Lula critica PT e diz que partido tem se tornado igual aos outros
• Nos 35 anos da sigla, ex-presidente afirma que petistas praticam vícios que sempre criticaram
• Dilma defende estatal e diz que quem errou tem de pagar, mas que é preciso preservar a história da legenda
Catia Seabra, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo
BELO HORIZONTE - Em um discurso para militantes no aniversário de 35 anos do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que o partido sofreu desgastes no governo, lamentou a repetição de desvios e disse que a sigla está se tornando igual a outras.
Lula esteve com a presidente Dilma Rousseff nas comemorações dos 35 anos do partido, em Belo Horizonte.
Segundo ele, o PT pratica vícios que sempre criticou na política tradicional. "É neste ambiente que alguns cometem desvios que nos envergonham. Precisamos dar um fim a essa situação", discursou, sem citar casos de corrupção, como a crise na Petrobras.
O ex-presidente lamentou que "o PT tem se tornado cada vez mais um partido igual aos outros". "Cada vez mais deixando de ser um partido de base para se transformar num partido de gabinete."
Segundo Lula, muitos petistas "estão mais preocupados em se manter nos cargos. E essa é a origem dos vícios da militância paga".
Ele comparou a adoção de medidas amargas na economia ao tratamento contra o câncer a que ele e Dilma foram submetidos. Para justificar, disse que os dois são obrigados a tomar medidas que não querem. "Faça o que tiver que fazer. Faça, Dilma. Um erro desastroso nosso seria não atender ao povo brasileiro."
Lula disse que ficou tão indignado com a "condução coercitiva" do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para depor à Polícia Federal, que preferiu ler seu discurso.
"Eles estão repetindo o mesmo ritual que começou em 2005, quando começaram as denúncias que eles chamaram de mensalão", afirmou, acrescentando: "na campanha, Dilma foi vítima disso como poucas vezes vi ser".
Lula também criticou a atuação da imprensa. "Eles trabalham com a convicção de que é preciso criminalizar o partido, não importa se é verdade ou não é verdade. O que importa é a construção da narrativa".
Após chamar o ex-presidente FHC de "príncipe da sociologia", Lula disse que a oposição não tem autoridade para atacar o governo. "Não se incomodam do prejuízo que causaram à Petrobras e ao Brasil. Eles vão prestar contas à história".
Ao discursar, Dilma defendeu a Petrobras e, sem citar nomes, disse que quem errou tem que pagar, mas que é preciso preservar a história do PT. "Se tiver erro, aqueles que erraram paguem por eles. Mas devemos preservar a história deste partido e dos nossos governos."
A presidente não fez menção ao tesoureiro do PT. Ele estava presente no evento.
A petista disse que o partido tem que ter orgulho e não pode aceitar que "alguns" coloquem a Petrobras como "vergonha". Afirmou ainda repudiar a "tentativa de golpe contra a manifesta vontade popular", em recado a quem prega que ela seja alvo de processo de impeachment.
Ela defendeu apuração das irregularidades: "É fundamental que não deixemos repetir nenhuma irregularidade dentro da Petrobras".
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