• Partido faz ajuste de contas depois do segundo turno
- Valor Econômico
O PT tem um ajuste de contas marcado para depois da eleição. O acerto já é sinalizado nos bastidores, mas está contido por causa da disputa do segundo turno contra o PSDB. Alguns dirigentes já pedem a cabeça do presidente da seção paulista, Emídio Souza, diante do "tsunami" que varreu o PT em São Paulo, algo que estava precificado desde a convenção que sacramentou a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, mas nunca na extensão do que mostraram as urnas de 5 de outubro.
O partido já decidiu reforçar a campanha da presidente em São Paulo, mas é fato também que ainda está perdido sobre as razões do desastre. A explicação mais comum é que o antipetismo de São Paulo está na origem da debacle. Mas o antipetismo não é de agora e o PT já há algum tempo mantém bons desempenhos no Estado. Outro motivo apontado: o mensalão, enfim, teve efeito sobre o eleitorado, após o julgamento, a condenação e a prisão de antigos influentes dirigentes do PT, todos de São Paulo. A política econômica do governo, deixando a inflação rodar no limite da meta, também é responsabilizada - mas a política econômica é a mesma para os 15 Estados em que Dilma venceu.
Culpa-se também a decisão de Lula de escolher postes para disputar as eleições. A rejeição a Dilma está alta em São Paulo desde as manifestações de junho de 2013, assim como a aprovação do prefeito Fernando Haddad, outra invenção, como fora Dilma, do ex-presidente, em 2012. Lula tentou a mesma fórmula agora em 2014, com a candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha. Não apenas não deu certo, como o PT retroagiu ao desempenho que tinha nos anos 80 até fins dos 90. A ministra Marta Suplicy (Cultura), mesmo para perder, teria desempenho muito melhor.
Com 18% dos votos de São Paulo, o desempenho de Padilha só foi melhor que os de Lula, em 1982, e Plínio de Arruda Sampaio, Eduardo Suplicy e José Dirceu, nos primórdios do PT. Em 1998 Marta já chegou em terceiro e ajudou Mário Covas a vencer Paulo Maluf em disputa de segundo turno, muito embora o então poderoso José Dirceu dissesse que o PT iria bater Covas "nas urnas e nas ruas". A questão moral foi imperativa na decisão de Marta. Em 2002, o deputado José Genoino foi para o segundo turno com Geraldo Alckmin (PSDB). Em 2006, Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, bateu na trave e não foi para o segundo turno por pequena margem de votos.
O "tsunami" - a expressão está sendo empregada no PT - varreu quase a metade da bancada federal do PT eleita por São Paulo. Entre os derrotados havia um deputado que presidiu a Comissão de Educação da Câmara, Newton Lima, amigos de Lula como Devanir Ribeiro, e um ex-líder do PT e do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza. A pancada foi maior que em 2006, a primeira eleição após a denúncia do mensalão, que tirou da Câmara os deputados eleitos pelo voto de opinião, como Luiz Eduardo Greenhalgh. O único "deputado de opinião" que conseguiu voltar, naquele ano, foi o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo
Houve também uma quebra de quase 50% da bancada do PT na Assembleia Legislativa. Mas a suprema humilhação dos petistas foi assistir o senador Eduardo Suplicy perder na proporção de dois votos para o arquirrival José Serra, que pela lógica da polarização acabou se transformando na encarnação do antipetismo local e nacional. Foi pior até do que assistir o PSDB reeleger seus caciques como o próprio Serra, que vagava por um certo ostracismo, o governador Geraldo Alckmin, e mandar o senador Aloysio Nunes Ferreira para o segundo turno, como vice de Aécio Neves. Sem falar do resgaste de tucanos de outros Estados, como Tasso Jereissati, eleito senador pelo Estado do Ceará.
Na reta final, a campanha de Dilma e o PT traçaram metas para a disputa do primeiro turno, em São Paulo. A presidente deveria sair do patamar de 25%, em que se encontrava, para 30%. Isso talvez pudesse levar a eleição a ser encerrada no primeiro turno. Padilha já era considerado um caso perdido, e no fim da eleição do PT já se dava por satisfeito se ele ficasse perto dos 20%. Não deu. No comitê de Dilma e entre os mais próximos da presidente atribui-se o desastre paulista a Luiz Marinho, coordenador da campanha da presidente em São Paulo. Fala-se que ele estaria mais preocupado com a própria eleição, em 2018. Mas a crítica aponta um dedo para Lula, amigo do prefeito de São Bernardo do Campo.
Entre os lulistas considera-se uma "injustiça" responsabilizar Lula pelo fracasso, pois ele se dedicou integralmente à campanha, às custas de sacrifício pessoal. Mas o fato é que Lula e o PT de São Paulo perderam, no momento em que exigiam mais poder e influência num eventual segundo mandato de Dilma. Há uma nova relação de forças no PT, que inclui o governador Jaques Wagner, que elegeu o próprio "poste" na Bahia, contra todos os prognósticos, e - sobretudo - Fernando Pimentel, que se elegeu governador contra o candidato de Aécio Neves em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país. O resultado final da eleição dará cores mais nítidas ao novo quem é quem do PT, com tudo o que cada um representa. São Paulo, por exemplo, quer um governo mais duro - inclusive em relação à imprensa -, mais vigiado pelo PT e com maior participação partidária.
A presidente Dilma tem acenado com mais rigor no combate à corrupção, em eventual segundo mandato. Poderia começar já, com o decreto de regulamentação da lei que permite a punição das empresas pilhadas em atos de corrupção, a menos que façam acordo para se salvar das multas, em troca da delação de quem foi corrompido. A lei está em vigência desde janeiro último, mas a Controladoria Geral da União, aparentemente, sente-se inibida a agir, enquanto não sair a regulamentação. Preparado por técnicos da CGU e da Casa Civil, o decreto está pronto para ser assinado, mas paralisado em uma gaveta do Palácio do Planalto. Segundo se informa, à espera do fim das eleições. Os principais doadores de campanha formam a clientela potencial da nova lei.
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