sexta-feira, 18 de julho de 2014

Nelson Motta: Minha Copa

• Como nunca me iludi com essa seleção, depois dos dramalhões milagrosos com o Chile e a Colômbia, parti para Lisboa

- O Globo

Não perdi um só jogo dos grupos até as quartas, mas, como nunca me iludi com essa seleção, depois dos dramalhões milagrosos com o Chile e a Colômbia, parti para Lisboa com minha filha mais velha, para de lá irmos a Berlim encontrar as duas mais novas. Uma lua de mel a quatro no verão europeu.

Em Lisboa, fomos assistir a Brasil x Alemanha na casa de amigos portugueses. E assistimos o inimaginável, mas, talvez por estar tão longe, foi menos penoso — e mais crítico, mais distanciado e mais real. Chegou a ser até divertido.

Como o locutor e o comentarista eram portugueses, mas pareciam falar em alemão, eu não entendia nada, só alguns nomes de jogadores como Óscar e Davíde Luix e algumas expressões locais que já conhecia, como “guarda-redes”, “relvado” e “esférico”. Na tensão pré-pugna, achei que o problema era o som.

— Ó Domingos, aumenta aí o som, pá! Vamos botar som de estádio!

Domingos atochou o volume, mas a confusão sonora só piorou.

Saquei de meu celular, com um aplicativo mágico conectado à televisão de minha casa no Rio, com todos os canais da minha assinatura, que posso operar por controle remoto. Basta uma boa conexão de internet para a slingbox funcionar como TV.

Foi confortador ver o Milton Leite e o pessoal do SportTV na telinha, falando minha língua, mas inútil: as imagens do Rio chegavam ao celular com atraso de alguns segundos, quando a jogada já tinha acontecido na televisão portuguesa.

Depois do massacre, os amigos lusitanos se abstiveram de gozações e foram muito solidários, afinal também levaram uma sapatada de 4 x 0 dos alemães.

No dia seguinte, Marisa Monte me ligou do Rio, às gargalhadas:

— Fizemos a “melô da seleção na Copa” sem querer!

E leu a letra da canção que fizemos antes da Copa e que não tinha nada a ver com futebol:

“Parece ilusão, parece ficção, parece destino/ Se alguém contar ninguém acredita/ Qualquer um duvida/ Mas a vida é assim/ E o real é mais/ Do que as fantasias e as razões/ Parece mentira/ Parece que sim/ Parece que não.”

Na terça, com as três filhas em Berlim, fomos à festa da vitória em Alexanderplatz, aplaudir a seleção alemã.

Nenhum comentário: