População não vislumbra solução para o enfrentamento, que ameaça conquistas do chavismo na área social e joga o país numa grande zona de incerteza
O primeiro aniversário da morte de Hugo Chávez, quarta-feira, deu a seu sucessor, Nicolás Maduro, oportunidade para promover um grande evento com a presença de alguns de seus aliados externos, como o presidente Raúl Castro, de Cuba. “Chávez vive” foi uma das frases mais ouvidas em discursos e na programação das TVs estatais, no esforço para recriar a comoção causada pelo desaparecimento do fundador do chavismo. E, ao mesmo tempo, para respirar diante da onda de descontentamento popular causada pela mais séria crise que o país atravessa nos últimos 15 anos. Mas o truque de tentar governar ao lado de um cadáver tem prazo de validade. Que, pelo visto, se esgotou.
Tanto que o alívio, se houve, durou pouco. Logo o número de mortos em confrontos entre opositores e partidários do regime, em choques com a polícia bolivariana e em ataques dos “coletivos” (bandos pró-governo armados, em motocicletas) subiu para 20 desde o dia 12 de fevereiro. Relatores especiais da ONU para direitos humanos enviaram a Maduro uma carta pedindo explicações sobre o uso da violência e a prisão de manifestantes, jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação.
Surgiram sinais de fissura no dispositivo militar sobre o qual se apoia o chavismo. Três coronéis da Guarda Nacional Bolivariana foram destituídos e estão sob investigação porque teriam expressado descontentamento com os excessos na repressão a manifestantes em Carabobo.
Chávez encomendou a crise ao esbanjar petrodólares em programas sociais populistas, estatizar empresas e assim desestimular a produção nacional em todas as áreas, financiar o governo cubano e apoiar outroscompañeros como Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Cristina Kirchner (Argentina). Ao herdar o comando do chavismo, Maduro não teve capacidade nem coragem de mudar o rumo. Pelo contrário, decidiu aprofundar a revolução bolivariana. Hoje, a Venezuela sangra sob índices recordes de criminalidade; pena nas filas para comprar produtos de primeira necessidade, comida e remédios; desorganiza-se sob uma inflação anual de 56%; acende velas para enfrentar os apagões; sai às ruas para protestar sob risco crescente de repressão; não tem como se informar porque o governo controla os meios de comunicação.
O chavismo tem pontos positivos, como o esforço para dar educação, assistência médica e melhoria de renda aos mais pobres. Por isso, ainda tem muitos seguidores. Mas não irá longe sem um diálogo nacional e uma agenda comum para os graves problemas do país, que incluem o terrorismo de Estado, agora nas ruas. Não será com manobras para desviar o debate para fóruns onde só há aliados, como a Unasul, para fugir aos multilaterais, como a OEA, que Caracas conseguirá algo de positivo. Só um estadista recuaria agora para iniciar a reconstrução das instituições democráticas. Mas Maduro parece muito longe disto.
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