Julia Duailibi – O Estado de S. Paulo
Enquanto a Copa Mundo serve de aliada da presidente Dilma Rousseff (PT) nas eleições de outubro, partidos habitués da nau governista infligem as maiores baixas à pré-campanha da petista ao migrarem para o barco da oposição. O PT, em vez de ajudar a estancar a sangria entre as legendas aliadas, coloca mais lenha na fogueira.
Sem maiores constrangimentos, o PMDB, do candidato a vice-presidente na chapa de Dilma, Michel Temer, resolveu ceder palanque para o tucano Aécio Neves no Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do País. No Piauí, o partido foi além. Deu ao tucano Silvio Mendes a candidatura de vice-governador na chapa à reeleição de Zé Filho (PMDB). Selou, assim, o rompimento com a candidatura da presidente e abriu espaço para Aécio no Estado.
São baixas pontuais se comparadas ao estrago do PTB, que depois de anunciar apoio a Dilma pulou para a barca tucana. Agora, Aécio tenta repetir o feito e mira o PP. Próximo do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do partido, ele já tem o apoio de importantes quadros do PP, como o governador de Minas, Alberto Pinto Coelho, e a candidata a governadora no Rio Grande do Sul, senadora Ana Amélia, além do senador Francisco Dornelles (RJ), seu tio.
Aécio trabalha pela neutralidade do PP, que também já anunciou apoio a Dilma, mas mantém conversas com o tucano nos bastidores. O PSD, outro que entrou para o radar do PSDB, deve mesmo manter o acordo com a presidente. O ex-prefeito Gilberto Kassab conversou com Dilma na semana passada para reiterar seu apoio à reeleição, e a presidente deve ir à convenção do partido nesta quarta-feira em Brasília.
Fidelidade não é algo típico entre os políticos brasileiros, e a traição corre mesmo solta nas eleições. Partidos tendem a buscar novos posicionamentos quando avaliam que o vento passou a soprar para outro lado ou quando recebem uma proposta de composição de chapa mais atraente no campo adversário – isso sem falar nos argumentos não republicanos que às vezes são colocados na mesa de discussão.
Mas não dá para ignorar que o PT manteve uma postura beligerante com aliados, basta ver a negociação em alguns Estados, como Rio e Ceará. O discurso do partido, que agora defende uma campanha mais à esquerda e voltada para a militância, não ajuda. Acena para o público interno num momento que tinha de somar esforços.
Mais valeria ao PT ouvir o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que colocou o dedo na ferida. Nesta semana, ele disse que o PT erra no seu diagnóstico sobre a insatisfação da população com o governo e que alimenta a ilusão de que o povo pensa que está tudo bem.
O mesmo raciocínio deveria ser usado na relação com aliados. Algo não vai bem. Dilma terá que mudar o diagnóstico – e portanto o remédio – nas alianças se quiser evitar novas baixas e manter no seu barco o que sobrou: PR, PCdoB, Pros, PSD e, por enquanto, PP.
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