- Blog do Noblat
Os guerreiros do “Tóis” aposentaram as suas lanças, os alemães destruíram sua reputação politicamente correta com uma “dança dos gaúchos” que ofendeu os argentinos, e os grandes estádios voltaram a exibir a sua imponência, vazios de público e de futebol.
Voltamos aos trilhos da vida normal, trilhos que ainda esperam a passagem do trem-bala que por enquanto liga nada ao nada e faz parte de 60% do pacote de obras que o governo não terminou (algumas nem começaram) e que deviam fazer parte do legado urbano da Copa.
Os estádios funcionaram, os aeroportos não foram a catástrofe que obriga as pessoas a relaxar e gozar e os estrangeiros se divertiram muito, a ponto de deixar como herança 85% de aprovação à Copa das Copas, registrados numa pesquisa Datafolha que o governo brande como símbolo da vitória contra os “urubus” (expressão presidencial) que previam o apocalipse logístico da Copa.
Na verdade, o apocalipse aconteceu onde menos se esperava, dentro do campo, com a família Scolari desmanchando-se taticamente e emocionalmente em lágrimas como crianças mimadas que tivessem sofrido bullying do valentão da escola.
O governo, esquecido que os “urubus” do #naovaitercopa eram radicais destemperados, mascarados e descerebrados criados à sua esquerda, ficou feliz com o prêmio de consolação da aprovação dos turistas (e afinal, quem sai de casa para ir a uma festa, que razões tem para desaprová-la se ela foi animada por gols, sol e cerveja?) e da nota 9,25 recebida da FIFA (feliz com seus cofres recheados).
A baba elástica e bovina que escorre nas redes sociais foi despejada em cima do que apelidaram de “viralatismo”, quando na verdade essa expressão é usada exatamente no sentido contrário do seu significado. Vira lata é o cachorro que abana o rabo para o dono, seja ele quem for. Não se conhece vira lata que tenha consciência crítica.
Terminada a Copa das Copas, um sucesso de espetáculo, uma catástrofe futebolística nacional, o inconsciente coletivo daquele que é o verdadeiro vira lata, está atrás de algum outro superlativo para colocar em cena em lugar da verdade, do bom senso e da razão.
Enquanto o crescimento rasteja, como tudo que precisa de um dopping ideológico para sobreviver, o verdadeiro vira lata abana o rabo para o banco dos bancos - aquele que, segundo eles, inaugura uma nova ordem econômica mundial.
O banco dos BRICS, um acrônimo de seis países emergentes criado, ironia das ironias, por um operador do mercado financeiro, vai catapultar a influência da China no mundo. Ela pode, porque esbanja poupança e vai integralizar 50% do capital inicial do banco, que é de 50 bi.
O Brasil, que vai entrar com 18% do capital, tem seu próprio banco de desenvolvimento, o BNDES, e já fez travessuras fiscais para manter algumas estranhas operações.
O único sentido dessa operação, até agora, é agitar de novo a torcida: agora “é tóis” no banco.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez e "Armênio Guedes, Sereno Guerreito da Liberdade"(editora Barcarolla).
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