• Votos contrários vieram de 'independentes'; demais membros do conselho foram escolhidos pelo governo
• Minoritários foram surpreendidos com a escolha; currículos de novos diretores vieram incompletos
Raquel Landim, Samantha Lima - Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, RIO - Três membros do Conselho de Administração da Petrobras votaram nesta sexta-feira (6) contra a escolha de Aldemir Bendine para presidir a empresa. Ele teve seis votos a seu favor.
O racha no alto comando da estatal se deu em meio a mais grave crise vivida pela estatal, envolvida em denúncias de corrupção investigadas pela Operação Lava Jato.
Os votos contrários a Bendine, que até esta sexta-feira presidia o Banco do Brasil, vieram de Mauro Cunha e José Guimarães Monforte, que representam os acionistas minoritários da estatal, além de Silvio Sinedino, eleito pelos trabalhadores.
Eles declararam sua insatisfação com o processo de troca de comando da estatal conduzido pela presidente Dilma Rousseff depois que Graça Foster e todos os diretores renunciaram.
"É um episódio de desrespeito ao conselho. A União mais uma vez impõe sua vontade sobre os interesses da Petrobras, ignorando os apelos de investidores de longo prazo", disse Cunha, em nota.
Apenas esses três conselheiros são considerados independentes pelo mercado. Os demais foram escolhidos, direta ou indiretamente, pelo governo federal, que é o acionista majoritário.
Currículo incompleto
Segundo a Folha apurou, os conselheiros foram surpreendidos com a notícia da escolha de Bendine, que vieram a saber pela imprensa. Só foram informados oficialmente da escolha do novo presidente no meio da reunião realizada nesta sexta.
Os conselheiros então solicitaram que fossem distribuídos currículos dos postulantes aos cargos de presidente e diretores da maior estatal do país. Mesmo assim, os dados chegaram incompletos, segundo a Folha apurou.
Na reunião, os representantes do governo argumentaram que era preciso eleger uma nova diretoria rapidamente para não deixar a empresa acéfala.
A Petrobras não tinha sequer uma lista de possíveis nomes, porque o comitê de remuneração e sucessão da estatal não havia preparado.
O representante dos empregados, Silvio Sinedino, sugeriu que a diretoria da Petrobras fosse escolhida pelo governo numa lista tríplice apresentada pelos trabalhadores. A proposta não prosperou.
Os conselheiros dissidentes também estão preocupados com a escolha de Bendine, que, segundo eles, não conhece o setor de petróleo.
"O conselho de administração tem 10 membros, mas nós só tínhamos uma pessoa especialista em petróleo, que era a Graça. Agora não temos ninguém", disse um conselheiro, que pediu anonimato.
Havia uma expectativa no mercado de troca do atual conselho, mas não há sinais de que isso vá ocorrer em breve. Os outros sete membros do colegiado são: Guido Mantega e Miriam Belchior (ex-ministros); Marcio Zimmermann (secretário de Minas e Energia); Luciano Coutinho (presidente do BNDES), Francisco Roberto de Albuquerque (general da reserva) e Sérgio Quintella (vice-presidente da FGV); além de Graça Foster, que cedeu a vaga a Bendine.
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