• Segundo o ex-presidente, a imprensa e a oposição atacam o governo Dilma por causa do temor que ela seja reeleita
Germano Oliveira – O Globo
SÃO PAULO - Com um discurso recheado de críticas à imprensa e defendendo a regulamentação da mídia no Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira que os veículos de comunicação e a oposição estão tratando o governo da presidente Dilma Rousseff com virulência e preconceito.
— Agora eles estão com medo da Dilma. Eu nunca vi tanta virulência de um ataque preconceituoso contra um governo como vejo contra a Dilma hoje. E qual é a preocupação? Eles pensam: ‘mas se ela ganhar, vai ficar mais quatro anos e depois esse Lula volta, e o PT volta para mais um mandato e aí é demais’. Não tem outra explicação a virulência com que estão tratando o nosso governo. Se fosse um metalúrgico tudo bem, a gente apanhou a vida inteira. Mas a Dilma não é isso. Ela é até uma mulher fina, uma mulher letrada. Pensei que fossem tratá-la com mais delicadeza. Mas não estão tratando - disse o petista, na abertura de encontro nacional de blogueiros, em São Paulo.
Lula defendeu a realização da Copa do Mundo no Brasil e reconheceu que muitas obras de mobilidade não ficarão prontas, para as quais ele não dá a mínima importância.
— Falam, mas o estádio não está pronto. Ora, eu cansei de ir estádio para ver o Corinthians jogar.
Nós nunca tivemos problemas em andar a pé. Anda a pé, vai descalço, vai de bicicleta, vai de jumento, vai de qualquer coisa. A gente está preocupado (sic) em que ter metrô para ir até dentro do estádio? Mas que babaquice é essa? Nós temos é que dar garantia a essa gente vá assistir ao jogo, eles tem que comer nossa comida, boa comida mineira, boa comida baiana, boa comida paraense, boa comida paulista. Eles vão descobrir que aqui em São Paulo eles vão comer macarrão melhor do que na Itália. Isso é que nós temos que ter orgulho.
Segundo Lula, a mídia e a oposição achavam que o PT fracassaria no governo e estão com medo que ela seja reeleita em outubro.
- Eles pensam: Elegemos o Lula em 2002, mas achavam que iria fracassar e seriam só quatro anos.
Pensavam: vai ser um desastre e depois nós voltamos. Eu fiquei. Mas depois pensaram que seriam só oito anos, não tem mais reeleição. Aí veio a Dilma. Eles pensaram que tinham acabado com ela há 30 anos, quando a torturam durante três anos e meio, com todo tipo de choque contra ela. E ela virou presidente da República. No início, eles que eram contra ela quiseram ficar a favor dela e a jogaram contra mim, mas não colou.
Para Lula, a imprensa nunca gostou dele e do PT, mas agora os petistas tem os blogs para se defenderem.
- As pessoas não gostavam de mim porque eu era radical. Sei do preconceito que tinham quando a gente andava por esse país com camiseta e estrelinha do PT. Barbudo, com camiseta vermelha, era uma desgraça. Mas eu tinha orgulho de fazer comício em qualquer lugar deste país. Hoje o que estão tentando jogar em cima do PT? A pecha da corrupção. Nós criamos um partido para ser diferente.
Criamos um partido que desse orgulho às pessoas. Não fizemos um partido para entrar na vala comum da mesmice - disse Lula, acrescentando:
- Agora vamos começar a campanha e a gente tem que ter orgulho de dizer porque estamos na política. Vejo na TV que qualquer um se dá ao luxo de esculhambar com a política e ninguém se defende. É indescritível. A gente fica falando que tal canal de televisão fala mal de mim, tal jornal só escreve contra mim. Não vale mais a pena chorar. Temos a internet, podemos fazer site, temos blogueiros, o que nós precisamos é usar os mecanismos que temos em todo o país, com gente que fala nossa linguagem. A gente cresceu foi levantando às 5h da manhã indo para a porta de fábrica com panfleto. Hoje qualquer manifestação tem cobertura. Se for contra o governo então, tem cobertura em tempo real.
O ex-presidente criticou os tucanos, citando a crise de abastecimento do sistema Cantareira, e disse que as administrações petistas apanham excessivamente da mídia.
- Fico vendo o tratamento que estão dando aqui ao governo do estado com a questão da Cantareira.
Ah, se fosse responsabilidade do prefeito Haddad. Eles estão agora inaugurando até volume morto.
Eles têm capacidade de ressuscitar o morto. Obviamente que tenho clareza que não está chovendo.
Fui visitar a Cantareira em 1978 e de lá pra cá ninguém pensou em ampliar o sistema de captação de água. Cadê o planejamento estratégico? Cadê o choque de gestão? Nesta campanha vai aparecer muita coisa como choque de gestão. Mas significa duas coisas: redução de salário e dispensa de trabalhador.
Lula disse ainda que a campanha deste ano vai servir para se comparar os 11 anos de governos petistas com as administrações tucanas, inclusive em matéria de combate à corrupção.
- Este governo tem defeitos. Eu tive defeitos, mas nós temos que comparar nós com eles. Vamos comparar. Eu não tenho medo de comparar os 11 anos do nosso governo com eles. Inclusive na questão da corrupção. Vamos ver porque tem um jeito de não aparecer corrupção neste país. É ter uma pessoa contratada só para levantar tapete e empurrar o lixo para debaixo. Pode perguntar para a PF quem foi o governo que mais investiu na contratação de policiais e na inteligência da PF?
Pergunte quem é que tratou o MP com o respeito que nós tratamos? Para nós, o respeito à instituição tem um peso importante. O que era a Controladoria Geral da República quando eu lá cheguei? Era uma pessoa. Hoje qualquer um pode fiscalizar as contas do governo em tempo real. Pelo fato de ser do PT, da Igreja Progressista, da CUT, partido de esquerda, mesmo certo já é acusado, se estiver errado está ferrado. Então temos que fazer o debate e não correr do debate.
Se dirigindo ao prefeito Fernando Haddad, presente no evento, Lula disse:
- Eu não conheço ninguém que no primeiro ano tomou a quantidade de porrada que você tomou.
Ele afirmou que, aos 68 anos, “já aprendeu” a apanhar da imprensa.
- A imprensa me trata bem, não tenho queixa. A única mágoa que tenho é que quando faço críticas à imprensa, alguns escrevem que Lula ataca a imprensa. Quando eles me atacam, dizem que fazem críticas. Eu já aprendi. Aos 68 anos isso já não me importa mais - ironizou Lula.
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