• Marina e Rede impõem condições para anunciar apoio a Aécio; aliança com Dilma é remota
Catarina Alencastro e Sérgio roxo – O Globo
BRASÍLIA E SÃO PAULO- Assediada pelo PT e pelo PSDB para dar seu apoio no segundo turno, Marina Silva impôs condições para embarcar na campanha do candidato do tucano Aécio Neves. Integrantes da Rede Sustentabilidade, partido que a candidata tentou criar ano passado, já preparam uma pauta que sustentará eventual apoio a Aécio. A incorporação do conceito de sustentabilidade na atividade econômica é o cerne da proposta da Rede e que não poderá ficar de fora de um acordo. Marina também quer o compromisso de defesa do fim da reeleição e mudança nos critérios que definem o tempo dos candidatos no horário eleitoral. Antes de declarar publicamente o apoio, Marina também deseja que o tucano aceite a meta de investir 10% do PIB em Educação, além da extensão do ensino em tempo integral.
Das propostas elencadas, a maior ia constado programa de governo de Aécio lançado semana passada. Hoje e amanhã, integrantes da Rede se reunirão para tratar do posicionamento que Marina adotará. Já o PSB, partido ao qual ela se filiou para, inicialmente, disputar como candidata a vice-presidente na chapa do ex-governador Eduardo Campos, morto em agosto em acidente aéreo, se reunirá amanhã para discutir o mesmo assunto. A ideia é que Marina anuncie sua decisão amanhã ou, no máximo, quinta-feira— É necessário que haja uma sinalização, o PSDB tem que sinalizar qual é a sua posição. Não do ponto de vista da busca do apoio, mas do seu compromisso. Nós temos propostas muito concretas, de reforma política, por exemplo — disse João Paulo Capobianco, um dos coordenadores da campanha do PSB, ao deixar a casa de Marina ontem à noite.
Marina ligou para Dilma e Aécio
Marina passou o dia em seu apartamento em São Paulo, reunida com aliados e dirigentes do PSB. Ao longo do dia, pessoas próximas a ela foram procuradas tanto por petistas como por tucanos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) também telefonou para pessoas ligadas à ex-senadora. Pela manhã, a ambientalista telefonou para a presidente Dilma Rousseff e Aécio. Na rápida conversa, disse esperar que os dois possam "enobrecer" a eleição neste segundo turno. Aliados dizem que, por conta do "massacre" que julgam ter sofrido da campanha de Dilma, um apoio de Marina à petista está descartado. Em entrevista domingo à noite, a terceira colocada na eleição deu declarações indicando que vai optar por Aécio. A incompatibilidade entre ela e Dilma também estaria presente na questão programática. Uma das pautas que formam a essência da Rede é a demarcação de terras indígenas. Há uma pressão dos ruralistas para que o Congresso Nacional passe a ter a prerrogativa de delimitar essas áreas. Na visão de indigenistas e ambientalistas, caso seja feita essa mudança, haveria um enfraquecimento dos índios, que ficariam à mercê de interesses dos parlamentares. A discussão está parada no governo.
Aliados não acreditam em neutralidade
Sergio Xavier, um dos principais aliados de Marina, declarou publicamente que defende o voto em Aécio. Ontem, ao deixar a casa da presidenciável derrotada, Neca Setubal, coordenadora do programa de governo do PSB, disse que as "conversas estão sendo feitas com as oposições".Mais cedo, o coordenador da campanha de Marina, Walter Feldman, afirmou que um apoio a Dilma seria "difícil".Os aliados de Marina também não enxergam condições para para que ela fique neutra, como fez em 2010. O cenário político atual exigiria uma tomada de posição. — O compromisso nosso é com o movimento de mudança — disse Capobianco. Ex-ministro do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, também sinalizou que aceitaria apoiar Aécio no segundo turno da eleição presidencial. Questionado sobre a possibilidade de o partido se aliar ao tucano, o dirigente da legenda a que pertence Marina afirmou: — Às vezes, o reacionário serve de avanço. Internamente, Amaral era visto como um dos mais refratários à aliança com Aécio.
O presidente do partido defendeu, porém, a aliança tática para o segundo turno. — O fundamental é estar envolvido num processo de crescimento, de avanço — disse Amaral, em São Paulo. A Executiva do PSB vai se reunir amanhã em Brasília para definir uma posição no segundo turno. No dia seguinte, deverá haver outro encontro com os demais partidos da aliança. — Minha função é unir o partido — afirmou Amaral. Os diretórios do PSB da Paraíba e do Amapá teriam problemas para apoiar Aécio porque são aliados do PT . Na Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB) disputa o segundo turno contra o tucano Cassio Cunha Lima. Já o vice-governador eleito de São Paulo, Márcio França, propôs que, só depois de Marina definir a sua posição, o PSB decida. Caso a candidata fique neutra, ele acha que o partido deve liberar os seus diretórios para apoiar quem quiserem :— Não vamos fazer um estardalhaço se não for valer a pena — disse França.
Projeção mostra empate
Aécio Neves e Dilma Rousseff estariam em empate técnico, com uma pequena preferência do eleitorado ao tucano, segundo projeção do pesquisador Geraldo Tadeu Monteiro, que fez um levantamento a partir da última pesquisa Datafolha. O cálculo é baseado na projeção de migração de eleitores que tiveram seus candidatos derrotados. Entre os marineiros, 59% devem escolher Aécio e 24%, Dilma. Com dados de todos os candidatos vencidos, o pesquisador concluiu que Aécio deve conseguir 50,48% dos votos e Dilma, 49,52%.
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