• Opção por Bendine também tem como objetivo blindar o Planalto em CPI
• Presidente decidiu o sucessor de Graça sem ouvir ninguém, prática que vem se tornando cada vez mais comum
Natuza Nery, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Em uma decisão solitária, a presidente Dilma Rousseff nomeou nesta sexta-feira (6) Aldemir Bendine, 51, para o lugar de Graça Foster no comando da Petrobras. Ex-chefe do Banco do Brasil, o novo executivo assume a empresa na maior crise de sua história com o desafio de rever o plano de negócios da petroleira.
Segundo a Folha apurou, Bendine se dedicará a resolver os problemas de caixa e a apresentar, em curto prazo, números confiáveis relativos ao tamanho dos desvios derivados da corrupção.
A meta é considerada crucial para que o balanço da companhia possa, finalmente, ser auditado. Sem isso, a Petrobras perderá acesso a empréstimos e terá de ser socorrida pelo governo.
A indicação de Bendine, nome da estrita confiança da presidente, tem como objetivo adicional blindar minimamente o Planalto diante de uma CPI no Congresso.
Dilma tinha apenas dois dias para executar a substituição após a antiga diretoria se recusar a permanecer na companhia por mais tempo.
Apesar dos rumores de que a petista ainda buscava um nome na quinta (5), Bendine já estava confirmado no cargo desde o dia anterior.
Para evitar vazamentos à imprensa, algo que a tira do sério, pouquíssimas pessoas souberam da articulação.
Ela escolheu o sucessor da amiga Graça Foster sem ouvir ninguém, prática que vem se tornando cada vez mais comum à medida que as dificuldades do governo se aprofundam. Nem mesmo ministros próximos foram informados com antecedência, muito menos o ex-presidente Lula.
Além da confiança, Bendine assumiu a maior empresa do Brasil pela atuação bem sucedida à frente do Banco do Brasil. Sua indicação mantém intocada a influência do Planalto nas decisões da empresa e, ao mesmo tempo, amplia a interlocução da Petrobras junto ao mercado.
Bendine já demonstrou experiência em pegar uma instituição em apuros e reerguê-la. Foi assim no BB, sua casa desde os tempos de office-boy. A partir de 2009, quando assumiu, triplicou os ativos do banco. Foi alçado ao posto de presidente do BB para executar o plano do governo de reduzir os juros nos empréstimos e, assim, forçar bancos privados a fazer o mesmo.
Sua escolha fez as ações da Petrobras caírem quase 7%. Investidores esperavam solução nos moldes de Joaquim Levy, ministro da Fazenda sem proximidade política com Dilma, e leram a nomeação como sinal de que o governo continuará interferindo nas decisões da petroleira.
Críticos pontuam que a origem de desmandos administrativos nos últimos anos se deu justamente pelo grau de ingerência da presidente.
O exemplo mais evidente foi o controle do preço da gasolina, segurado a rédeas curtas para evitar contratempos políticos e impactos inflacionários no período eleitoral.
Bendine possui boas relações com o Bradesco --é próximo de seu presidente, Luiz Traduco. Na política, costuma frequentar o Instituto Lula.
Nos últimos meses, ele ganhou pontos junto à chefe ao liderar uma operação com bancos privados para salvar a Sete Brasil, empresa que toca a cadeia do pré-sal.
Muitas das empreiteiras acusadas de envolvimento no esquema de corrupção são parceiras da Sete. Para evitar o colapso da companhia, Dilma escalou Bendine para ajudar a destravar empréstimos.
A escolha da presidente pegou petistas de surpresa. "Ele não tem perfil para gerenciar uma crise dessa dimensão", disse um dirigente da cúpula da sigla. A oposição afirmou que o objetivo da indicação é blindar PT e governo das denúncias sobre a estatal.
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