• BC e Fazenda vão pisar no freio ao mesmo tempo, o que não ocorria desde 2011, com o país menos avariado
- Folha de S. Paulo
Não é lá gentil nem de bons modos chegar à casa das pessoas em um dia como hoje e dizer que há uma recessão encomendada para 2015. Mas é o que temos.
O ministério da Fazenda e o Banco Central planejam pisar simultaneamente nos freios econômicos, o que não ocorria desde 2011, quando o país não estava escangalhado tal como neste final de governo.
A recessão encomendada pode até não vir. Ainda que não venha, os resultados de 2015 devem ser fracos, outro ano de redução ou estagnação da renda per capita, do PIB médio por cabeça, desta vez com desgaste social maior.
Ontem, o Banco Central disse oficialmente que mudou de ideia quanto a lidar com a inflação mais de mansinho, que era o seu plano até três semanas, quando anunciara aumentos de juros "com parcimônia". No Relatório de Inflação deste trimestre, afirmou que vai fazer o "que for necessário para levar a inflação à meta no final de 2016". No final de novembro, como se sabe, o ministro da Fazenda de Dilma 2, Joaquim Levy, dissera que daria cabo de três anos de aumentos de gastos e dívidas. Não é por boniteza, mas por precisão, que a economia levará esse tranco premeditado.
Pioraram as estimativas de inflação apresentadas pelo BC no Relatório de Inflação deste dezembro. Mesmo assim, as projeções, sejam ou não baseadas em cenários estimados por economistas privados, parecem otimistas, a princípio. O dólar pode custar mais caro. Os reajustes de preços de serviços públicos devem ser maiores. Quanto maior a pressão de alta na inflação, em tese maior deveria ser a taxa de juros "básica" da economia, se tudo o mais continuar na mesma.
Por ora, economistas privados mais relevantes ou certeiros acreditam que a taxa básica, a Selic, vai dos atuais 11,75% ao ano para 12,50% no primeiro trimestre do ano que vem, o nível mais alto desde agosto de 2011.
Pode ser que nem "tudo o mais continue na mesma". Pode ser que a economia ande ainda mais devagar, o que pode conter preços e salários mais rapidamente. Mas pode haver tumultos financeiros mundiais. Está prevista uma temporada de tornados entre março e meados do ano que vem.
Pode até ser que, apesar dos maus bocados pelos quais passaremos no primeiro semestre, a ideia de que o país vá entrar nos trilhos reanime os ditos agentes econômicos, alguns de nós, empresários ou consumidores, com o que poderia haver reação no final do ano.
Tudo isso é chute informado, o que é possível fazer, dadas as informações e as técnicas disponíveis. Humores sociopolíticos nacionais podem fazer o vento mudar de direção. O mau humor agudo entre junho de 2013 e junho de 2014 degradou um ambiente que já não era bom, dadas as evidências de que a política econômica do governo dera com muitos burros n'água. Não há como saber o que os brasileiros faremos dos limões desse 2015 azedo. Não há, de resto, como prever se vai vingar a intenção de reformas mínimas de Dilma 2. Menos ainda como saber qual será o efeito da crise política que virá, combinada a mais um ano de estagnação.
Em 2002-2004, o país acabou virando o jogo. Que seja assim de novo. É um modestíssimo voto de ano bom. Mas é o que temos.
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