Coube a mim sofrer e lutar, amar e cantar; couberam-me na partilha do mundo o triunfo e a derrota, provei o gosto do pão e o do sangue. Que mais quer um poeta? E todas as alternativas, desde o pranto até os beijos, desde a solidão até o povo, perduram em minha poesia, atuam nela porque vivi para minha poesia e minha poesia sustentou minhas lutas. E se muitos prêmios alcancei, prêmios fugazes como mariposas de pólen fugitivo, alcancei um prêmio maior, um prêmio que muitos desdenham mas que é na realidade inatingível para muitos. Cheguei através de uma dura lição de estética e de busca, através dos labirintos da palavra escrita, a ser poeta de meu povo. Meu prêmio é esse, não os livros e os poemas traduzidos ou os livros escritos para descrever ou dissecar minhas palavras.
Pablo Neruda. “Confesso que vivi”. 16. ed. Trad. Olga Savary. São Paulo: Difel, 1983, p. 154
Nenhum comentário:
Postar um comentário