• Campanha assume contornos mais competitivos
- Valor Econômico
O período eleitoral se inicia. Até o momento sem alterações significativas no cenário que se projetava desde o momento em que as candidaturas principais lograram consolidação, a saber, Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos. O cenário é distinto, contudo, daquele com o qual se trabalhava há pouco mais de um ano. Na ocasião, isto é, nos primórdios de 2013, a vitória governista, com a reeleição de Dilma Rousseff, era dada como certa. De um ano para cá, sobretudo após as manifestações de junho daquele ano, a campanha assume contornos de maior competitividade e razoável incerteza. Embora as pesquisas de intenção de voto continuem a mostrar vantagem em favor da presidente sobre os principais oponentes nos dois turnos, sua popularidade, assim como a avaliação do governo, em patamares relativamente baixos, permitem imaginar a possibilidade de avanço das candidaturas oposicionistas.
A um mês do início do período de propaganda eleitoral na televisão, os 45 dias verdadeiramente decisivos de nossos pleitos, e com razoável contingente de eleitores ainda indecisos ou indicando a opção pelo voto em branco ou nulo, a pergunta que se coloca é: qual candidatura tende a se beneficiar mais com a campanha televisiva? Qual seria a tendência? Tenderia a candidatura governista a cair e uma das opções oposicionistas, a esta altura claramente favorável à continuidade da polarização PT x PSDB, isto é, em favor de Aécio Neves, subir? Ou a enorme vantagem de Dilma na distribuição de tempo de propaganda faria com que a probabilidade de reeleição voltasse a patamares de meados do ano passado, momento no qual tal resultado era visto como inexorável?
O primeiro e fundamental passo para respostas tentativas consiste em buscar as razões efetivas da queda de popularidade da presidente, bem como para o declínio na avaliação do desempenho governamental. Opções atraentes que surgem são: denúncias de má gestão e malversação de recursos envolvendo a Petrobras; desgaste junto ao eleitor da fórmula aliancista de governo, fórmula que acabaria por manter ou estimular o clientelismo e práticas atrasadas de gestão e do fazer político; excessivo paternalismo dos programas sociais e falta de competência no trato de problemas seculares como saúde e educação; excesso de ideologia na condução da política externa e a decorrente miopia para o verdadeiro interesse nacional. O problema de tais opções é que não trazem nenhuma novidade capaz de por si só ampliar o horizonte possível de votos da oposição. Em outras palavras, tais críticas, e aqui não entrando no mérito de sua consistência ou veracidade, são uma constante desde a reeleição de Lula em 2006, nunca impedindo, portanto, o projeto de continuidade do PT na Presidência.
Um segundo passo então emerge como mais promissor: o que seria efetivamente novo na conjuntura nacional que se descortina desde o fim do primeiro semestre em diante? A variável central é o nosso suspeito de sempre, o desempenho da economia, dessa vez, travestido na combinação de baixo crescimento e inflação. Irrelevante, para fins de análise de cenários, se tal desempenho deriva daquilo que o governo fez ou deixou de fazer, ou resulta da conduta pouco cooperativa do empresariado, seja em sua atitude diante da definição de preços (variável inflação), seja no que concerne suas decisões de (não) investimento (variável crescimento do PIB). O fato é que em um sistema capitalista, o comportamento dos empresários é componente explicativo fundamental daquilo que ocorre na economia e esta, no Brasil, longe esteve daquilo que o governo alardeou que faria e alcançaria.
Estaria então o cenário a indicar que a derrota do governo é inexorável? Depois do fato consumado, as análises quase sempre caem na tentação de mostrar como não seria possível qualquer outra solução senão aquela que de fato veio a ocorrer. A beleza do cenário brasileiro atual, contudo, é que nada diz que o governo deverá ser derrotado. Ao contrário, e como reiterado acima, as pesquisas de intenção de voto, salvo algum resultado a ser divulgado nos próximos dias, mostram vantagem consistente para o governo. A beleza do cenário brasileiro atual então consiste na possibilidade de vitória de um governo que deve pautar sua campanha quase que exclusivamente nos resultados de suas políticas de inclusão social. Temos algo de novo no ar?
Sim, há algo de novo no ar. Não se percebia, no contexto do segundo mandato de Lula, o quanto havia de potencialmente conflitivo naquele modelo de crescimento, baseado em políticas de inclusão social. A economia crescia, todos ganhavam. O contexto mudou. Agora, perdas terão de ser impostas no curto prazo para que ganhos sejam retomados em bases mais seguras e promissoras no futuro próximo. Quem pagará a conta? A imagética da guerra fria talvez tenha aqui sua explicação, sendo a polarização e radicalização, instrumentos na luta política de setores que se veem na iminência de contratar as bases de um capitalismo menos hierarquizado e mais inclusivo.
Fabiano Santos é cientista político, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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