de Minas

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